– ELE PARECE feliz com o novo nome. O que você acha? – indagou Selena.
Demétrius, o gato, antes conhecido como Peaches, estava em cima da geladeira, olhos fechados, como sempre ignorando-as. Demetria, a mulher, achava Selena louca, totalmente irracional e completamente adorável.
– Eu diria que ele está fora de si.
Selena balançou a cabeça e a açoitou com um olhar.
– Eu o conheço melhor do que você, e estou dizendo que ele está feliz.
– O que você disser. Prometi ao rapazinho um nome machão, e estou bastante certa de que Demétrius não se enquadra nessa categoria – argumentou ela, sabendo que era inútil.
Selena riu, e Demi tirou uma foto mental. Queria se lembrar daquele momento para sempre. Elas estavam envolvidas em uma conversa fútil na cozinha, que estava um forno, sem luz, e Demi não conseguia se lembrar de já ter se sentindo mais feliz do que naquele momento.
– Como se Magnus fosse o chefão? Certo.
– Sabe, você pode desencadear um complexo em um cara com isso – disse ela.
– Melhor tomar cuidado ou você pode passar para o outro lado, como Niall – brincou Selena, mas sem dúvida continuava perturbada com a revelação de Niall.
– Não é uma possibilidade remota. Eu sei que você está brincando, mas a preferência sexual de Niall não é um reflexo da relação com você. – Demi sorriu e se permitiu olhar para ela com a familiaridade de uma amante bem satisfeita. – Eu sei em primeira mão. – Selena ficou na ponta dos pés e deu um beijo na bochecha dela, a mão repousando de leve em seu ombro.
– Obrigada. Quer goste de admitir, quer não, você é mesmo uma pessoa muito legal.
A ternura de Selena a abalou.
– Você não me chamou de idiota agora há pouco?
– Não são características mutuamente excludentes. Você pode ser isso também.
O jeito como Selena a olhava, como se ela fosse perfeita, deixou a boca de Demi seca e o coração palpitando. Selena estava errada. Podia achar que a conhecia, mas não conhecia. Ela era 99 por cento idiota em 99 por cento do tempo. Selena estava repercutindo os bons momentos e pintando-a como alguém que não era.
– Você vai ter que conversar com Niall, Selena.
– Tecnicamente, não tenho que fazer nada… mas acho que sim.
– Precisa encerrar essa história, ou vai terminar perseguindo-o porque estará viciada em antidepressivos – disse Demi.
Era fácil ficar com ela. Fácil provocá-la.
– Você me conhece muito bem. – Selena jogou um pano de prato na cabeça dela.
Demi o pegou com uma das mãos.
– Você parece lidar bem com isso.
– Não sou propensa à histeria.
Demi arqueou uma sobrancelha, se recordando da cena que ela fizera quando Demi retornada do peitoril da janela. Selena beirara a histeria. Com ela. Demi ainda se recuperava.
– Certo. Bem, se pensar que você está prestes a ver alguém que conhece e com quem se importa morrer, isso é um pouco diferente. Mas, via de regra, não costumo ficar histérica. – Selena a fitou da cabeça aos pés, o olhar se prolongando na parte da frente da calça. – E você definitivamente ajudou a aliviar minha dor por ser rejeitada.
– Fico feliz por servi-la. – E Demi estaria pronta para mais serviço se ela não parasse de encarar sua virilha daquele jeito.
– Você pode pensar “Ah, até parece”, mas estou quase aliviada. Não por Niall ser gay e não por ele ter me feito perder meu tempo… isso é um pouco complicado de encarar… mas acho que nós dois sabíamos que algo não estava funcionando. E então, quando comecei a ter aqueles sonhos com você… bem, isso meio que faz uma garota pensar que não está exatamente pronta para se amarrar.
Demi ainda se sentia aturdida por ter sido objeto de fantasia de Selena, mesmo que ela estivesse inconsciente no momento.
– Sonhos são um indicativo muito duvidoso, Selena. Você teria cancelado tudo se Niall não tivesse se envolvido com outra pessoa?
Selena pensou na pergunta dela por alguns segundos, os lábios franzidos, antes de tirar o cabelo do rosto.
