O tempo foi passando. Há um mês que estou na academia e a amizade entre mim, a Catarina e a Maria cresceu imenso. Neste momento somo praticamente inseparáveis. Devido à situação com os pais a Cat está a viver na academia, e eu como os treinos e os estudos estavam aumentados também, por isso pedimos para ficar no mesmo quarto. Esta sexta-feira à noite há uma festa na academia, vai haver a pausa por causa da Páscoa e os alunos decidiram comemorar. Os mestres consentiram desde que mantenhamos tudo intacto e ninguém se magoe. A festa é dedicada a todos os alunos que estão nos primeiros 7 anos, uma vez que é esse o tempo de treino de aprendizagem. A partir daí ou se é professor ou mantém-se guardião treinando apenas por rotina. Um aluno pode passar a ser guardião a partir do terceiro ano a estudar na academia. Como todas as festas da academia é necessário haver um par, mas nesta seriam as raparigas a convidar os rapazes. Nenhuma de nós as três faz ideia de quem vai convidar e é exatamente disso que falamos ao almoço hoje.
-Meninas, faltam 4 dias! Temos de nos mexer se não queremos passar a noite no quarto sozinhas.- digo-lhes.
-Eu tive uma ideia...- diz a Cat com um ar matreiro - Tal como nós, os rapazes da nossa turma são novos por cá... Não conhecem muita gente... Podíamos convidá-los...
Olhamos todos na mesma direção dela que olhava na mesa deles. Na verdade eles não são nada feios.
-Eu acho que é capaz de ser boa ideia, mas mesmo assim eles são só dois... - respondo-lhe.
No momento em que digo isto passa o Carlos pela nossa mesa. Olha-me nos olhos com aqueles olhos azuis e sorri-me timidamente. Eu desvio o olhar para a mesa. Não o podia convidar a ele.
-Talvez pudesses falar com ele e perdoá-lo... - diz-me a Maria que me leu os pensamentos.
- Nem pensar... Ele não tinha o direito de me esconder uma coisa destas...
-Nê...
Ficamos um pouco em silêncio, tínhamos voltado à estaca zero. Sinto-me observada e olho em volta. Dou com os olhos do Carlos em mim e vejo na sua expressão que ganhou coragem para fazer algo. Levanta-se e com aquele andar característico dele que eu sempre adorei vem até à nossa mesa e diz-me:
- Inês, precisamos mesmo de falar... Podes vir comigo por favor?
Eu não posso, mas ao mesmo tempo não lhe consigo dizer que não. Tenho de lhe dar um oportunidade de falar. Viro-me para as raparigas:
- Eu venho já. Avancem com a ideia que acabámos de ter, eu depois arranjo-me.
Levanto-me e saio do bar em direção aos jardins. O Carlos acompanha-me em silêncio. Chegamos a uma clareira e eu sento-me na relva de pernas cruzadas e olhos no chão. Ele senta-se à minha frente e começa a falar.
- Nê, por favor desculpa-me... Eu não podia fazer nada... Estava de pés e mãos atados... - faz uma pausa e eu olho para ele. Tem os olhos cheios de lágrimas prontas a cair. Nunca o vi tão triste. Então continua - Tantas vezes que te quis contar, mas tinha de te proteger... És demasiado importante para mim para que eu arriscasse que te fizessem alguma coisa...
- Se eu sou assim tão importante porque é que arriscaste perder-me ao não me contar? E porque é que me deixaste sozinha? - atiro irritada, também de lágrimas nos olhos.
- Tu sabes que eu não tive escolha! Eles obrigaram-me a afastar-me! Se errei em alguma coisa foi em pôr-te em risco ao beijar-te...
Ao dizer-me isto foi como se me tivessem dado uma bofetada. Foi como um golpe no peito. As minhas lágrimas caem descontroladas.
- Achas que foi um erro beijar-me - sussurro.
- Não! Era o que mais queria fazer! Mas deixei-te desprotegida ao faze-lo... Eu apaixonei-me por ti Inês! Não te consigo esquecer! Mas devia ter-te protegido...
- Então arrependes-te...
- Por um lado não, mas por outro sim...
Olho para ele. Percebo o que me está a dizer mas ao mesmo tempo não consigo deixar de ficar magoada. Ele tinha acabado de me dizer que se arrependia. Dos meus olhos continuam a escorrer lágrimas. Ele estende a mão e limpa-as com o polegar fazendo-me uma festa. Aquele toque trás todos os meus sentimentos ao de cima e eu começo a chorar compulsivamente. Ele agarra-me e puxa-me para a colo dele. Envolve-me nos seus braços e aperta-me bem junto a si.
-Shhh... Desculpa ter-te magoado desta maneira. Nunca foi minha intenção. Desculpa... - sussurra-me ao ouvido e eu ouço na voz dele que também chora...
Afasto a minha cabeça do peito dele e olho-o nos olhos. Sinto tanto a sua falta. Estar nos seu braços novamente é como regressar a casa. Sentir o batimento do seu coração, ouvir a sua respiração... Olhar nos seu olhos profundos e perder-me... A mão dele volta a passar na minha cara para afastar as últimas lágrimas e pousa no meu pescoço. Ele aproxima-se lentamente a medo. Eu sei que o devia afastar mas a saudade é imensa. Os nossos lábios unem-se e o meu corpo estremece. Percorre-me uma sensação de saudade misturada com alívio. O beijo começa suave, a medo e tímido, mas depressa é mais forte que nós e a intensidade aumenta, explorando os lábios um do outro, procurando unirmo-nos mais do que já estávamos. Até que termina e ele me olha nos olhos.
- És muito para mim pequena... - diz-me com toda a sinceridade que tem...
Eu quero responder-lhe que também é muito para mim. E é realmente. Mas algo em mim ainda se sente traído e eu não consigo confiar nele.
- Eu não posso Carlos... - acabo por lhe responder.
Levanto-me de lágrimas nos olhos novamente e vou para o quarto passando pelo bar. Entro no quarto, bato a porta e deito-me na minha cama a chorar agarrada à almofada. Sinto a Catarina e a Maria entrarem no quarto e sentarem-se junto a mim. Fazem-me festas nas costas e dizem que vai ficar tudo bem. Quando me acalmo conto-lhes o que aconteceu.
- Nê, eu acho verdadeiramente que o devias perdoar, mas se não te sentes preparada nós aceitamos e estamos aqui para te apoiar. - diz-me a Maria.
Eu aceno e faço um pequeno sorriso em resposta. Depois limpo as lágrimas e peço-lhes que me contem como foi com os rapazes. Elas contam-me que eles são super simpáticos e que aceitaram logo. A Cat ia com o Tomás e a Maria com o Rodrigo. Na verdade eu acho que fizeram exatamente a escolha certa. Fazem pares muito giros assim. Agora só falto eu e não sei mesmo quem vou convidar...

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A Academia
RomanceSou uma rapariga de 18 anos acabada de entrar na faculdade e com uma vida completamente normal, até ao dia em que alguém entra na minha vida para a salvar de um atropelamento... Será que daqui irá nascer um novo romance? Ou será que forças maiores v...