🌪 10: O libanês

10 0 0
                                    


Haupttman e Salazar saltaram depressa do carro. A praça estava sossegada, exceto pelas risadas de um grupo de frequentadores sentados do lado de uma cafeteria, o local favorito dos policiais aposentados. A brisa cheirava a café expresso e a massa de torta.

Quando avistaram um senhor que usava um taqiyah branco e discreto no topo da cabeça, sentado no restaurante da praça, Katrina soube. Era ele.

— Detetive Faraq? — o chamou, despertando-o de seus devaneios enquanto se sentava na cadeira. Alexander fez o mesmo. — Obrigada por ter aceitado nos encontrar.

Ele ergueu as sobrancelhas grossas, desconfiado. Apesar de ser um homem de pequeno porte, seus olhos negros e seu nariz árabe se tornavam imponentes no rosto longo, tornando sua expressão arisca e cautelosa.

— Sobre o que é? — foi direto, o sotaque forte transbordando na voz profunda.

— Sobre o caso Salazar, detetive. — os lábios de Katrina formaram uma linha dura, enquanto ela mostrava o distintivo rapidamente.

Faraq balançou a cabeça, desanimado.

— Estamos reexaminando o incidente, Detetive Faraq. — disse Alexander. — Pra ter certeza de que nada escapou à investigação.

— Isso foi muito ruim para minha carreira. — murmurou ele. — Melhor esquecer isso.

Katrina suspirou pesadamente.

— Detetive...

— Já terminou? Vamos embora, ok? Preciso estar em casa...

— O senhor não lembra de mim, Senhor Faraq? — Katrina indagou, num fio de voz. — Sou eu, Katrina Salazar.

Faraq apertou os olhos com força, para depois, olhar fixamente para ela. Desviou o olhar e de repente, incrédulo, virou-se para olhá-la novamente. Sem palavras, sua mente resgatou uma memória embaçada pelos anos que se sucederam. Era ela. A garotinha que encontrou na cena do crime no dia mais sombrio de sua vida.

— Detetive Faraq, eu preciso da sua ajuda. Mais do que nunca. — soou mais como uma súplica do que como um pedido de ajuda.

O homem engoliu em seco, desnorteado.

— Como ajudo menina furacão?

Katrina sorriu fracamente.

— Viemos por causa de Emilie Balogh. — disse Alexander.

Faraq concordou com a cabeça.

— Sim, vizinha que foi torturada. Lembro da Senhora Balogh.

— Por alguma razão em particular? — continuou Alexander.

— Senhora Balogh era alemã linda. Não pode mais andar, né? Uma pena... era mulher muito, muito linda.

— Acabei de conhecê-la. — retomou Alexander — Ainda é uma mulher linda.

— Verdade? — perguntou Faraq — Senhora Balogh tinha 24 anos quando entrevistei. O que significa que... 50 anos agora. — ele olhou para Alexander — Me lembro muito bem, tinha cabelo de ouro, olho verde, muito bonito...

Ele analisou a fundo os olhos de Katrina e ela, de repente, se sentiu incomodada. Estava começando a se sentir como uma irmã adotiva ignorada e feia com seus fios negros, apesar dos olhos igualmente verdes.

— Além do fato de os dois a acharem a Senhora Balogh muito bonita, do que mais você se lembra sobre esse caso, Senhor Faraq?

— Lembro de muita coisa. Foi meu primeiro ano trabalhando para Departamento de Washington DC, e morte Salazar foi tão horrível... difícil não lembrar. A família em casa em noite fria, massacrada por gente mascarada. Atraiu atenção... americanos vulneráveis, ameaça de terrorismo. Ele falou para me tirar do caso, disse que imigrante não era bom em caso de terrorismo...

E N I G M AOnde histórias criam vida. Descubra agora