XV

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    Molly seguiu para encontrar com John assim que os pais das crianças das quais cuidava chegaram na casa. Definiu o apartamento em que Harry morava como o ponto de encontro, aproveitando o fato da tal Janine Hawkins morar a algumas quadras de distância.

Ambos também concordaram que seria uma boa ideia levar Harriet consigo, no caso de alguma coisa ser mais intensa do que esperavam. Ela era mais velha e, inegavelmente, mais esperta que os dois. Quem sabe, conseguiria até tirar mais informações da garota!

John pediu para sair mais cedo de seu turno na cafeteria, o que foi prontamente aceito. Ele sempre era solicito a ficar até mais tarde ou chegar mais cedo, dando-lhe crédito suficiente para algumas escapadas vez ou outra.
Sendo assim, chegou até o apartamento da irmã rapidamente.

- Você e a Molly tinham que arrumar algo para estragar meu plano de ficar em casa o dia inteiro? – Harry disse assim que atendeu a porta.
- Queremos que você aproveite seu dia de folga da melhor maneira. – John debochou, rindo ao final e adentrando o apartamento. – Molly está quase chegando.
A irmã fechou a porta e voltou para o sofá, literalmente jogando o próprio corpo nele.
- O que você acha de toda essa história? – o loiro se sentou ao lado da mais velha, a observando com atenção.

 Ele sabia da raiva que a garota adquirira de Sherlock por conta o término, então, suspeitava de que ela dificilmente o veria como vítima na situação. Isso até o chateava, porém, era uma atitude típica da irmã. Sua superproteção e personalidade forte a guiavam.
- Olha... Desde que a Molly veio com a história de "investigar" o Sherlock, eu achei estranho. Sinceramente eu esperava nunca mais olhar na cara dele. – ela levou uma das mãos aos cabelos, bagunçando-os. – Mas se vocês ainda suspeitam de algo, não tem motivo para não investigar. Pelo menos conseguirão saber o que está acontecendo de verdade.

 John apenas concordou com a cabeça. Para si próprio, ele tinha praticamente certeza de tudo o que acontecia. Todavia, concordava com os amigos de que provas eram necessárias.
- Agora eu não sei se desejo que Sherlock esteja em apuros, pra que eu deixe de odiá-lo por ter terminado com você ou... Se desejo que ele esteja bem, apesar de ter sido um bastardo. – Harry adicionou rindo, dando um leve tapa no ombro do irmão.
Ele balançou a cabeça reprovando o comentário, entretanto não segurou a risada. Só Harriet conseguiria encontrar humor em uma situação tão incerta.


 Uma mensagem de Molly chegou ao celular da Watson mais velha, avisando que estava próxima. Para agilizar as coisas, os irmãos decidiram encontra-la em frente ao prédio, para que fossem diretamente a casa de Janine Hawkins.
Assim foi feito, sendo que o trajeto fora curto e tranquilo. O cenário alterou-se quando estavam diante de seu destino.

 - O que vamos falar? Simplesmente perguntar se ela tem conexão com o professor Moriarty? – Molly esfregava suas duas mãos, visivelmente ansiosa.
- Acho que seria melhor sondarmos, nada muito direto. – Harry comentou enquanto analisava a porta da casa e as janelas fechadas.
John não disse coisa alguma, apenas esticou o braço para tocar a campainha. As duas garotas o olharam apreensivas.
- O que foi? Não podemos perder mais tempo. – ele deu de ombros.
As acompanhantes concordaram. Já haviam perdido tempo demais com todo aquele assunto...

Talvez o encontro com Janine fosse capaz de definir o que estava acontecendo. Pelo menos essa era a sensação que Watson mais novo tinha.
Não demorou para que o barulho na fechadura denunciasse que seriam recepcionados. Foi um alívio encontrarem uma garota com semblante tranquilo e belos traços.
- Boa tarde! Janine Hawkins? – Harry já disse com um sorriso, se colocando mais a frente.
No mesmo instante Molly revirou os olhos, percebendo que a empolgação da amiga era devido a atração instantânea pela dona da casa.
- Eu mesma. – ela sorriu de volta. – E vocês?
John também estranhou a simpatia da irmã e teve suposições parecidas com as de Hooper. Visando não alongar o encontro mais que o necessário, resolveu assumir o controle da conversa.

