João, o "sortudo".

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     Eu deveria ter treze anos quando fiquei preso pela primeira vez no elevador. Lembro que havia sido nesse dia que meus pais haviam ido pela escada e eu mostrando total independência fui pelo elevador.

     Péssima ideia. Sozinho, fiquei os cinco minutos mais longos e aterrorizantes da minha pequena existência preso ali.

     Quando finalmente eu sai, eu chorava. Minha mãe tentava me acalmar enquanto meu pai dizia que havia sido apenas um problema de energia e que agora eu estava com eles e que tudo ficaria bem, mas eu apenas soluçava, e a partir daquele dia eu jurei que não entraria mais em nenhum elevador.

     O apartamento podia ter dez andares eu subiria os dez sem reclamar. Meu pai, enquanto estava vivo, havia tentado muitas vezes em vão me convencer de entrar em um elevador, mas eu sempre batia o pé e dizia que nada me faria entrar em um daqueles trecos.

     Cheguei com as pernas doendo de tanto correr no estacionamento da igreja, faltavam apenas cinco minutos para que o evento desse início as suas apresentações e eu sabia que não conseguiria subir cinco lances de escadas em menos do que isso, do jeito que eu estava eu tinha certeza que demoraria muito mais. Respirando com dificuldades caminhei até a escada e olhei para a porta do elevador que estava ao lado.

     Eu não queria entrar, mas não podia negar que se eu subisse de elevador conseguiria chegar a tempo. Juntando toda a minha coragem eu entrei, eram apenas três andares, era só fechar os olhos que logo eu estaria lá.

     Apertei o botão do terceiro andar e as portas começaram a se fechar:

     +ESPERAAAAAAAAAAAAAAAAAA! –Uma Obreira apareceu correndo pelo estacionamento. –POR FAVOR!

     Coloquei a mão sobre a porta para impedi-la de se fechar, a porta deu dois trancos, mas consegui segurar até que a Obreira entrasse no elevador.

     -Ufa! Se eu perdesse esse elevador era mais do que certo que eu chegaria atrasada! –Ela tentou arrumar seus cabelos escuros, enquanto recuperava o fôlego. –Obrigada!

     Apenas sorri e fingi mexer na minha câmera. Não que eu fosse tímido, mas naquele momento eu não estava a fim de conversar, eu só estava me concentrando em não entrar em pânico por estar indo de elevador.

     Olhei para a porta que ainda estava aberta com a testa franzida, não era para ela já estar fechada?

     Um barulho como de uma companhia tocou e a porta tentou se fechar, mas foi até a metade do caminho e voltou a posição inicial. Ela tentou repetir o mesmo movimento, mas sem sucesso. Um novo sinal tocou e eu olhei para a Obreira que estava ao meu lado, parecia tão confusa quanto eu.

     Certamente havia alguma coisa errada.

     -Acho que é melhor a gente sair daqui... –Ela falou e eu não precisei que repetisse, mas assim que nós dois fizemos a menção de sair do elevador as portas se fecharam com um baque muito forte e um estralo enorme fez o elevador começar a subir.

     Meu coração batia com força contra o meu peito e eu tentava me acalmar, mas tudo em vão quando novamente um barulho muito forte e o elevador tremeu me fazendo segurar nas paredes.

     As luzes se apagaram e o elevador parou.

     Estava acontecendo tudo de novo!

Amor em uma fotografiaOnde histórias criam vida. Descubra agora