Vejo o receio nos olhos do professor, mas ele controla-se o melhor que pode. Aproxima-se de mim com todo o cuidado e, tentando parecer calmo, dá-me orientações para recolher as asas. Não sei o que pensar desta situação, estou completamente baralhada e surpresa que nem sequer abro a boca. As pessoas não tiram os olhos de mim. Sou conduzida pelos corredores da academia até uma porta que diz por cima "Gabinete dos Mestres". O professor explica o sucedido a uma senhora que estava sentada numa secretária ao lado da porta e ela dá-nos permissão para entrar.
A seguir àquelas portas estava uma sala enorme, decorada com um bom gosto antigo. No centro encontrava-se uma mesa de madeira em forma de U. No topo encontrava-se o mestre que me tinha ido ver ao hospital, o mestre Jorge Pereira e parecia ser o mais velho, pelo que supus que fosse quem realmente controlava tudo na academia. De cada um dos lados da mesa encontravam-se mais dois homens, cada um deles aparentavam ter uma idade não muito longe do primeiro.
Em frente à mesa dos mestres estavam várias cadeiras, pelo que guiaram até à que estava ao centro. Quem começou a falar foi o mestre Pereira.
- Olá Inês. Penso que podes estar muito confusa. - eu acenei que sim - Bem, então nós vamos tentar esclarecer-te. Já deves ter reparado que as tuas capacidades não estão muito dentro do normal para uma nova aluna. E para comprovar que existe algo de diferente em ti acontece isto. A cor das tuas asas é algo que nem mesmo nós entendemos, mas vamos pesquisar e tentar entender o que se passa. Algo que temos a certeza é que tu és especial, pelo que para além das aulas que já tens terás treino extra. Assim temos de te comunicar algo difícil. Terás de deixar o teu curso na universidade por uns tempos.
Fico atónita a olhar para ele, pois aquela história é muito estranha, uma vez que não faz sentido aumentarem-me as horas de treino. Quando o mestre Pereira me disse que não entendia a cor das minhas asas senti algum desconforto da parte do meu professor, como se o mestre não me estivesse a dizer tudo. Mas o que realmente me incomoda é ter de deixar o meu curso, os meus amigos... A cara dos mestres dizia-me que não havia nada que eu pudesse dizer que os fizesse mudar de ideias, mas decidi tentar.
- Deixar o meu curso? Não há outra forma de fazer as coisas? A faculdade é muito importante para mim... - sou interrompida pelo mestre Pereira.
- Não, não há mesmo outra hipótese.
Sem mais sou conduzida a sair da sala, mais confusa do que entrei. Tentar esclarecer-me uma ova! Sou deixada sozinha na academia e decido ir vaguear um pouco pelos jardins. Ainda não tinha tido oportunidade de os ver bem e presto atenção a tudo à minha volta. As árvores com as suas copas verdes criam sombra no caminho que percorre todo o jardim. Vários bancos são dispostos ao longo das margens deste caminho e em pequenas clareiras. Ouço um rio correr e tento chegar até ele. Depois de andar um pouco encontro o lago onde o rio termina. O lago é bastante grande, tem uma pequena enseada que cria uma praia, zonas de relva nas suas margens e alguns bancos. Decido então deitar-me na relva a ouvir simplesmente o som da natureza que me envolve.
Nunca me tinha apercebido que a academia estava tão bem escondida no interior da serra da Estrela, uma vez que quem ainda não voa usa o metro próprio da academia que chega lá em pouco menos de meia hora. Ainda não está calor mas também já não está o frio que estava em pleno inverno. Pelo que suspeitei que nevasse nessa altura. A minha mente vagueia pelo que se está a passar sem conseguir encontrar qualquer resposta. Até que sinto alguém aproximar-se e ouço uma voz profunda.
- Aqui está a rapariga das asas negras.
Olho para trás para identificar a quem pertence aquela voz é deparo-me com um rapaz alto, de cabelo escuro, olhos azuis, sardas e pele clara. Na verdade faz-me muito lembrar o Carlos... Com aquele pensamento volto a deitar-me e a fechar os olhos.
- Quem és tu? Como sabes quem sou? E o que queres? - pergunto-lhe.
Sinto-o a sentar-se ao meu lado. Não sei quem lhe deu permissão para se sentar ao meu lado, mas ignoro, pois para protestar teria de olhar para ele e não quero pensar no Carlos...
- Eu chamo-me Miguel. Sei quem tu és porque a notícia de que uma aluna nova tem asas negras já correu a academia inteira. Uma vez que já falei com a Catarina e a Maria e não são elas, só podias ser tu. E eu estou aqui porque és tu que queres algo de mim. - responde-me ele.
Eu abro os olhos espantada e olho para ele. Está com um sorriso matreiro, igualzinho ao do Carlos... Volto a fechar os olhos e pergunto-lhe:
-Como assim eu querer algo de ti? Nem sequer te conheço.
- Pois, mas eu posso ter as respostas que procuras.

VOCÊ ESTÁ LENDO
A Academia
RomanceSou uma rapariga de 18 anos acabada de entrar na faculdade e com uma vida completamente normal, até ao dia em que alguém entra na minha vida para a salvar de um atropelamento... Será que daqui irá nascer um novo romance? Ou será que forças maiores v...