🌪 04: The Crown

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— E quando chegou na hora de rachar a conta, acredita que ela falou que isso ia contra a religião dela? A Francie é legal, cara, mas para mim não dá.

Era muito cedo para alguém estar tão falante, mas Katrina deixava o colega de trabalho tagarelar do banco de trás enquanto estacionava o carro na 1600 Pennsylvania Ave NW. Estava sendo submetida a uma crônica desinteressante da vida amorosa de Volt, mas tudo que conseguia ver era o rosto irritante de Alexander no banco do passageiro fitando com familiaridade a longínqua e pálida residência de arenito. Bufou quando o carro ameaçou morrer, e sua expressão fechada já denunciava: estava imaginando qual azar havia colocado o Capitão Hauptmann novamente em seu caminho. Céus, ela daria tudo para esquecer que haviam um dia se conhecido.

Mas não vou deixar que ele estrague a minha vida de novo. Simplesmente o ignorarei.

— Você já comeu lá? — a voz empolgada de Volt a despertou de seus pensamentos. Ele usou a mão biônica para cutucar o ombro de Alexander, que estava no banco do passageiro.

— O quê? — o loiro resmungou, ao passo que Tina rolou os olhos do banco do fundo do carro. Ambos detestavam conversas matinais.

Volt pareceu ignorar qualquer demonstração de desinteresse.

— No restaurante de massas, na esquina com a New Mexico. Francie pediu uma dessas lasanhas enormes, me dá fome só de pensar. Não vejo a hora de voltar lá.

— Quem é Francie? — Alexander bufou, irritado.

— Você acabou de comer um hambúrguer, Volt! — Sophia o censurou, espantada.

— Nos conhecemos na internet, cara. E o que eu posso fazer? Sinto fome o tempo todo. — completou, acariciando com ternura o próprio abdômen saliente por cima da camisa de extraterrestres que usava.

A princípio, quando ele e Katrina foram apresentados, ela não acreditou que o homem fosse mesmo um físico teórico. Na sua visão pré-concebida por estereótipos, eles deveriam ter cabelos desgrenhados e comportamento antissocial que beirava o eremitismo. Bem, havia esses físicos, e também havia Volt. O engraçado e exuberante Volt.

Dizia isso por que, oras, ele era o espírito de qualquer confraternização de fim de ano, sempre o cabeça das competições de gaivotas de papel no escritório. E se em uma saída em grupo ao teatro um membro da audiência fosse chamado para ir para os holofotes, Volt certamente seria o voluntário – ou prontamente indicaria a pessoa mais tímida da equipe, Sophia.

— Pensei que estivesse saindo com uma menina chamada Patty. — Angeline replicou, em tom acusatório.

— Francamente, Angeline... essa aí conseguia ser até mais grudenta do que você. — Tina rolou os olhos com monotonia. A mulher lhe mostrou a língua, afetada.

Patty isso, Patty aquilo... — foi a vez de Sophia imitar a voz grave de Volt, arrancando risadas incrédulas de Tina e Angeline.

Tatty. ­— ele corrigiu, dando de ombros.

A ruiva cruzou os braços finos sobre o peito e deu as costas para Volt, rotando-se para a janela. Estava cansada de ouvi-lo falar sobres suas idas e vindas amorosas. Desde que ele havia se separado da ex-namorada, há oito meses, sua vida agora se resumia na busca por uma nova pessoa que pudesse ocupar essa posição em sua vida. Sophia já havia tido notícia da ladra que havia assaltado-o no final do primeiro encontro, da judia mercenária que ele havia conhecido pela internet e da vegana grudenta que havia subitamente cortado os laços com Volt depois de ter misteriosamente recebido uma proposta indecorosa.

— Não deu certo. — prosseguiu — Parece que eu acidentalmente repassei um e-mail de uma churrascaria que inaugurou, e ela entendeu que eu estava convidando-a para ir lá no dia de seu aniversário. Tatty não quer me ver nem vestido de alface, cara.

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