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UMA VEZ que Demi desapareceu pelas portas duplas, Selena correu para a saída. Ela foi no encalço de dois paramédicos que empurravam uma maca vazia porta afora. O calor estava ainda pior, depois de sair do ar-condicionado. Ela foi de fresquinha para grudenta e suada em dois segundos.

Tentou ignorar as mechas de cabelo que escaparam do rabo de cavalo e grudavam no pescoço, e pegou o celular. Usar o celular na área de emergência do hospital era proibido. Selena bufou. Queria fazer aquela ligação tanto quanto abrir um buraco na cabeça. Duplamente não. Usou a tecla de discagem rápida.

Ele atendeu no segundo toque:

– Selena?

Ela entrou no assunto sem preâmbulos:

– Estamos no hospital City North. A mãe de Demi infartou. Você precisa chegar aqui o mais depressa possível. – Ela caminhava na calçada, passando por um casal que dividia um banco e um cigarro.

– Mas estou trancado na galeria – protestou Niall.

– Então destranque-se. Não ouviu o que acabei de dizer? A mãe de Demi teve um infarto. Ela precisa de você. Aqui. Agora!

– Eu não sei se…

Niall esgotava sua paciência.

– Eu sei. Sei que sua melhor amiga no mundo precisa de você agora mais do que jamais precisou. E se for necessário, arranque a maldita porta das dobradiças! Venha para cá imediatamente!

Uma ambulância com as luzes piscando, porém com a sirene silenciosa, encostou perto das portas.

– Não me faça ir aí buscar você, Niall.

– Selena…

– Niall, não estou brincando. Se precisar, eu irei até aí e vou arrastá-lo para cá.

– Espere um segundo.

A porta traseira da ambulância se abriu, e os paramédicos tiraram a maca com uma mulher hispânica muito grávida. Muito grávida. Muito angustiada. Agora havia algo pelo qual agradecer: o fato de ela não ser aquela mulher.

Uma conversa abafada veio da linha telefônica, e então Niall retornou:

– Zayn irá comigo – disse ele, o desafio gritando em sua voz. 

Tanto faz.

– Não me importo se você trouxer toda a coligação do arco-íris junto, apenas venha para cá.

– Mas não há táxis na rua, e o metrô está desativado.

– Niall, você é um nova-iorquino, pelo amor de Deus. Venha andando.

– Seja razoável, Selena, estou usando meus sapatos Bruno Ms.

Se mais uma pessoa dissesse a ela para ser razoável essa noite…

Selena mal continha o temperamento. Ela não se tornava a pessoa mais paciente depois de apenas uma hora de sono.

– Niall, eu sei o quanto você gosta desses sapatos e vou pagar pessoalmente pela troca de solado deles. Agora me ouça, e ouça direitinho. Finja que você não é o centro do universo. Finja que se importa tanto com sua amiga quanto se importa com esses malditos sapatos. Você colocou Demi em uma situação para lá de difícil esta noite, e ela lhe deu cobertura. Eu não me importo se tem que vir rastejando, mas venha para cá. Você tem uma hora para aparecer. Eu juro, se você não vier, irei transformar sua vida em um inferno.

– Tudo bem. Estou a caminho.

A petulância dele não o tornou mais estimado.

– E, Niall…

BlackoutOnde histórias criam vida. Descubra agora