Entro no quarto e bato a porta. Passam poucos minutos e entra a Cat atrás de mim. Ela assistiu à cena toda. Eu estou deitada na minha cama agarrada à almofada a tentar não chorar. Como é que podia ter sido tão burra?! Para que é que tinha feito aquilo, se sabia que o Carlos podia aparecer e certamente ia ficar magoado, tal como eu ficaria?! Porque é que às vezes eu só era capaz de pensar em mim?! Ainda por cima com o irmão dele! Mas mesmo que fosse outra pessoa iria sempre ser muito mau!
A Catarina aproxima-se, senta-se na minha cama e tenta confortar-me:
- Tem calma... Conta-me o que se passou Nê...
Ouvir a alcunha que o Carlos me tinha posto só faz com que a minha dor aumente ainda mais e rebento. Desato a chorar compulsivamente. Como pude ser tão burra. Fico a chorar durante um bom tempo, sempre com a Cat a tentar acalmar-me. Quando por fim respiro fundo, já mais calma, explico-lhe tudo, entre algumas lágrimas silenciosas. Ela abraça-me e ficamos assim algum tempo.
- Então mas conta-me lá o que se passa com o Tomás - quebro o silêncio.
- Oh, ele é giro, tens de admitir. - sorri
- Gostas dele?
- Ahn? Nah! Estava só a aproveitar a noite! - Ri-se meio atrapalhada.
- Então porque é que tens um sorriso parvo na cara e um brilho estúpido nos olhos? - pergunto-lhe a sorrir.
- Oh... Não sejas assim... - baixa a cabeça a sorrir e a começar a corar.
Desato a rir.
- Eu sabia! Tu é que não queres admitir!
- Shhhhiu! Eu não gosto dele! Acho eu...
Partimos-nos as duas a rir à gargalhada. Apesar de tudo o que se está a passar comigo eu quero que a Cat esteja feliz. Depois de tudo o que se está a passar com os pais merece alguém, para além de mim e da Maria, ao seu lado.
De repente entra a Maria, corada e com um sorriso enorme na cara. Fecha a porta do quarto atrás de si, encosta-se à mesma e sorri de olhos fechados.
- CONTA-NOS TUDO!!! - quase que gritamos eu e a Catarina em uníssono.
A Maria parte-se a rir.
- Calma meninas eu conto! - corre para a minha cama e senta-se junto a mim e à Cat - Ele é super querido! Perdi-me desde o início do ano naqueles olhos cor de mel, admito. Ninguém dá conta mas ele tem alguns traços verdes no olhos. São lindos!
- Maria, hello, nós queremos saber mais sobre esta noite! - diz a Catarina impaciente.
- Sim, sim. - responde a Maria - Então, vocês foram dançar, mas a mim não me apetecia, não sou grande dancarina... Ele disse que também não tinha muito jeito e que não podia deixar o seu par tão lindo ali sozinha, ou ainda lhe tiravam o lugar. - ela para a explicação por momentos para sorrir daquela maneira que só alguém recém apaixonado consegue. - Então começámos a conversar. Sobre tudo, gostos, hobbies, etc. A certa altura vocês estavam muito "ocupadas" e eu e ele estávamos fartos de ter de gritar por causa da música. Então ele disse que havia um sítio da academia que me queria mostrar. Pegou na minha mão e vocês viram-nos sair. Então ele levou-me a um lugar nos jardins onde se vê toda a academia, é simplesmente lindo! As luzes todas! Sentamo-nos no chão e ele disse-me para me deitar, como não havia luz à nossa volta as estrelas viam-se todas! Foi espetacular! Estávamos deitados lado a lado, ele olho para mim, chamou-me e quando eu olhei para ele beijamos-nos! - Acaba de contar à sorrir estupidamente e a corar.
- OOOOOH -Dizemos eu e Cat em uníssono.
A Catarina conta a noite dela à Maria e explica-lhe o que aconteceu comigo porque eu não sou capaz. Depois vamos dormir que amanhã vamos todas de viajem.
O dia amanhece com sol. Levantamo-nos todas a começamos a preparar-nos para ir para casa. A Cat está em baixo, o que é compreensível. Depois de prontas e tudo arrumado descemos até ao metro da academia. É à entrada que nos separamos, a Maria para o de Santarém e eu e a Cat para Lisboa.
