Duas novas amigas

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As respostas que eu procuro? Como é que pode ser possível?! Eu não conheço este rapaz de lado nenhum... Decido abrir os olhos e olhar para ele para o confrontar com o que tinha acabado de dizer, mas quando o faço ele já não estava lá... O Miguel tinha simplesmente desaparecido... Mas quem era este gajo que aparecia do nada, sem me conhecer de lado nenhum para me dizer que tinha respostas e depois desaparecer?! Será que eu tinha escrito na testa "GOZEM COM A MINHA CARA"? Para além de tudo o que estava a acontecer e ainda a situação com o Carlos...

Chego à conclusão de que não vou conseguir ficar sossegada ali deitada sozinha. Decido então ir até à academia. Talvez socializar um pouco... Vou até ao bar e peço uma Cola. Sento-me uma das mesas e observo o que me rodeia. As pessoas conversam animadamente. Alunos e professores passam e fazem a sua vida. Todos parecem estar bem. Vejo então a rapariga ruiva da minha aula dirigir-se à minha mesa e sentar-se.

- Olá, eu sou a Catarina da tua aula como sabes! - apresenta-se com um enorme sorriso e como eu fico especada a olhar para ela sem dizer nada ela continua - Eu sei que é estranho eu vir aqui falar do nada, mas não conheço ninguém aqui e como somos da mesma turma achei que podíamos ser amigas... - pára e olha para o chão.

Ela tem razão, não podia continuar na academia sem conhecer ninguém e ela parecia simpática.

- Tens razão! Eu sou a Inês, como sabes. - Sorrio.

Começamos então uma animada conversa sobre como eram as nossas vidas antes de tudo aquilo acontecer. Ela conta-me que vivia em Oeiras, com os pais e a irmã mais velha dois anos. Eram uma família muito unida, no entanto bastante religiosos. Ao tocar neste assunto vejo os seus olhos ficarem tristes mas rapidamente afasta essa tristeza e muda de assunto. Fala-me dos amigos que tinha de infância e que apesar de ela andar distante continua a ser muito próxima deles. A seguir é a minha vez de contar à Catarina a vida que tinha. Digo-lhe o quão chegada sou à minha mãe e aos meus amigos do secundário. Conto-lhe a minha entrada para a faculdade e como os amigos que tinha feito eram importantes para mim. Lembro-me de que não posso lá voltar e conto-lhe isso também. Ela fica intrigada e eu acabo por lhe contar a reunião com os mestres e do Miguel.

- Isso é tudo muito estranho, mas agora somos amigas e eu vou ajudar-te a desvendar tudo! - diz-me com aquele sorriso super contagiante na cara.

Eu sorrio de volta, sabe realmente bem ter alguém com quem falar. Vejo então o Carlos entrar no bar e olhar para mim. Os olhos dele entristecem e os meus também.

- Que se passa? - pergunta-me a Catarina preocupada.

- Está ali... É uma história complicada...

- Eu sei que só me conheceste agora, mas podes confiar em mim...

Aquelas palavras soam na minha cabeça com alguma ironia. Afinal foi assim que conheci o Carlos e agora estava provado que não podia confiar nele. Por fim decido falar com ela, preciso realmente de falar com alguém sobre aquilo.

- Acabou de entrar no bar um rapaz que eu conheço porque estava destacado para me proteger.

-Tu conheceste a pessoa que te vigiava? - pergunta-me ela espantada.

- Sim, mas por acidente. A verdade é que nos apaixonámos um pelo outro mesmo sabendo que não podíamos e ele sabia que eu tinha o gene e nunca me contou. Odeio que me mintam e perdi completamente a confiança nele. E o pior é que não o consigo esquecer...

Desato a chorar e a Catarina abraça-se a mim. Sei que muito provavelmente o Carlos está a olhar mas não me vou preocupar com isso agora...

- Bem, não penses nisso agora. Temos aula de história, vamos?

Eu enxugo os olhos e aceno. Seguimos para a aula. A sala não é grande, até porque a turma continua composta dos mesmo elementos. Ao entrar choco sem querer com a Maria.

- Desculpa. - diz-me ela envergonhada.

-Não faz mal - sorrio-lhe para tentar pô-la mais à vontade - queres sentar-te junto de mim e da Catarina?

- Claro, porque não?

Sentamos-nos e a aula começa. A academia tem milhares de anos... É a única coisa que retenho desta aula. A minha cabeça divaga sobre o que sinto pelo Carlos. Como é possível que depois de termos construído algo como tínhamos agora ele possa ter quebrado a minha confiança assim...? Deito a cabeça nos braços para que o professor não veja as minhas lágrimas e sinto a mão da Catarina no meu ombro. A aula passa-se assim.

- Terminou a aula, podem ir almoçar. - informa o professor.

Com os olhos já secos levanto a cabeça e olho para a Catarina.

- Vamos almoçar miúda? - pergunta-me ela a sorrir para me tentar confortar.

- Claro - viro-me para a Maria - Queres vir conosco?

Ela responde que sim e seguimos para o bar e almoçamos calmamente. Ouvimos a Maria contar-nos sobre a vida dela e nós contamos-lhe a nossa. A Maria vem de uma aldeia perto de Santarém. É uma rapariga tímida, pelo que tinha deixado para trás apenas a melhor amiga. Mantém contacto com os pais e o irmão mais novo 3 anos. Que diz ser um autêntico chato. Vejo os olhos da Catarina ficarem tristes novamente. Decido então perguntar-lhe:

- Que se passa Cat?

- É que... Os meus pais são extremamente religiosos... Por isso não acreditam no que me aconteceu... Acreditam que morri e que as minhas alterações se devem a um demónio ter entrado no meu corpo... - caem-lhe lágrimas pelos olhos.

Eu e a Maria rapidamente a abraçamos. Não imagino como seria se eu perdesse a minha mãe desta maneira.

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