- Eu sou John Watson, essa é minha irmã Harry e nossa amiga Molly Hooper.
Ela concordou com a cabeça, olhando para cada um deles quando seus nomes foram apresentados.
- É um prazer conhece-los. Agora... No que eu poderia ajuda-los? – apesar de um sorriso, a expressão de dúvida estava presente.
- Bem, precisamos falar com você sobre um número de celular registrado em seu nome. – o loiro tentou ser objetivo, mas de uma maneira razoavelmente contida.
- Oh, sem problemas. Por favor, entrem. – a garota afastou-se um pouco da porta para deixa-los passar. – Querem alguma coisa? Água? Eu vou preparar um chá para mim, querem acompanhar?

Os três se surpreenderam com a gentileza da garota. Imaginavam encontrar alguém mais desconfiado e até mesmo hostil, afinal, não era todo dia que três pessoas batiam a porta querendo informações "pessoais".
Eles agradeceram o oferecimento, mas o negaram. Não tinham qualquer pretensão ali além de saber as respostas necessárias.
Janine guiou os convidados até uma pequena sala e foi rapidamente para a cozinha, colocar água para esquentar. Ao voltar, encontrou-lhes sentados no sofá.

- Qual seria o número? – ela disse assim que se sentou também.
Molly esticou o próprio celular, contendo o número em questão no visor.
- Olha, não é o meu número atual. – a expressão de Hawkins indicava que a garota forçava sua memória. – Eu não lembro de ter usado algum assim... Mas, há uns anos eu usei meus dados pra cadastrar uma linha pro meu ex-namorado.
Molly e John se entreolharam, imaginando que talvez James Moriarty pudesse ser esse ex-namorado. Felizmente, Harry compartilhou da ideia e foi rápida em perguntar.
- Qual seria o nome do seu ex?

- Gendry Williams. Ele está perturbando vocês? – uma ponta de preocupação surgiu na garota.
- Não, não. É que nós estávamos pensando em outra pessoa... – Hooper disse, um tanto desapontada.
Antes que Janine dissesse algo, a chaleira iniciou seu barulho, indicando que a água estava na temperatura necessária.
- Vocês têm certeza de que não querem chá? – ela falou mais alto, já da cozinha.
Harry deu de ombros e se levantou do sofá, indo de encontro a garota.
- Eu vou aceitar. – a loira usou seu tom mais polido, fazendo com que Molly revirasse os olhos outra vez.
Ela estava mesmo dando em cima da garota? Isso era absurdo e totalmente oposto ao objetivo da visita!

Enquanto Hooper se distraía odiando os interesses da amiga, John suspirava frustrado. Aquela pista parecia ser essencial, pois ele esperava conectar Moriarty facilmente ao número de celular e à Hawkins. Todavia não foi isso que aconteceu. Eles precisariam checar o ex-namorado de Janine, torcendo para que algo fosse conclusivo.
A decepção o deixou inquieto e uma centelha de esperança o dizia para buscar mais informações. Quem sabe aquela sala não teria algo útil?

E foi exatamente assim.

Uma parede, repleta de fotografias, fez todo o corpo de Watson se arrepiar. Uma única pessoa, presente em uma foto dentre as outras centenas, se destacou. Ele conhecia o homem que posava ao lado de Janine e não era de um lugar muito bom...

- Eu adorei sua casa, Janine. – Harry voltava com a anfitriã para a sala, carregando-a de elogios.
- Quem é esse? – John apontou para a foto em que estava vidrado, sem sequer se importar com a conversa galanteadora da irmã.
Janine se aproximou do garoto, olhando bem para a pessoa.
- Ah, esse é o meu ex! O Gendry. – ela falou naturalmente, mas aos poucos, foi tomando uma postura desconfiada. – Foi ele quem mandou vocês virem aqui? Por que se foi, eu definitivamente não quero mais conversa.
Ela segurou a xícara de chá em suas mãos com um pouco mais de força.

- Não se preocupe, por favor! Nós não temos ligação com ele. – Harriet afirmou, tocando nas costas da garota e a guiando para o sofá.
- Você o conhece, John? – Molly analisou o semblante assustado do garoto e foi até ele, segurando um de seus braços.
Hawkins voltou a se tranquilizar, acomodando-se ao lado da Watson mais velha. Entretanto, ainda mantinha a atenção no garoto. Harry, apesar de estar mais dedicada à Hawkins, observava o irmão com preocupação.