- Portem-se bem na capital sem mim meninas! - diz-nos a Maria.
- Claro, sabes que somos umas santinhas. - respondo-lhe a rir.
- Hum hum - é tudo o que a Catarina diz de olhos no chão.
Nós abraçamo-la e a Maria diz-lhe para não ficar assim. Depois seguimos caminho. A Cat mete os fones assim que nos sentamos e eu decido deixá-la estar. Ela precisa de desanuviar. A viajem decorre tranquilamente e quando chegamos já lá está a minha mãe à nossa espera mais o meu maninho de 4 anos. Eu corro para eles, o meu irmão salta para o meu colo e a minha mãe abraça-nos. Olho para a Catarina, está de olhos no chão mas vejo que lhe corre uma lágrima pela face. Ao olhar para a minha mãe vejo nos seus olhos compaixão. Ela larga-me a mim e ao meu irmão e dirige-se à Catarina.
- Olá, deves ser a Catarina, eu sou a Maria João, mãe da Inês. Ela falou-me muito de ti e contou-me o que se passou. Quero que saibas que és muito bem vinda em nossa casa e se a minha filha diz que és como uma irmã para ela, então serás tratada por mim como uma filha. - e sorri.
Fico surpreendida com a minha mãe, ela não se liga facilmente às pessoas, mas deve ter visto algo na Cat. Ela sorri e deixa cair mais uma lágrima. Então a minha mãe abraça-a e, depois de apresentarmos a Cat ao meu irmão seguimos para o carro, em direção a casa. Assim que chegamos o meu cão salta para cima de mim e aparecem os dois gatos. Depois de algum tempo sem vir a casa era normal aquela receção. Decidimos que a Cat fica na cama que temos no escritório a fazer de sofá de leitura, mas eu disponibilizo-lhe uma parte do meu armário e do balcão da minha casa de banho para ela se instalar. Assim que arrumamos tudo vamos dar uma volta com o meu cão. Depois de jantar estamos tão cansadas que estamos um pouco a conversar mas rapidamente vamos dormir.
Os dias foram passando, entre manhãs a dormir para podermos descansar, tardes de filmes e séries e noite no café com os meus amigos. Todos tinham recebido lindamente a Cat, e passado pouco tempo ela já é a minha irmã para toda a gente. A minha mãe perguntou-me pelo Carlos e eu acabei por lhe contar tudo o que tinha acontecido. Tivemos notícias da Maria, ela disse que está tudo a correr bem mas que já sente a nossa falta e do Rodrigo. Depois de muito falar acabei por decidir que assim que chegasse à academia ia confrontar o Miguel para que ele me contasse o que sabia e depois iria falar com o Carlos. Visitei o pessoal da faculdade, mais uma vez a receção da Cat foi ótima. Tinha saudades daquela vida é sentia-me triste por não poder voltar. Por outro lado a Catarina está "feliz", sente-se integrada na minha vida, o que faz com que suporte melhor a situação com os pais. O Tomás manda-lhe mensagens todos os dias, e apesar de ela dizer que não sente nada eu vejo aquele sorriso parvo com que ela fica sempre que recebe uma mensagem dele. Estas foram as nossas férias e, após duas semanas de descanso estamos prontas para voltar para a academia. A minha mãe levamos ao metro no último sábado das férias. Assim temos tempo para descansar e falar as três sobre tudo antes das aulas começarem. Despedimo-nos da minha mãe e do meu irmão e apanhamos o metro. Desta vez sou eu a pôr os fones, preciso de pensar. Estás duas semanas serviram também para organizar tudo na minha cabeça. Tinha duas conversas para ter e precisava de ter tudo acente. Por fim, chegamos e assim que saímos vemos a Maria, vamos todas a correr e abracamo-nos. Havia muito para contar, mas assim que nos separamos eu vejo o Miguel.
- Hey, temos de falar - grito-lhe - Agora!
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A Academia
RomanceSou uma rapariga de 18 anos acabada de entrar na faculdade e com uma vida completamente normal, até ao dia em que alguém entra na minha vida para a salvar de um atropelamento... Será que daqui irá nascer um novo romance? Ou será que forças maiores v...