O adeus... ou talvez não...

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Afastamo-nos o suficiente para olharmos um para o outro. A felicidade nos olhos do Carlos começa a desaparecer e eu apercebo-me de que estão a falar com ele mentalmente.

- Tenho ordens para te levar a casa… - diz-me – Vão arranjar um substituto para mim, mas até conseguirem continuarei a proteger-te como puder à distância. Depois disso serei julgado e castigado.

A voz dele mantém-se neutra, o que me magoa… Limito-me a pedir-lhe desculpa, a baixar o olhar e dirijo-me à mota. Ele puxa-me de volta e ao olhá-lo nos olhos vejo a mesma mágoa que está nos meus.

- Não me peças desculpa por algo que valeu completamente a pena! Não me arrependo! Foi perfeito! Desculpa-me a mim porque te fazer ficar sem a minha presença.

- Repito o que disseste: não me peças desculpa. Voltava a fazê-lo.

São as últimas palavras que trocamos. Chegamos ao meu prédio e tentamos despedir-nos o mais rápido e friamente que conseguimos, para não doer tanto. Mas é impossível… Quando estou a virar costas ele puxa-me de volta e abraça-me com força. Nunca um abraço soube tão bem mas tão triste ao mesmo tempo.

- Adeus – sussurro.

- Adeus – ouço-o responder-me.

Viro-lhe costas mesmo a tempo de ele não ver as minhas lágrimas caírem. Entro em casa e fecho-me no quarto. Choro, não sei ao certo por quanto tempo. Choro por tudo o que está a acontecer ser tão injusto. Irrito-me com toda a situação e continuo a chorar. Até que me acalmo e percebo que não vale a pena continuar assim, tenho apenas de tentar seguir em frente, por muito que doa. Por muito que custe pensar que provavelmente não o voltarei a ver.

**

Os dias passam, tristes e cinzentos. As minhas férias estão quase no fim e não podiam ter sido piores. É Domingo, o meu último dia antes de regressar às aulas e decido ir dar uma volta sozinha. Estou na gare e vejo o comboio a chegar quando sinto o mesmo empurrão que senti em Lisboa, no dia em que tinha ido à escola de condução. Estou em desequilíbrio e sei que não me vou conseguir equilibrar a tempo de não levar com o comboio, vou cair… Espero que os braços do Carlos me envolvam para me protegerem… Eles não vêm… Estou por minha conta… O comboio está a 2m de mim quando sinto uma força, vinda do nada puxar-me para trás… Não é o Carlos, não é mais ninguém… De repente deixo de ver… Perco a consciência…

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