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–NÃO! VOLTE!

Que diabos! Demi se levantou num tranco, por instantes desorientada pela cama estranha, pelas velas e pela mulher gritando. Certo. Selena. A cama dela. Blackout.

– O que houve? – Ela ficou de pé e agarrou Selena, que tremia feito uma folha.

– Peaches. – Ela engoliu em seco e fez um gesto para a janela do quarto.

– Ele forçou pela tela e saiu pela janela. Está no beiral. – Selena agarrou o braço dela, apavorada. – As garras da frente de Peaches foram aparadas. E se ele escorregar?

Ela amava aquele gato. Assim, Demi não hesitou, não pensou, simplesmente fez. Mexeu na tela solta, puxou-a de volta para dentro e enfiou a cabeça na janela.

– Consegue vê-lo? – Selena se espremia pela abertura da janela. – Ai, Deus…

Peaches, agora que a proeza estava feita, percebeu o erro de suas escolhas e se encolheu na borda a muitos metros de distância.

Selena baixou a voz, que tremia:

– Venha, querido. Venha cá, Peaches. Tenho um bom petisco esperando por você.

Peaches começou a miar em histeria felina, mas não se mexeu.

Brilhante, se os moradores do apartamento ao lado abrissem a janela, o gato na certa levaria um susto e cairia.

Selena agarrou o braço de Demi outra vez, e ela tentou reconfortá-la.

– Apenas fique calma.

– Vou sair atrás dele – disse Selena.

– O diabo que vai.

– Não posso simplesmente largá-lo ali.

– Eu vou pegá-lo.

– Não. Não posso deixar que faça isso. E ele não conhece você, afinal.

Sobre seu cadáver que Selena iria até aquela borda molhada. Demi olhou para fora, todos os sete andares abaixo, e podia muito bem ser o corpo dela no asfalto… mas de jeito nenhum: não tinha como deixar Selena ir.

– Animais em pânico reagem melhor a estranhos em situação de resgate. Vi isso no Animal Planet. – Uma besteira das boas, usando a expressão favorita do vovô, e ela mentiria outra vez para mantê-la longe do beiral. Demi afastou Selena da moldura da janela, de volta ao quarto.

– Espere aqui, vou pegá-lo para você.

Ela não lhe deu a chance de discutir: saiu pela janela até o beiral. Era bem mais estreito do que parecia visto do lado de dentro.

Demi agarrou o caixilho da janela com a mão esquerda e ficou de pé lentamente, lutando para manter o equilíbrio. Apoiou a mão direita nos tijolos, desejando que o beiral fosse feito do mesmo material em vez de mármore molhado e escorregadio. Abraçou o prédio.

Cometeu o erro de olhar para baixo. A vertigem a embalou. Tonta, oscilou, mas recuperou o equilíbrio. Droga. Droga. Droga. Não gostava nada de altura.

– Demi, volte aqui – disse Selena, a cabeça enfiada para fora da janela, perto do joelho dela.

– Voltarei quando pegar o gato. – Ela manteve os olhos treinados no prédio e em Peaches.

– Como irá fazer isso?

Selena escolheu uma bela hora e lugar para bater um papinho.

– Não sei. Estou bolando um plano agora.

– Não acha que devia ter pensado nisso antes de sair?

– Acho que funciono melhor sob pressão. – Mais um monte de besteira.

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