- Conheço... Ele era um dos caras do assalto. – disse, engolindo a seco. – Ele quem começou a me bater.
Por alguns segundos, Molly e Harry pareceram congelar.
Um medo inconsciente as arrepiou simplesmente por visualizar a violência que Watson mais novo havia sofrido. Na época do ocorrido já fora terrível, agora, relembrar tornava tão ruim quanto antes.
- Oh, então foi você? – Janine levantou quase que imediatamente, deixando sua xícara de chá sobre a mesa de centro. – Eu soube que Gendry havia sido preso por um assalto violento, mas... – a boca da garota abria e fechava diversas vezes, mostrando seu claro abalo. – Eu sinto muito. Sinto muito.

John apenas balançou a cabeça, indicando que estava tudo bem. De fato, o garoto já havia superado o episódio traumático, porém uma ideia ainda mais horripilante o invadia.
Molly foi até Janine, a fim de acalmá-la. Queria certificar de que não estavam ali por conta daquele incidente ou algo relacionado a Gendry, mas sim devido a mensagens recebidas do tal número citado enviadas a um amigo próximo.
Harry quase correu até o local das fotos, a fim de fitar bem o agressor de seu irmão. A esse ponto, qualquer outro interesse relacionado a Janine desapareceu. Ela apenas pensava em seu irmão e as conexões bizarras que estavam surgindo.

- Acham que o número de celular pode ser do Gendry? Ou de algum colega dele? – Janine perguntou a Molly, querendo ajudar ao máximo. – Eu posso fazer alguma coisa? Talvez tentar rastrear...
A fala de Janine despertou algo nos três convidados. Eles se viram obrigados a ignorar a dona da casa e encontrarem os olhares.
- Foi depois do assalto que Sherlock terminou comigo, no hospital... – ele disse em um quase sussurro.
Sua mente estava concentrada em encontrar alguma ligação entre Janine e Moriarty, logo uma hipótese foi formada. E como se tivesse o poder da telepatia, Molly compreendeu de imediato.
- Acha que esse Gendry conhece o Moriarty? – disse Hooper, com os olhos arregalados, voltando a se aproximar do amigo.
Se fosse verdade, não era uma boa notícia...

- Moriarty? – a voz de Hawkins atraiu os olhares dos três novamente. – Desculpe me intrometer, mas... Esse era o sobrenome de um grã-fino que vivia utilizando os "serviços" do Gendry. Nós sempre brigávamos porque sempre que ele se envolvia com esse cara, terminava na cadeia.
O loiro procurou se apoiar no móvel mais próximo, tendo sua respiração acelerada. Sua hipótese estava praticamente confirmada...
Ao ver o abalo do irmão, a mente de Harry começou a pensar.
- Oh meu deus! – Harry levou as duas mãos a cabeça, como se a mesma fosse explodir. – Esse bastardo contratou pessoas para fazerem aquilo com você?
O sangue dos três fervia, principalmente o da loira. Pensar em alguém com tamanha crueldade afetando seu irmão tirava sua sanidade.
- Eu vou matar esse cara. – Watson mais velha disse entredentes, fechando um dos punhos.

Molly, por sua vez, passou a andar em círculos pela sala de Janine. Ela cruzou seus braços, alisando-os compulsivamente.
- Isso tudo é muito pior do que nós imaginávamos. Muito pior. – disse quase que para si mesma.
- Eu não estou entendendo muito bem o que está acontecendo, mas seja o que for... Vocês devem ter cuidado! – Janine atentou, voltando para o sofá. Após um gole de chá, adicionou. - O Gendry se metia com pessoas bem ruins e perdia a noção do que estava fazendo quando tinha dinheiro grande envolvido. Esse foi um dos motivos para eu me afastar de vez, apesar de gostar muito dele.

John ouvia as palavras como se estivessem a quilômetros de distância, quase incompreensíveis. Ele apenas relembrava o comportamento do ex-namorado quando o viu na cama do hospital, de seu desespero, sua raiva... Tudo fazia sentido agora!
O doente professor deve ter utilizado a violência como forma de afastar Sherlock de Watson, ameaçando sua segurança.
- Acho melhor nós irmos embora. – Hooper concluiu, observando a desestrutura dos irmãos Watson.
- Eu sinto muito, mesmo. Vou torcer para que fiquem bem. – Janine levantou-se mais uma vez, agora para guia-los até a porta.

