i. fire

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As contas da casa começaram a irritar Kia, e Taehyung saiu para trabalhar logo de manhã, sem paciência para os gritos matinais da sua não-tão-mãe. Yoongi ficou deitado, olhando para o teto e pensando no que fazer a seguir para ajudar o irmão (já que costumava trabalhar no período noturno). Soube que Tae estava usando o corpo para vender drogas, e sentiu-se injustiçado pela promessa que fizeram aos quatorze.

Foi o dia em viu seu irmão chorar pela primeira e última vez.

Sentados no cantinho do quarto escuro frente a frente, escondidos da mãe- que não se comportava como uma e que apanhava em algum lugar da casa, Tae olhou para o irmão mais novo e disse:

— Você nunca vai deixar o que acontece com a mãe acontecer com você. - Proferiu. Naquele tempo, ele considerava Kia uma figura maternal, mas ele era só uma criança inocente. Ela os tratava como indigentes. Os olhos estavam encharcados, porque ele chorava com mais facilidade. - Me promete que nunca vai entregar o seu corpo a um homem ou mulher por dinheiro, nunca vai deixar ninguém te tocar sem você querer ser tocado.

O teor da conversa certamente não era infantil. Yoongi, com doze, assentiu, embora tivesse um entendimento menor do que o irmão sobre o assunto.

Hoje, aquele Taehyung de quatorze anos pouco aparecia. Estava na fase da revolta, sempre tentando não ficar chapado, falhava muitas vezes por causa de Kia e tentava não aparecer em casa o dia todo. Sem falar que a promessa que fizeram não era mútua, porque se fosse, Tae não estaria descumprindo sua parte.

Yoongi nunca deu o corpo a ninguém. O strip tease não era total, e assim que as luzes apagavam, ele se vestia e saía do palco rapidamente, apático como sempre. Naquele dia de reflexão, entretanto, ponderou aceitar fazer sua primeira scene nu. O dinheiro seria muito maior, e talvez pudessem quitar os débitos e fazer uma ceia bem bonita, como as dos filmes. Era seu único sonho colorido, uma ceia de natal farta e sóbria.




Kia fez os ovos mexidos pro almoço enquanto fumava a maconha sagrada do dia. O arroz acabou no dia anterior, então ela só descongelou o último pote de feijão para que pudessem comer decentemente. Não chamou Yoongi e nem soube que o menino estava no andar de cima. Esperava vê-lo chegar da rua, mas se surpreendeu quando o viu descer as escadas de pijama.

— Oi. - Ele falou baixo, sem realmente querer dizer algo.

Yoongi sempre foi um pouco insensível com a maioria das situações e raramente se comovia, então Kia não se interessava em agradá-lo, nem quando exigia que ele limpasse algo ou pagasse alguma conta urgente. Ainda assim, havia uma espécie esquisita de ligação entre eles, e por isso raramente brigavam. E raramente conversavam.

Kia e Tae era outra conversa. Viviam aos gritos ou aos risos. Chapados, lógico. Sóbrios se ignoravam.

— Não foi trabalhar hoje?

Yoon engoliu a água gelada, encarando os ovos mexidos antes de comê-los. Sem sal, ele apostava.

— Não trabalho quinta cedo.

Colocou uma colher só de feijão no prato, sabendo que Tae ia chegar esfomeado.

— E daí? Deixa comida pro Takumi, ele vem comer hoje.

— Claro que vem. - Ele revirou os olhos. Não explicou mais uma quinta-feira que quintas eram seus dias da semana de folga da loja de artefatos, e nem contestou a vinda daquele sanguessuga outra vez. Yoongi vivia tendo que emprestar dinheiro pra ele pra não ver sua mãe bebendo, porque ela já se entupia de cocaína e maconha o suficiente.

Sick love ◈ myg+pjm {slow updates}Onde histórias criam vida. Descubra agora