23 | Blue Christmas

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I'll have a blue Christmas without you. Decorations of red on a green Christmas tree won't be same, dear, if you're not here with me.

Elvis Presley—Blue Christmas.

POV Alexandra

O Natal é uma das minhas épocas favoritas do ano. Como você deve imaginar, não é por causa do espírito natalino, crenças religiosas ou pela comida: é pelos presentes. Pelo menos eu admito—a maioria das pessoas que eu conheço passam o ano inteiro brigando com a própria família, odiando todo mundo, sendo miseráveis e aí elas fingem que são as pessoas mais felizes, religiosas e amorosas por um dia no ano, e falam que "o melhor presente que se pode ganhar é a família."

Podem não aprovar meus métodos ou minha metodologia, mas ninguém nunca vai poder dizer que eu não sou sincera.

Mas a despeito do que muitas pessoas podem pensar, eu também gosto de um aspecto não material do Natal: passar essa época com o meu irmão. Ao contrário dos hipócritas espalhados pelo mundo e dos corações-gelados como eu, meu irmão gosta de verdade do que ele chama de "espírito natalino".

Eu nunca vou entender como duas pessoas criadas na mesma família e no mesmo ambiente, cresceram tão diferentes em tantos âmbitos, principalmente nesse.

Acho que o Arthur sempre gostou do Natal porque era um momento de escape, quando ele podia fingir que as coisas estavam bem. Meus pais tinham vários problemas—eles eram um casal apaixonado quando se conheceram, mas não pensaram direito nas coisas antes de ir juntando as escovas de dentes e procriar, e só depois eles perceberam que não se suportavam; que o único jeito no qual eles funcionavam era à distância.

Então não é preciso dizer que presenciamos várias brigas entre eles, ou que passamos parte do nosso tempo longe deles. Mas no Natal todo mundo se reunia e eles se forçavam a criar o dia perfeito, talvez para tentar manter a ilusão de que tudo ia acabar bem—e funcionava com o Arthur, mas não comigo.

Desde que nós dois éramos muito pequenos, ele é apaixonado pelo Natal. Apaixonado mesmo, daquele tipo de criança que separa biscoitos e leite para o Papai Noel, que escreve cartinhas, que usa pijamas com estampas de Natal durante todo o mês de dezembro, que acorda no dia vinte e cinco com o maior sorriso que existe na vida, que faz contagem regressiva até o grande dia. E apesar de eu só gostar dos presentes, o tanto que o meu irmão fica feliz nessa época do ano sempre foi algo que eu gostei também.

Eu tenho alguns defeitos, mas não amar o meu irmão não é um deles.

Ele é a pessoa mais importante do mundo inteiro para mim. E apesar de eu ser dura, fria e interferir na vida dele com frequência, não tem absolutamente nada que eu não faria para ver ele feliz. Até mesmo passar o mês de dezembro inteiro fingindo que o espírito do Natal me atingiu, e que eu amo tudo e todos.

Obviamente, esse ano vai ser diferente. Desde o nosso aniversário, que foi no começo de Novembro, eu não tenho notícias do Arthur. O Justin já não estava falando comigo, a Alice deve me odiar—não que eu me importe—e agora o meu irmão também estava me dando um gelo total. Eu tentei ligar para ele algumas vezes, mas ele simplesmente rejeitava as minhas ligações. Ele deixava tocar duas vezes, talvez o tempo suficiente para que ele percebesse que era eu ligando, e então desligava. Tentei ligar do número do Ed, mas ele desligou assim que ouviu minha voz. Tentei ligar de números desconhecidos, mas ele desligou de novo. E depois de um tempo, ele parou de atender também.

Acho que ele está rejeitando as chamadas de todos os números que ele não conhece, só para garantir que vai conseguir me evitar.

E isso me machuca muito, mas eu sei a razão por detrás desse comportamento. O Arthur sabe que no momento em que ele conversar comigo, ou que a gente estiver frente a frente um com o outro, ele vai acabar me perdoando, ou pelo menos voltando a conviver comigo. Porque eu sei que ele sente a minha falta o mesmo tanto que eu sinto a dele.

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