DEMI OBSERVAVA Selena dormir, o sol batendo em suas nádegas e pernas, o braço jogado no rosto, o cabelo uma meada castanho sobre o travesseiro.
Ela rolou para fora da cama e caminhou até o banheiro. Vestiu a cueca e o jeans. Ficar passeando nua na noite anterior era uma coisa, mas outra bem diferente era fazê-lo pela manhã. A magia da noite evaporara ao amanhecer.
Pegou sua câmera e a ajustou para a luz intensa que fluía no quarto. Nenhuma delas pensara em baixar as persianas quando caíram na cama, quatro horas atrás.
Selena estava deitada parte na sombra, parte na luz. Ela tirou várias fotos, captou a brincadeira do sol na pele de Selena, recuando mais uma vez para a segurança detrás de sua máquina fotográfica.
Selena abriu os olhos, piscando, e sorriu, sonolenta, para ela. A pulsação de Demi acelerou. Selena espiou a câmera.
– Por favor, diga-me que não está tirando fotos de mim na cama com esta cara amassada e sem maquiagem.
Ela era uma mulher quixotesca: inabalável com sua nudez, mas preocupada com sua ausência de maquiagem.
– Você está linda – disse Demi sem pensar.
E estava mesmo, com o cabelo emaranhado sobre os ombros e os olhos suaves e pesados de sono.
– Ahã… – Selena estendeu a mão diante da câmera. – Chega de fotos de manhã cedo. Por favor.
– Tudo bem.
Ela estava mesmo linda, mas ficaria tímida agora. Demi foi até a janela e olhou para a cidade, oferecendo a Selena um instante de privacidade sem de fato sair do quarto.
O colchão estalou, anunciando que ela estava se levantando. Demi ouviu os passos pelo quarto e o rangido em protesto da porta do banheiro.
Mais uma vez as pessoas se amontoavam lá embaixo, na rua, mas poucos carros circulavam. Ela tirou algumas fotos desinteressadas. Seu coração não estava no ato de fotografar a cena diante de si.
Ela ouviu a porta rangendo outra vez e Selena retornou ao quarto.
– Obrigada por ter ido ao hospital comigo ontem à noite – disse ela sem se virar.
Ambas haviam ficado cansadas demais para conversar sobre qualquer coisa antes.
Selena abriu e fechou a gaveta da penteadeira.
– Estou feliz por ter conhecido seus pais. Que alívio sua mãe estar bem.
– Sim. É. – Demai fez uma careta por dentro.
Aquele era um péssimo caso de síndrome aguda da manhã seguinte. Ambs soavam como personagens em uma peça mal escrita.
– Gostei mais deles do que pensei que gostaria – disse ela, a voz abafada de dentro do closet.
– Eles estavam… diferentes.
E isso era um eufemismo. Era tão típico que as decisões dos pais de participar da vida de Demi girassem em torno das próprias necessidades.
Eles não a procuravam porque se orgulhavam dela, ou porque tinham se dado conta de que haviam deixado de conhecer um ótimo ser humano. Não. Eles estavam sentindo a própria mortalidade, a própria vulnerabilidade, então Demi era seu apoio.
Demi ainda não era prioridade na pauta deles. E não acreditava em nada daquilo. Agora que sua mãe estava bem, ela esperava que eles retornassem ao seu mundinho insular de dois.
– Meus pais gostaram de você.
– Tentei não ser muito soltinha com eles. – Selena olhou para Demi e para a rua abaixo.
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Blackout
FanfictionSe não fosse o blackout, Selena jamais teria revelado para Demi as fantasias mais pecaminosas que passavam pela sua cabeça (e pelo corpo) dela, nas quais Demi era a principal personagem. Além de Demi ser a melhor amiga de Niall, seu noivo, ela acha...