Blackout

05

TALVEZ ELA tivesse ido um pouco longe demais ao apresentar seus vibradores pelo nome, mas já estava farta da reprovação e do sarcasmo silencioso de Demi.

De acordo com Niall, o comportamento de Demi tinha origem na primeira geração americana. O pai dela, um britânico, se realocara em Nova York, antes de Demi nascer, para fazer a curadoria de museus aqui e ali.

Selena não dava a mínima se o pai dela era o próximo da fila na linha de sucessão do trono britânico, estava farta da postura instável de Demi. E, para ser honesta, não se sentia nem um pouco satisfeita consigo por Demi a ter excitado ao enésimo grau, aniquilando sua compostura.

Quando perto de Demi, Selena parecia não conseguir pensar em nada além de sexo. Com Demi. Quase fizera papel de boba quando ela colocara a mão em seus ombros. E então quando tocou seu seio… ela chegou perto de implorar Demi que a possuísse ali, naquele momento, de forma rápida e intensa, contra a parede do corredor.

Demi despertava nela uma sensualidade que Selena jamais conhecera e, em alguns aspectos, sua intensidade a apavorava.

Em silêncio, Demi colocou as pilhas no aparelho de som. As mãos dela não estavam exatamente firmes quando se atrapalhou com a última. Talvez o confinamento a estivesse afetando também. O rádio bradou para a vida: 

– “…então, pelo visto, houve um bom e velho apagão causado pela alta demanda de aparelhos de ar-condicinado ligados para aliviar o calor extremo. Infelizmente o apagão atingiu a região metropolitana de Nova York, Nova Jersey e Connecticut, e as autoridades nos informam que não têm certeza de quando a energia será restabelecida. Parece que será uma noite quente, então não saia daí. Em homenagem ao apagão, vamos abrir nossas linhas telefônicas para pedidos e recadinhos relacionados ao calor e ao verão. E acho que teremos um monte de bebês daqui a nove meses. Ei, temos que achar um jeito de passar o tempo, não é? Vamos começar nosso bloco com uma antiga. “Love The One You’re With.”

Selena girou o botão e desligou o rádio.

Presa em seu apartamento com Demi durante a noite toda? Selena conteve o pânico. Sinais de perigo explodiam em seu cérebro – ela, Demi, luz de velas –, e já parecia que a temperatura no apartamento havia subido alguns graus.

– Bem, podemos esquecer a comida tailandesa para viagem. Está com fome, Demi?

Claro, deixe que a garota gordinha fale em comida . Mas, droga, ela estava morrendo de fome. E aquilo tirava o sexo de sua mente. E Demi. E o sexo com Demi. Bem, provavelmente não, mas Selena continuava com fome.

Demi sorriu, e Selena foi desarmada pelo lampejo de seus dentes brancos sob a luz fraca. 

– Estou faminta. Eu seria capaz de comer pregos. 

– Não costumo armazenar muita comida. Há uma delicatéssen a um quarteirão e meio daqui. Será que estaria aberta?

– Deveria. Durante o apagão de 2003 as lojas de comida estavam dando fim aos estoques porque não se sabia por quanto tempo ficariam sem energia. Melhor vender tudo do que deixar estragar. Eu ainda tenho algum dinheiro aqui. Vamos arriscar. – Demi sorriu com um toque de ansiedade constrangida. – E eu não me importaria em queimar um rolo ou dois de filme.

Bem, ela era fotógrafo. É claro que iria gostar de tirar fotos. E era incrível como todo o comportamento dela mudava quando falava sobre fotografia.

 – Certo. Comida e fotografia. Por mim está bom. – Ela deu de ombros. Assim que Selena disse tais palavras, um relâmpago brilhou no céu e um trovão ribombou. A chuva veio em um ataque repentino. Nada, pelo jeito, era sutil ou aconteceria aos poucos naquela noite.