– Não sei. É provável. Espero que sim. Eu não o odeio, embora tenha chegado bem perto disso quando você me contou. Não me surpreendo com o fato de Niall ter me traído e então despejado a história em você para que me contasse.
– Ainda o ama? Sem dúvida o amou em algum momento. – A pergunta lhe causou um aperto no estômago.
– Não tenho certeza. – Ela mexeu no ponto do dedo onde a aliança ficava.
Demi tinha certeza de que Selena não se dava conta de seu gesto.
– Eu o amei. Na verdade, acho que quando já não estiver tão chateada vou continuar amando.
O estômago de Demi afundou na barriga.
– Mas não o amo do jeito que deveria amar para me casar com Niall. Nós nos divertimos juntos, mas não existe uma paixão verdadeira entre a gente… – O olhar de Selena enlaçou o dela, a prendeu com o fogo de suas profundezas – Nenhuma intensidade. Entende o que quero dizer?
Demi desviou o olhar antes de Selena notar a resposta ardendo em seus olhos.
– A menção do nome dele lhe causa um frio na barriga? Faz você ter vontade de ir ao inferno e voltar por ele? O som da voz dele lhe causa arrepios? Entendo muito bem o que você quer dizer.
– Niall e eu não temos isso.
Com certeza, Selena era adulta e podia tomar decisões sozinha. Mas em algum momento estivera bem segura a ponto de concordar em se casar com Niall. Demi sabia em primeira mão que Selena podia ser muito emotiva e ilógica, e não queria vê-la tomando uma decisão da qual se arrependeria mais tarde.
– A paixão não dura. Queima e se transforma em algo bem diferente – disse Demi, bancando a advogada do diabo.
– Não sou ingênua. Não acho que as pessoas ainda tenham esse tipo de coisa depois de 20 anos. Ou, quem sabe, talvez tenham. Mas é imprescindível que se tenha isso no início do relacionamento. O amor não deve ser totalmente confortável, como um velho par de chinelos. Deve ser um par de sapatos de salto alto: sensual e excitante, a ponto de o desconforto valer a pena. E se foi isso o que Niall encontrou, dou meu apoio. – Ela deu de ombros e sorriu.
O sorriso de Selena era tão ela – natural, irresistível, ensolarado – que Demi não conseguia evitar sorrir de volta.
– Essa é nova. Nunca vi o amor ser comparado a um par de sapatos de salto alto.
– Eu não percebia que me sentia assim até… bem, acho que começou com aqueles sonhos, e agora com isso, com Niall tendo me obrigado a reavaliar tudo. E não posso evitar se você acha que estou sendo cafona quando digo que o sexo entre nós, entre mim e você, tem sido incrível.
Demi precisaria estar morta ou ser burra demais para não sentir a onda de orgulho por ter sacudido o mundo dela a um grau que Niall obviamente não conseguira. Ela tinha certeza de que estava ostentando um sorriso idiota.
– Tem mesmo, não é?
– Já que estamos falando de Niall… Quero que você saiba que não tenho a intenção de mencionar para ele o que houve esta noite… você sabe… nós duas…
Aquilo tirou o sorriso do rosto dela.
– Porque você tem vergonha?
– Não. – Selena lançou um olhar para informá-la de que ela era mais esperta que isso. – Porque ele é seu amigo, e eu não quero me meter na amizade de vocês. Mais que isso, Demi, porque não quero que pense que dormi com você para me vingar dele. Tudo aconteceu porque você me enlouqueceu nos meus sonhos, e então quando chegou aqui… foi ainda pior.
– Pior?
– Você sabe o que quero dizer. O som da sua voz, o toque das suas mãos em meus ombros, seu perfume.
Todas as características da paixão.
Selena a excitava sem nem mesmo tocá-la. E só havia uma reação lógica a isso.
Demi a prensou contra o balcão e a beijou.
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Blackout
FanfictionSe não fosse o blackout, Selena jamais teria revelado para Demi as fantasias mais pecaminosas que passavam pela sua cabeça (e pelo corpo) dela, nas quais Demi era a principal personagem. Além de Demi ser a melhor amiga de Niall, seu noivo, ela acha...