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SELENA BEBIA um café gelado que tinha gosto de água de esgoto gelada – ou pelo menos era o gosto que imaginava que água de esgoto gelada devia ter – e ignorava Zayn a duas mesas de distância.

Ela não se lamentava por ter perdido Niall, mas não estava muito preparada para aceitar o novo objeto de desejo dele. Sentia-se feliz porque Niall e Demi tinham ficado do lado de fora da cafeteria conversando.

Precisava de alguns minutos sozinha para organizar a cabeça. Não tinha certeza se ria ou se chorava. Estava apaixonada por Demi. Em algum lugar entre “Niall está saindo com outra pessoa” e “É assim mesmo entre elas”, ela se apaixonara perdidamente por Demi.

Mas que droga, e não é que ela conseguira exatamente o que queria: o amor tipo salto alto? Não havia nada de chinelo velho confortável a respeito de Demi. Ela era alternadamente cáustica e carinhosa, corajosa e vulnerável. Selena sabia com uma certeza quase assustadora que a intensidade do que sentia seria a mesma dali a 1 ano, ou 20, ou 50.

Talvez tivesse começado quando elas passaram o dia juntas fazendo o ensaio fotográfico para Niall, e seus sonhos eróticos tivessem sido uma tentativa de dizer a ela o que seu coração e sua mente não estavam prontos para ouvir.

Por estar perdida em conjecturas, Niall a assustou quando se jogou na cadeira ao lado.

– Demi disse que precisamos conversar.

Ela estava apaixonada, de um jeito grandioso. Um arrepio a atingiu ante a mera menção do nome de Demi. Niall, no entanto, continuava no topo da sua lista de idiotas.

– Então fale.

– Lamento, Selena.

Tinha que lamentar mesmo.

– Niall, você é um mero arremedo de ser humano. Não apenas me traiu como mentiu esta noite quando liguei para falar da mãe de Demi. Você me fez achar, de propósito, que ainda estava trancado na galeria.

– Sei disso. Foi um erro. Você não tem como me xingar de nada do que eu já não tenha me xingado. Eu sabia que você ficaria furiosa e, se Demi descobrisse, ela também ficaria. Só não queria encarar o problema esta noite. Não queria lidar com ela.

– Você criou o monstro, dr. Frankenstein. Lide com isso.

– Você está certa.

– Estou.

Como era possível continuar a repreender alguém que concordava com você? O que ela queria dizer a ele quando o visse cara a cara era que esperava que seu pênis caísse, mas agora… Niall decerto concordaria com ela; e onde estaria a satisfação nisso?

– Peço desculpa por tantas coisas, Selena… Por não ter tido a coragem de contar como eu estava em conflito com minha sexualidade antes de as coisas irem além com Zayn. E aí eu devia ter sido homem o suficiente para ficar a sós com você e lhe contar. E desculpe por ter sido um cretino mais cedo.

Selena nunca fora do tipo que guarda rancor. Ela perdoava até fácil demais. Não sabia se isso era uma bênção ou uma maldição.

E a habilidade dela de perdoar tão facilmente a traição dele também revelava que não o amava do jeito que deveria amar o homem com quem iria se casar.

E apesar de sua lógica e seu raciocínio estarem impugnados esta noite, Selena era uma mulher muito lógica. Se Niall não tivesse se comportado do jeito como se comportara, a noite de hoje  poderia nunca ter acontecido. E ela estava imensamente, intensamente feliz por esta noite com Demi ter ocorrido. Não tinha arrependimentos.

– Acho que isso resolve nossa situação. Aceito suas desculpas e não espero mais que seu pênis caia.

A surpresa, seguida de perto pelo alívio, transpareceu no rosto dele, que riu.

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