E N I G M A

🌪 07: Ambulância

Apesar do calor abrasador que fazia do lado de fora, Katrina bateu fortemente o queixo ao ser atingida pelo jato de ar gelado que soprava incessantemente pela saída de ventilação da ambulância. Ela e Alexander estavam presos no tráfego há dez minutos, mas o ambiente não parecia ficar mais leve. Cansada de tentar suportar a atmosfera congelante, se levantou, batendo no vidro que representava sua única comunicação com os paramédicos do banco da frente.

— Ei? Senhor? Pode aumentar a temperatura? Está muito frio.

Nada.

— Senhor? — elevou o tom de voz, batendo no vidro com mais força.

Nada, de novo.

Bufou quando tornou a se sentar no banco, cruzando os braços nus sobre o peito. Talvez eles não estivessem ouvindo-a.

Ou talvez estivessem simplesmente optando por ignorá-la.

O pensamento a aborreceu.

— É um absurdo! Os cidadãos pagam seus impostos e, mesmo assim, esse serviço é um lixo.

Mantendo os olhos fechados e a cabeça apoiada na parede interna do veículo, Alexander a ignorou completamente. Um momento de silêncio constrangedor transcorreu e Katrina ficou ali, sem saber o que dizer.

Desde o mal entendido no escritório de Margaret, os dois não haviam trocado uma palavra sequer. Alexander nem mesmo a olhava nos olhos, tamanha raiva que ela havia feito-o passar. Agora, no entanto, ambos estavam sendo submetidos a medidas de profilaxia de segurança no Washington DC Emergency Center para avaliar a extensão dos danos causados pela retirada dos trajes especiais.

Katrina ergueu os olhos, analisando a expressão dura Alexander enquanto ele ainda mantinha os seus fechados. As mangas dobradas de sua blusa social ofereciam uma visão ampla dos seus braços torneados, e seus pelos claros haviam se eriçado em resposta à corrente de ar gelado que ainda insistia em transitar no lugar. Tornou a olhar para seu rosto, a expressão calculadoramente a mais fria possível. Não era capaz de dizer, entretanto, se as condições invernais de fato não o afetavam ou se ele estava se mantendo indiferente propositalmente para fazer com que ela se sentisse invisível em suas reivindicações.

Aproveitou para atritar as palmas das mãos, falhando tanto na tentativa de aquecer-se quanto na de chamar a atenção do homem com o barulho produzido pelo chiado. Por fim, veio seu suspiro em rendição. Permitindo que sua imaginação divagasse para as corredeiras mais longínquas de sua mente, ela pensou no cheiro de látex, no soco no estômago que havia sentido após ler o recado, e... em Alexander?

Havia algo tão intenso sobre a sua ligação com aquele homem que Katrina não sabia dizer o que era. Algo que, com todos seus anos de perícia, não sabia ler, tampouco identificar.

A forma como ele a hipnotizara na cena do crime a fazia seu corpo esquentar, mesmo naquele maldito gelo. Ele tinha essa capacidade de mexer com suas estruturas mais profundas, como um fenômeno avassalador. Era certo que essa peculiaridade dos dois havia chegado nos ouvidos da direção; a harmonia da dupla era tão implacável que ressuscitar toda tensão que os envolvia não passava de um desagradável efeito colateral.

Além disso, quase não pôde acreditar quando Sophia lhe relatou com detalhes o que havia realmente acontecido no gabinete de Margaret enquanto ela estava desacordada. Não entendia o porquê de Alexander ter se colocado em risco para prestar-lhe socorros; não entendia o porquê dele ter voltado a cruzar seu caminho, mesmo depois de ter lhe causado tanto sofrimento.

Aquilo tudo era culpa? Arrependimento? Retaliação?

Vamos, Alexander... fale comigo.

O encarava com tanta intensidade que se assustou quando o militar subitamente abriu suas íris azuis, devolvendo o olhar com fervor. As feições masculinas estavam mais rígidas que o normal e seu semblante ainda era irritadiço, mas nem perto de parecer a bomba relógio caótica que havia deixado a primeira cena do crime anteriormente. Bom, aquilo já era alguma coisa. Pelo menos não iria gritar com ela.