ii. papai

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O saco com meio quilo de raviolli caiu em cima de seu tênis surrado, e o refrigerante rolou pela calçada até ser pego por um rapaz moreno. Seu coração batia forte, gritando que só se acalmaria se aquela visão fosse embora. Seus olhos escuros e brilhantes pareceram tremer debaixo da pupila, e todo o suor seco da caminhada pareceu ficar úmido novamente, escorrendo, derretendo. Piscou algumas vezes, pensando estar na frente da casa errada.

— Ei! - Alguém falou com ele. Yoongi andou na direção da casa, e parou poucos metros da porta da frente pois não podia avançar mais do que aquilo. Tudo estava destruído. O fogo já havia engolido por completo o lugar onde morou toda a vida. Yoon não se deu o trabalho de olhar quem ainda falava com ele ou quem estava ao seu redor, apenas encarou o fogo desacreditado. Não havia nada em sua cabeça, exceto o rosto de Taehyung. O de Kia não, pois sabia que a causadora daquilo fora provavelmente ela.

As lágrimas começaram lentas, mas em poucos segundos, o choro se tornou grosso, e finalmente as mãos cobriram o rosto para que pudesse chorar e soluçar sem que ninguém visse o ato diretamente. O tumulto de gente acabou por ser ignorado, e ele quase ajoelhou ali mesmo, não fosse alguém segurá-lo e abraçá-lo com força.

Não levantou a cabeça, não quis saber quem era e muito menos corresponder o abraço, mas não se mexeu. Deixou-se ser acolhido, mesmo ciente de que aquilo não ia afogar a sua dor. O homem que acariciava sua cabeça pediu calma, e depois falou baixo, só para que ele escutasse:

— Kia morreu, meu filho. Taehyung foi salvo, venha comigo.

Yoongi não se importou que a pessoa o guiando era seu pai, só queria ver Taehyung. Por mais que Hiza fosse o culpado por todos os acontecimentos ruins em suas vidas, ele não protestou, pois o mesmo homem que o apresentou à vida de merda, seria quem o encaminharia até sua única família. Seu irmão.




Viu Tae chorando. Uma coberta vermelha descansava em seus ombros e um rapaz moreno de olhos escuros tentava conversar com ele, abaixado ao seu lado. Taehyung estava sentado no chão de uma ambulância com as pernas para fora, e os bombeiros pareciam ter acabado de chegar. Nada, porém, tinha sua atenção. Seu irmão estava machucado, com um olho roxo, o maxilar levemente torto e os olhos encharcados de dor. Ele não se opunha a falar com o homem de olhos escuros que tentava consolá-lo, e Yoongi logo entendeu que provavelmente aquele rapaz estava envolvido no seu salvamento.

— Taehyung! - Disse alto, já perto do castanho claro. Seu irmão levantou a cabeça, e o moço que o olhava atenciosamente foi ignorado. Agarrou-se à coberta e seguiu até o irmão mais velho lentamente. O choro, a cada passo, aumentando. Hiza ficou emocionado com aquela imagem, e chorou ainda mais quando Tae abraçou o irmão, mas estendeu um braço para ele, para que segurasse sua mão. Hiza sempre foi uma manteiga derretida.

Os dois choraram por quase dois minutos, e por dois minutos teve sua mão presa na de seu filho mais novo.

— Tae, você precisa ir ao hospital. - Hiza acabou por dizer quando eles se soltaram. Quis respeitar a dor deles pela mãe e pelo que aconteceu com Taehyung e com a casa, mas não havia forma de deixá-lo sangrando e tão machucado.

Yoongi, então, finalmente teve a visão de quantas pessoas estavam ali, observando sua ruína e sentindo pena deles. Eram muitas. Vizinhos, polícia, bombeiros, desconhecidos. Perto deles, atrás de seu pai, haviam alguns rapazes e uma garota. Dentre eles estava o moreno que ajudara Tae. Taehyung o olhava diferente, e sempre que o fazia, parecia agradecer com a própria vida.

Yoon imaginava que era isso que tinha acontecido. O cara tinha salvo seu irmão da morte.

E imaginava também que pelo estado físico de Taehyung, o responsável por aqueles hematomas fora Takumi, quem eles nem sabiam o sobrenome.

Sick love ◈ myg+pjm {slow updates}Onde histórias criam vida. Descubra agora