🌪 09: Fantasmas

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O lugar que visitavam era uma casa vitoriana com paredes recobertas por hera, e o cascalho rangia sob a sola dos saltos de Katrina no caminho de pedras enfileiradas que a conduzia até a porta de entrada. Apertou a campainha – e também o lábio inferior – em expectativa, esperando o momento em que teria que lidar com um dos fantasmas de seu passado.

A figura que os recebeu, entretanto, tinha um smartphone nas mãos, cabelos verdes e um rosto adolescente e triangular, que seria até bonito se não estivesse preso a uma expressão aguda de tédio. Nada naquela jovem – seu ar de cuidadora impaciente ou seus olhos fixos em Alexander – deixava Katrina a vontade. Apesar disso, a policial mostrou-lhe o distintivo e explicou rapidamente o motivo de sua visita, fazendo com que a enfermeira arregalasse olhos delineados e fizesse um sinal para que entrassem quase que imediatamente.

— Senhora Balogh, a senhora tem visitas. — alertou a mulher em tom aberto enquanto cruzava, acompanhada, um corredor de tapete coral.

Alexander ia cobrindo a silhueta de Katrina, na frente da policial. Ao parar na sala bem iluminada, viu uma senhora de olhos verdes encará-lo com uma forte expressão de assombro.

A mulher era branca, aparentava ter 50 e poucos anos, tinha o corpo esguio e esbelto, apesar de confinado a uma cadeira de rodas. Ela lhe jogou seus olhos verdes como se perguntasse o que um completo desconhecido fazia dentro de sua casa. O cabelo, de um belo tom loiro claro, estava preso em um coque sofisticado que emoldurava o rosto marcado por pequenas rugas da idade. No entanto, sua estrutura óssea, ligeiramente eslava, também revelava uma beleza outrora reluzente. Ela moveu os braços pontudos com afoito e os apoiou ao redor dos arcos da cadeira, se aproximando de Alexander.

— A senhora é Emilie Balogh? Sou o Capitão Haupttman, e estou com o FBI. Posso lhe fazer algumas per... — ele parou de falar assim que viu os olhos espantados da mulher serem tomados por um brilho de encantamento.

— Kat!

Katrina saiu do encalço de Alexander, onde foi puxada por Emilie para um abraço caloroso que a morena, para sua surpresa, retribuiu com carinho e afeição.

— Entrem! — sua voz era esganiçada, como se ela precisasse fazer esforço para recuperar as energias depois do abraço abrupto — Raphaela, onde está a chaleira?

Ambas sumiram no caminho da cozinha, permitindo que Katrina e Alexander observassem o cômodo com mais atenção. A sala de estar, espaçosa e rústica, era recoberta por imensas pinturas emoldurada nas paredes de pedra. Ele se aproximou para olhar os quadros minuciosamente, observando o que pareciam ser deusas iluminadas por diferentes tonalidades de dourado. Descobriu-se ainda mais curioso ao perceber que todos eles eram assinados pela própria senhora Balogh.

— Faz parte da terapia. — ele ouviu a voz de Katrina atrás de si — Ela pinta para diminuir a dor da lesão medular.

Alguns instantes depois, Emilie voltou, sozinha, com utensílios para o chá sobre uma bandeja no colo. Alexandre rapidamente se moveu para ajudá-la, um gesto que Katrina, que havia permanecido parada, censurou com um toque firme em seu braço. Ele compreendeu de imediato: era importante para a senhora Balogh que ela fizesse as coisas sozinha. A cadeirante, por sua vez, não pareceu notar o conflito silencioso que se desenhou na sala, indicando com a cabeça para que Katrina e Alexander se sentassem. Colocou os objetos em cima da mesinha de centro e encheu sua xícara, fazendo um sinal para que os visitantes enchessem também.

— Pois então, minha querida, faz tanto tempo! O que a traz aqui?

Por um segundo, Katrina desejou que o chá fosse vodka pura. Sabia que aquela conversa exigiria remédio mais severo.

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