— O furacão está no prédio. Repito, senhor Millstone: o furacão está no prédio. — o segurança engravatado do edifício sussurrou para o transmissor no momento em que a mulher atravessou a porta automática de vidro.
A morena não pôde conter um sorriso ao adentrar no salão. Pobre funcionário, achava que ela não havia percebido a sua maneira esganiçada de segurar a respiração enquanto ela passava. Sem sombra de dúvidas, ele estava temendo não ser rápido o suficiente para alertar Ottis a tempo sobre a sua volta. Além disso, os comportamentos fragilizados dos homens em sua presença sempre denunciavam qualquer tentativa de fazer algo por suas costas, e ninguém poderia culpá-los: Katrina Salazar era uma mulher muito bonita. Tinha um rosto marcado por traços fortes, cabelos escuros e volumosos que lhe caíam até a cintura e olhos muito expressivos. O corpo curvilíneo era desenhado por baixo da saia lápis azul marinho e da blusa social branca, que enfatizava sua figura esbelta e pele cornalina sobre o ar da manhã.
Ocorreu-lhe, de súbito, que a sede do FBI também era exatamente como ela se lembrava. Pessoas vestidas formalmente andavam como robôs de um lado para o outro, sempre evitando os olhares e imersas em suas próprias tarefas profissionais.
Não poderia ser diferente com ela. Respirou fundo e adotou uma postura pomposa ao dar o primeiro passo rumo ao elevador e abrir caminho em meio ao salão cheio, enquanto atraia olhares curiosos que ousavam submergir de suas obrigações cotidianas para lhe encarar com surpresa. Escutou um burburinho se manifestando no momento em que parou para esperar a chegada do elevador, mas não deu qualquer demonstração de que se importava. Estava acostumada a ficar sob as vistas do público, cada movimento que fazia sendo acompanhado pela polícia e pela imprensa. Compreendia, ainda, a surpresa por sua volta, uma vez que estava retornando de um longo e tortuoso período de recesso pelas ruas da capital estadunidense.
A porta metálica e gelada do elevador se abriu, despertando-a de seus pensamentos e revelando um senhor negro de baixa estatura e olhos quentes cujo rosto se iluminou instantaneamente ao ver quem estava bem à sua frente.
— Katrina! — ele exclamou, levando a mão enrugada à nuca da morena enquanto puxava-a para perto e lhe beijava a testa.
Recebeu o afago com uma careta.
— Ottis! — lançou-lhe um sorriso com o canto de boca, numa tentativa falida de tentar soar graciosa e não profundamente surpresa pela cordialidade do chefe àquela hora da manhã.
— Eu estava justamente indo te recepcionar. — ele cantarolou, enquanto apertava dois botões no painel e tamborilava alegremente na parede prateada.
Então, era isso. Por algum motivo que ainda desconhecia, Ottis queria que os dois se encontrassem "espontaneamente" no elevador. O sorriso no canto dos lábios de Katrina se desfez, dando lugar a um semicerrar de olhos que procurava instintivamente por algum resquício de anormalidade nos olhos amáveis do senhor. Além de ser seu chefe, ela também havia sido criada por Ottis, de modo que conhecia-o com a palma de sua mão e a relação era recíproca. O mais velho percebeu de imediato seu semblante de desconfiança e respondeu a análise silenciosa com um sorriso amarelo, constrangido por estar sendo examinado pelos olhos quentes e incisivos de Katrina Salazar. Agora fitava um ponto atrás dela, tentando fugir dos olhos de fogo que a mulher certamente havia ganhado de cortesia do próprio diabo.
— O que o senhor fez? — sibilou, entredentes.
Katrina percebeu que ele estava olhando fixamente para o visor que indicava os andares percorridos quando desviou nervosamente seu olhar para ela.
— Digamos que a diretoria tenha tomado decisões novas, minha criança.— confessou em tom cauteloso, observando uma linha fina de aborrecimento se formar entre as sobrancelhas franzidas dela.
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E N I G M A
Misterio / SuspensoA respeitada agente do FBI, Katrina Salazar, fica desnorteada ao encontrar em uma exótica cena do crime a mesma assinatura deixada por sua mãe na noite em que a mulher foi morta. Perplexa, a policial verifica que as misteriosas iniciais são, na verd...