Finja que eu estou desmaiado.

689 94 1
                                    

O mundo para e você esquece até como respira.

Aí ele volta a girar e você sente seu estômago de embrulhar.

O Pastor William estava ali na minha frente e eu só pensava em mil maneiras de como fingir um desmaio sem parecer suspeito.

"Oi, Pastor. Eu vou desmaiar aqui, mas o senhor não precisa me socorrer não, tá? Só me deixe aqui."

Fácil de mais.

-Oi, Pastor. -Sussurrei e ele fez uma careta sutil, mas não identifiquei o que havia incomodado.

-Eu pensei em encontrar todo mundo aqui, menos você. -Ele sorriu. -Que mundo pequeno, não acha?

Bota pequeno nisso.

-Verdade.

-E aí, como está a Obra?

-Como assim?

-Meu filho, como está sendo a vida de Obreiro?

Engoli em seco rejeitando todos os pensamentos que eu tinha de desenterrar alguns conflitos antigos.

-Eu não sou Obreiro, Pastor.

-Não?

Olhei para ele desnorteado. Afinal, ele mesmo não tinha me levantado a Obreiro!

-Não.

-Pois deveria pensar nisso, você daria um ótimo, Obreiro.

Então eu não consegui. Abri a boca para falar tudo que eu havia guardado em todos esses anos, mas alguém o chamou e ele se despediu de mim.

-Ei, João! Vamos se sentar juntos com os outros jovens! -O Pastor Gustavo colocou a mão em meu ombro, mas ao perceber que eu não me mexia ele me olhou confuso. -Está tudo bem?

-Eu acabei de conversar com o Pastor William.

-Quem é esse, Pastor?

-O Pastor que disse que eu nunca seria Obreiro.

O Pastor arqueou uma das sobrancelhas:

-William Lopes?

-Sim.

-Ele não é Pastor mais, Jota. Ele saiu há muito tempo, e está apenas como jovem firme.

Engoli em seco.

Durante todos esses anos não havia sido o Pastor que havia me impedido de ser Obreiro.

Mas era eu mesmo.

Por mais que eu acreditassem em Deus, eu não acreditava em mim.

Amor em uma fotografiaOnde histórias criam vida. Descubra agora