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DEMI CRESCERA em Nova York, e nunca vira um cervo de verdade encarando os faróis de um carro, mas, de repente, foi assim que se sentiu.

Droga. Se ela tivesse usado o cérebro em vez de ficar farejando atrás de Selena como algum cão levado pela luxúria, teria previsto isso, teria previsto a pergunta. Como isso não aconteceu, Selena a pegou, figurativamente, com a calça na mão. Demi não se sentia muito inteligente agora.

– É meio que um mistério para mim. – Ela era péssima mentiroso.

– Ahã.

Selena não acreditava nela. E ela podia esconder a verdade para protegê-la do que percebia ser egoísmo de Niall, mas não podia mentir para Selena de caso pensado. No entanto, como Niall planejava lidar com aquele fiasco iminente era um mistério para Demi.

Selena pegou o celular.

– Vamos ligar para Niall. Não é como se ele estivesse ocupado ou coisa assim, se está trancado na galeria sem energia elétrica.

Demi cerrou as pálpebras. Selena ficaria arrasada ao saber o quão ocupado Niall poderia estar no momento.

Ela apertou o botão de discagem rápida e tamborilou os dedos no balcão.

– Oi, Niall. Está tudo tranquilo por aí? Que bom… Nada. Comemos pizza fria e frutas. Perguntei a Demi sobre o que você queria conversar esta noite. Pelo jeito, ela está tão no escuro quanto eu… Não, esse trocadilho não foi intencional… Então vamos conversar agora… Sei que você queria estar aqui, mas pode muito bem me contar por telefone por que estimulou minha curiosidade. Não me faça esperar mais. Você precisa satisfazer minha curiosidade.

Estimulou… esperar mais… satisfazer. Selena falava desse modo com Niall e ainda assim ele saiu com outra pessoa? Aquilo dizia a Demi tudo o que precisava saber sobre o amigo. Como Niall não estava morto, devia ser mesmo gay.

– Sim. Ela está bem aqui. Tudo bem. – Selena bufou e esticou o telefone para Demi. – Ele quer falar com você.

Demi pegou o aparelho, relutante.

Selena plantou as mãos nos quadris e a encarou. Brilhante. Esqueça uma conversa em particular. Não que ela a culpasse. Selena não tinha como não se sentir enganada.

O instinto dizia a Demi que ela não ia gostar do rumo que aquilo ia tomar.

– Niall?

– Selena quer saber sobre o que eu queria conversar. – Niall soava horrorizado.

Demi se recostou no balão e cruzou os pés.

– Certo.

– Não posso dizer pelo telefone – disse Niall, como se Demi tivesse exigido que ele fizesse desta forma.

Demi dirigiu um olhar para Selena.

– Não creio que você tenha escolha.

– Tenho sim.

Demi reconheceu o tom persuasivamente animado de Niall. O que quer que fosse ocorrer, os instintos de Demi já estavam berrando não.

– A escolha certa. Você diz a ela.

Demi quase deixou o celular cair.

– Não.

– Sim. Quanto mais penso no assunto, melhor isso funciona.

Talvez para Niall. No dia em que o inferno congelasse e coisa e tal.

– De jeito nenhum.

– Ah, vamos lá, Si. Vocês duas já não se gostam. E sobre o que mais irão conversar? O que vocês têm para fazer, presas aí no escuro, uma com a outra? Esse apagão poderia durar várias horas.

– Sem chance.

– Pense nisso. Seria melhor assim.

Fazia só 12 horas que Demi declarara que nada que Niall fizesse iria comprometer a amizade deles? Estava repensando essa posição.

– Você não conhece Selena como eu conheço, Demi. Ela não vai desistir disso até um de nós contar a ela. Posso tentar enrolá-la com alguma coisa sobre os planos do casamento, mas quando ela descobrir a verdade, isso só vai deixar as coisas mil vezes pior.

– Não vejo por que sua conversa não possa esperar.

– Estou dizendo, ela é sexy e doce, mas debaixo daquelas curvas delicadas e dos imensos olhos castanhos ela é implacável quando quer alguma coisa. É uma flor de aço.

Demi reconhecia aquela verdade. Ela havia experimentado isso em primeira mão quando Selena cravou os dentes no assunto da vida amorosa dela. Cogitou bater a cabeça contra o balcão ou talvez contra o armário.

Qualquer objeto sólido serviria.

Será que havia jeito de essa noite ficar melhor? Primeiro ela estava presa com uma mulher a quem desejava além da razão. Agora, a dita-cuja estava prestes a acuá-la infinitamente para receber a notícia que, sem dúvida, a arrasaria. E ela era o pobre-diabo para a dupla função. Não apenas estava na linha de fogo para levar o tiro como mensageira, como também era a única ali para suportar as consequências da confusão?

E, quando tudo estivesse dito e feito, ela iria ao inferno e voltaria se achasse que Selena precisava dela.

– Vou cuidar disso.

– Demi, você é a melhor amiga que um sujeito poderia ter.

– Conversaremos a respeito mais tarde.

Aquilo não era por Niall. Era por Selena. Porque merecia mais que ouvir a verdade por telefone enquanto Niall estava trancado com seu novo amante. Porque aquilo a deixaria despedaçada, mas ela iria lhe oferecer um ombro forte para chorar, e estaria ali para Selena.

– Certo. Agradeço. Serei eternamente grato. Deixe-me falar com Selena por um minuto.

Demi devolveu o telefone para Selena.

– Sim?… Ela vai?… Tudo bem. Fique em segurança aí e eu falarei com você depois. – Selena fechou o celular, encerrando a chamada. Pegou sua taça e a poliu. Colocando a taça vazia sobre o balcão, olhou para Demi, cheia de expectativa, um pouco da irritação anterior se demorando nos olhos e na boca.

– Creio que você tem algo para me contar.

A apreensão deu um nó no estômago de Demi. A sujeira proverbial estava prestes a atingir o ventilador proverbial.

– Vamos para outro cômodo. É melhor que você esteja sentada.

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