Molly seguiu até John, colocando uma mão sobre seu ombro e o conduzindo consigo. Aproveitou a mão livre para fazer o mesmo com Harry. John parou antes de chegarem a porta, virando-se para olhar a anfitriã.
- Obrigado, Janine. Desculpe por tudo isso, você ajudou demais. – ele suspirou, compreendendo aquele momento como um inesperado despertar do transe no qual entrara.
- Não precisa agradecer. Aliás, se precisarem de algo mais...
- Você poderia dar o nome completo do Gendry? Isso pode ser útil. – Molly pediu, estendendo seu celular para que a garota digitasse a informação no bloco de notas.
Hawkins concordou e prontamente pegou o aparelho, devolvendo pouco depois.
- Coloquei meu número atual aí também. Podem ligar a qualquer momento. – Janine abriu a porta e os observou saindo. – Boa sorte.
- Obrigada. – Harry murmurou, ainda com o semblante pesado.
A loira tinha sua mente dividida em duas partes. Uma estava irritada pelo acontecido com o irmão, com toda a trama em que esteve inserido. E a outra, arrependida por ter julgado Sherlock tão mal. O garoto devia estrar sofrendo nas mãos do tal Moriarty!


 Os três andaram por algumas quadras sem proferir palavras. Tentavam digerir as informações obtidas na visita à Janine, pensar na melhor estratégia para ajudar Sherlock e fazer com que o professor pagasse.
- Nós temos que ir lá agora, temos que falar com o Sherlock, acabar com o Moriarty... – as palavras saíram da boca de John aceleradas, tirando-lhe o fôlego.
- Eu concordo. Vamos agora! – Harry se colocou a frente, já caminhando.
- Ei, não! – Molly gritou, fazendo a loira parar. Deu alguns passos até ela, sendo seguida por John.
- Não o que, Molly? – o cenho franzido do Watson mais novo demonstrava o estranhamento. – Nós temos que fazer alguma coisa! Se Moriarty foi capaz de mandar me espancarem, nem posso imaginar...

O garoto não conseguiu terminar a frase. Lágrimas invadiram seus olhos e se esparramaram pelo rosto. Aquele era o pior cenário! Ele não podia imaginar toda a dor que o cacheado enfrentava.
- Nós temos que fazer alguma coisa! – ele repetiu em meio a soluços, com o rosto totalmente vermelho.
Harry e Molly sentiram seus olhos marejarem e se juntaram ao loiro para um abraço. A demonstração de afeto fez com que mais lágrimas viessem, dos três. Eles entendiam a gravidade, queriam ajudar Sherlock acima de tudo.

Ao desfazer o abraço, Hooper passou as mãos pelo próprio rosto, recompondo-se.
- Eu sei que é difícil, mas temos que ter paciência. – ela buscou uma mão de cada um dos Watson. - Moriarty é definitivamente uma pessoa perigosa e se fizermos algo de qualquer jeito, podemos até piorar as coisas pro Sherlock. Vocês entendem, não é?
Um longo silêncio se seguiu, deixando claro que as palavras tiveram efeito nos dois irmãos.
- Apesar de eu querer arrebentar esse tal Moriarty, a Molly tá certa... – Harry foi a primeira a ceder, olhando com atenção para o loiro.
Ele fechou os olhos com força e jogou a cabeça levemente para trás. Não era fácil ficar parado ao saber de tudo aquilo, mas a possibilidade de piorar o cenário era ainda mais aterrorizante.
Após segundos de apreensão, John concordou com a cabeça e voltou a olhar para as garotas.
- Nós faremos de tudo para acabar com ele. Tudo. – os olhos vermelhos transmitiam a firmeza do objetivo. 


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Oie!
Não costumo fazer muitos comentários por aqui (faço isso mais lá no Spirit), masss gostaria de pedir desculpas pela demora na atualização!
Minha rotina mudou bastante nesses últimos tempos e tende a mudar ainda mais. De qualquer forma, são mudanças positivas e que só exigem uma melhor organização da minha parte. Hahaha Juro que vou tentar ao máximo fazer isso, porque quero demais finalizar essa fic.
E também queria garantir a vocês que ela vai ser levada até o final, custe o que custar. <3 <3

Ah, e pra finalizar, muuuuuito obrigada pelos comentários! Sempre postei aqui no Wattpad apenas visando guardar a história em outra plataforma, então é maravilhoso saber que pessoas estão lendo por aqui e gostando do enredo. Obrigada mesmo!

Don't Go AwayOnde histórias criam vida. Descubra agora