🌪 05: O retorno

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Sophia Farmer odiava o cheiro de látex. Olhou para as luvas, feitas de borracha impermeável e algodão absorvente. Vestiu-as com certa relutância, e ao ver uma nuvem de talco sendo liberada, torceu o nariz. O odor lembrava-lhe os aspectos mais desagradáveis de sua profissão, um alerta inconfundível de que devia se preparar para o pior. E foi o que fez enquanto aguardava os demais membros da equipe vestirem o traje especial em uma sala em frente ao escritório de Margaret, precaução tomada toda vez que entravam em uma cena do crime que apontasse para um ataque químico.

— Cara, eu me sinto uma banana gigante com essa roupa. — Volt resmungou.

Volt era um homem alto, robusto, que caminhava lentamente, como se precisasse fazer esforço para movimentar seu corpo gigantesco dentro do limitado traje amarelo. A cientista se colocou na ponta do pé para centralizar a máscara em seu rosto, dando uma risadinha. Ele tinha, em contrapartida, uma cara de menino, que a expressão alegre acentuava ainda mais.

— Você deveria. Ela não combina com a cor dos seus olhos, querido. — Tina replicou, sarcástica. — E pelo visto, não é o único que precisa de ajuda.

Os olhares se viraram para Alexander, que estava visivelmente desconfortável ao vestir o traje especial pela primeira vez. Assim como Volt, seu porte corpulento mal cabia no tecido de PVC. A bota, constituída por vinil impermeável, se contraía dolorosamente em seus pés, arrancando-lhe o um rosnado abafado ao se movimentar para fora da sala, em direção à Katrina. Ele retirou a máscara, atônito.

— Essa merda é mais apertada do que...

— Hauptmann, eu não vou tolerar suas baixarias aqui! — Katrina esbravejou, tirando também a máscara. Sua ira em contraste com a vestimenta absolutamente ridícula.

O militar levantou as mãos em defesa, com o sorriso de quem se divertia. Katrina estava fazendo um esforço para tentar soar impessoal ao referir-se a ele pelo sobrenome.

Então ela continuava aquela garotinha conservadora que ele havia conhecido há cinco anos atrás?

Nem teve a chance de perguntar, porque a mulher passou por ele com a agilidade de um furacão, se encaminhando até a porta da primeira cena do crime. Um funcionário do governo trajando o figurino de defesa, entretanto, estava parado como uma estátua ao lado da porta, encarando-a com soberba.

— Aí está, a famosa 007. Estava esperando por vocês.

Ela o fuzilou com o olhar.

Quem ele achava que era para chamar-lhe assim também?

— Acho que minhas ordens não foram claras o suficiente, senhor. Eu e minha equipe precisamos de privacidade total.

O funcionário a olhou com deboche através do traje especial.

— Você é bastante sensível, não é? — sua olhar compenetrante foi desviado para Alexander, que caminhava em sua direção com cara de poucos amigos.

— Algum problema, Michael? — Alexander cruzou os braços sobre o peito naquela roupa que fazia qualquer um parecer uma piada. Qualquer um, menos o enorme Alexander.

Michael assentiu, aliviado.

— Que bom que está presente, Capitão Hauptmann. — disse, suavizando as feições de seu rosto. — A minha 007 aqui disse que precisa que eu me retire. Eu falei pra ela que ela é muito sensível, porque...

Foi quando Alexander lhe lançou um olhar. Aquele olhar, que podia fazer com que o próprio diabo se encolhesse. Cerrou a mandíbula, lhe afirmando em tom lento e controlado:

— Ela não é a sua 007, Michael.

Katrina abriu um sorriso lento ao ver que o homem estava, de fato, se encolhendo.

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