Todo mundo sente um pouco de raiva ou impaciência quando o despertador toca logo cedo, mas nada se comparava ao desprezo de Gerard pelo alarme do seu celular às seis da manhã. Algumas vezes já tinha passado por sua cabeça jogar o telefone na parede para poder continuar com seu sonho, porém teve de descartar a ideia pois seu telefone era o único meio de se comunicar com seu irmão fora de casa e ele não tinha dinheiro para comprar outro.
O Way se levantou da cama suspirando e andou lentamente até a porta igualmente branca do outro lado do corredor.
— Mikey? — falou suave e baixo, mas alto o suficiente para o irmão conseguir ouvir e deixá-lo entrar no quarto.
— Temos mesmo que ir agora? — Michael manteve o tom baixo para não acordar a mulher que dormia no quarto ao lado.
— Sim, você sabe como vai ser se ela nos ver — Gerard falou de modo ríspido, sua expressão de calma e sonolenta para agitada e conturbada.
— Tudo bem. — O mais novo coçou os olhos para tentar espantar o sono.
— Cinco minutos, lá embaixo. — Gerard apontou para as escadas e voltou para seu próprio quarto sem fazer barulho ao se trocar.
Todos os dias eram iguais: acordavam, vestiam-se e saíam antes que Donna os visse. Alguns poderiam dizer que era falta de educação sair de casa sem falar com a mãe, mas acredite, se tivessem uma mãe como a de Gerard e Mikey, com certeza também fariam de tudo para evitar topar com ela antes de sair. A possibilidade de Donna estar bêbada logo no começo da manhã assombrava os irmãos, contudo, a única coisa que poderia ser pior do que a mulher bêbada, era ela sóbria. Depois de anos da partida de Donald, Donna ainda não havia aceitado o fato de seu marido ter seguido em frente. Ela vivia em um processo de negação intenso, compensando a falta com o álcool e descontando suas frustrações nos próprios filhos.
Enquanto Gerard tirava seu pijama com um pouco de pressa, ele olhou para seu reflexo no espelho e torceu os lábios. O rapaz não tinha um corpo muito atlético, mas não era gordinho — não como há alguns anos antes, quando a puberdade vinha preguiçosamente em alguns quesitos — não gostava de seu reflexo. Sempre que conseguia atingir alguma meta, achava outro defeito para lhe angustiar e o deixar inseguro.
Boa parte da culpa para tanta paranóia era de sua mãe. Ela era maldosa e não segurava a língua afiada. Soltava seu veneno sem dó, nem piedade ao insultar o filho mais velho. Ela lhe dizia que nunca seria bonito, o chamava de obeso e insistia que nunca alguém se interesaria por ele. É claro que seu irmão lhe dizia exatamente o contrário e passava horas falando para Gerard o quanto ele era especial e lindo. Infelizmente, os elogios de Mikey não pareciam ser o suficiente para tirar as inseguranças dos pesadelos do mais velho.
O menino passou as mãos pelos cabelos pretos e longos, ignorando a leve fome que sentia e desceu as escadas, encontrando Mike escorado na porta.
— Vamos logo. — Gerard sussurrou. Abriu a porta e saíram de casa sem olhar para trás.
***
O tempo estava agradável aquela manhã, mas os moletons pesados que cobriam os peitos dos irmãos Way os faziam ter uma sensação de calor quase incômoda se alastrar por seus corpos. Eles faziam aquele caminho duas vezes por dia, sete dias por semana pelas ruas de Jersey, mas queriam poder não fazê-lo. Não por conta da escola, o colégio era o único refúgio que tinham. O que eles não queriam era ter que fazer o caminho de volta. Por mais que as aulas e os colegas não fossem dos mais agradáveis, os últimos minutos antes do sinal da última aula tocar eram sempre os piores. Sabiam que logo teriam que passar por aquelas ruas novamente e voltarem para seu inferno particular.
Gerard olhou para Mikey e apertou os lábios. Seu irmãozinho era tão carinhoso e bondoso. Ele se odiava por não poder fazer nada para mudar a porcaria de vida que levavam. Michael não merecia passar por aquilo. Os dois não mereciam.
VOCÊ ESTÁ LENDO
How To Make Two Boys Fall In Love - Frerard
Fiksi PenggemarFrank e Gerard não se suportavam. Até aí nenhuma novidade. Diferentes maneiras mirabolantes de matarem um ao outro passavam por suas mentes conturbadas todas as vezes que se viam. Eles viviam brigando no colégio e tentavam ao máximo não estar no mes...