"Medroso".
Essa foi a minha resposta. Também foi a última coisa que eu falamos um com o outro durante aquela semana. Sabe aquele momento que você acha que errou em alguma coisa? Aquela hora que você acha que estragou com toda uma amizade? Aquele beijo não deveria ter acontecido. Por que eu o beijei? Mas espera, ele quem me puxou. Por que ele não mandava nada? Se eu mandasse resolveria? Talvez ele só estivesse ocupado, claro, quem era eu no tanto de coisas que aquele homem tinha que resolver.
Saco!
Tomei um banho, pensando naquela noite. Deitei. Mandei mensagem para meus amigos para saber onde seria a virada. Nada. A minha mente insistia em saber onde ele estava, se estava bem, com quem estava, onde ele passaria a virada, por que não conversou que fosse comigo, nem que fosse só para me dizer que aquilo era um erro. Eu precisava saber o que havia de errado.
18 horas. Luiz bateu na minha porta, deu um beijo na minha mãe que o acertou com o pano e me obrigou a sair da cama e ir com eles para a orla. Tudo que eu queria era virar o ano deitado e o que o infeliz fez? Me tirou de lá a força (fazendo cócegas e dando tapa na testa) e fomos nos juntar com a rapaziada.
Era onze horas e a galera já estava um tanto alta. Um tanto, não... alguns ali não iam nem ver os fogos, eu já imaginava. Eu não estava muito na vibe de beber para cair e me mantive na latinha de cerveja que estava quase dando dengue. Só queria que desse meia noite para poder cair na água e tentar refrescar a cabeça, pensar que meu ano seria diferente e parar de pensar naquela perturbação que aquele maldito do Rafael me causava.
E novamente voltava a ele. Por que aquele desgraçado queria foder com minha cabeça? Qual a necessidade de me dizer aquelas coisas, me usar e depois sumir? Que inferno que minha cabeça tinha que ficar pensando nele? Tanta gente no mundo, por que eu tinha que ficar de quatro logo pra ele? Que inferno? Vocês que dizem que as coisas do coração são lindas, vão pra casa do...
-Ei Gui, chega mais. A gente vai dar um rolê nas pedras antes de começarem os fogos. Bora lá.
-Ah vei, eu to morto pra ir lá e voltar. Me deixa quieto aqui Luiz. Sei nem se eu tô com ânimo pra esperar virar a noite.
-Pow mano, que que tá pegando? Desde cedo você tá caído.
-Foi nada vei, só tô quebrado mesmo.
-Tu sabe que pode conversar se quiser, né?
-Tá de boa mesmo, vai lá curtir.
-Beleza. Fica esperto pra não se perder e me liga qualquer coisa.
-Vai transar logo, desgraça. -comecei a rir.
-Filho da mãe.
Eu admirava o jeito que meu amigo levava a vida, sem pressão, sem questionamentos, sem tanto drama. Era leve, calmo fazia bem. Com certeza era por isso que eu admirava tanto o Luiz. Ele conseguia ser alguém que eu não seria nunca com todas essas crises e doideiras que pensava. Caminhei um pouco no calçadão aproveitando a brisa que as correntes de ar traziam e comecei a observar as pessoas. Primeiro de tudo é que tinha muita gente branca, mas o que me deixava intrigado era a quantidade de gente de branco. Bom, quem sou eu para falar que era errado. Eu estava com minha blusa regata amarela e meu calção jeans preto, que era o único conjunto que eu tinha para combinar. Se ele não me desse sorte hoje, eu continuaria na merda, mas isso tirava de letra.
As pessoas pareciam alegres. Mas não pareciam felizes. Sabe aquela sensação de que aqueles sorrisos eram momentâneos? Era muito estranho e aquilo me deixava meio desconfortável. Peguei meus chinelos e comecei a caminhar na direção do mar, sentindo a aspereza da areia entre meus dedos, pode parecer estranho, mas eu estava me sentindo vivo com aquilo. O vento soprava mais forte, podia sentir que as gotículas de água e sal também chocavam contra minha pele. Era uma delícia. As águas engoliram meus pés, o calor deu lugar ao frescor, eu parecia estar em casa. Meu sorriso era verdadeiro agora.
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Rascunho (Romance Gay)
Dragoste-Eu notei que você é bastante religioso e como eu não sou tanto... -riu- Minha avó era católica e eu fui o único neto que ela conheceu, meus outros primos nem são daqui do estado. Aí, ela me presenteou com isso aqui. Ele abriu e era um cordão com u...