🌪 06: O comunicado

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As luzes das câmeras emergiam na alameda quente da 1600 Pennsylvania Ave, permitindo que o sol de rachar achasse seu caminho entre os jornalistas. Era uma loucura, um caos total – os seguranças tentando conter a imprensa extraoficial que se acotovelava por furos de reportagem, os policiais chegando da 801 Shepherd St NW e da 300 Indiana Ave NW e os moradores locais aparecendo para se chocar com o espetáculo – .

— Isso não vai ser fácil... — Angeline assobiou baixo, enquanto ajeitava os papéis em cima do púlpito de acrílico montado do lado de fora da instalação da Casa Branca. Nele, estava estampada uma grande águia, a patrona nos Estados Unidos que sempre a guiava quando precisava fazer comunicados oficiais. Um dos assistentes do governo disponibilizados, um homem pequeno manhoso com um fino bigode sobre o lábio superior, levou um dos lenços bordados de Angeline até o rosto reluzente da mulher e o secou com leves batidas.

— Esse é um dos tubarões, Jeff. É um caso grande. — ela confessou, se mantendo atenta à linguagem corporal. Sabia que qualquer alarde colocaria a população em histeria.

— Você está sempre pronta, minha rainha. — lhe assegurou, dando de ombros.

Angeline se controlou ao máximo para não roer as próprias unhas em nervosismo quando o homem se afastou e rumou em direção aos câmeras.

A mulher era, por natureza, detentora do carisma e da sutileza demandados para a sua profissão, uma vez que tinha a sensibilidade necessária para gerir o relacionamento entre seu departamento e a imprensa. Entretanto, seu mau agouro sobre aquele caso lhe suscitava um temor que a impedia de fazer aquele comunicado oficial coerentemente.

Repassou minuciosamente o discurso planejado na Sala do Gabinete, uma das mais importantes da Ala Oeste. Ao acenar discretamente para Jeffrey, ele soube que ela já estava pronta para começar.

— Com profundo pesar, a Casa Branca comunica o falecimento, em razão ainda inconclusiva de Margaret Carter, Eric Ford, George Houston. — ela pausou, esperando o momento em que o burburinho entre os jornalistas se tornasse menos audível para recomeçar em tom mais firme — Esse evento interrompe tragicamente trajetórias profissionais marcadas por vitórias exemplares para as novas gerações. Aos amigos, e, de modo especial, às famílias que sofreram perdas tão duras e repentinas, a Casa Branca expressa, comovida, nossas sinceras condolências.

Após encerrar seu sucinto discurso, todos os repórteres presentes atrás da fita de isolamento ergueram as mãos, sedentos por respostas que renderiam boas colunas um gordo aumento em seus salários.

— Você. — Angeline apontou para a mulher loira de olhos gentis. A jornalista olhou rapidamente para um caderninho de anotações enquanto pegava o microfone oferecido por Jeffrey, pronta para aproveitar a chance única de ter uma questão sendo respondida por um agente oficial.

— Qual é a probabilidade desse caso estar relacionado a uma possível ameaça bioterrorista?

Angeline gelou. Sabia que essa pergunta, hora ou outra, viria à tona na coletiva, mas não tinha ideia de que ela lhe esfaquearia logo na primeira oportunidade.

— Ainda estamos avaliando as probabilidades. Tudo será informado em seu tempo. — ela respondeu, cortando-a — Próximo.

— Então há probabilidades? — a voz da jornalista voltou a se levantar, sendo incisivamente ignorada por Angeline.

A assessora correu os olhos pela multidão, na esperança de identificar um rosto conhecido.

Só mais um segundo e... lá estava ele, Tyrone Williams.

Ele sorriu para ela, galanteador.

Você. — a assessora apontou para o homem, subitamente aliviada por ter encontrado um porto seguro no meio da multidão.

Tyrone se levantou para seu turno de perguntas. Ele parecia muito cordial enquanto pegava o microfone, como se pretendesse ter apenas uma conversa amigável. Se os dois tivessem se conhecido fora do ambiente profissional, ela poderia considerá-lo um excelente jornalista, um homem bem atraente e uma ótima companhia para...

— Estamos sob ameaça terrorista?

Foi como um balde de água fria. Qualquer simulacro de cordialidade desaparecera no momento em que sentiu seus músculos enrijecerem-se com a pergunta insolente. E quando Tyrone cravou seus olhos em Angeline, tudo que pôde obter foi uma temerosa resposta:

— Vamos torcer para que não estejamos. 

🌪

Oi, gente! Capítulo bem curtinho só pra avisar que, a partir desse capítulo, já parei de substituir os capítulos de nova formatação nos antigos e terei que começar a criar capítulos novos. Sem comentários confusos a partir daqui, fiquem tranquilos! Mas isso significa também que agora estou órfã de comentários, visualizações e estrelinhas. Dá uma moralzinha aí, vai! 

E N I G M AOnde histórias criam vida. Descubra agora