É estranho mudar. A mudança dói, quebrar o seu eu e reconhecer que você está errado é tipo uma traição consigo mesmo, mas um relacionamento de verdade com Deus é radical, são necessários alguns sacrifícios.
Mas antes que eu recebesse o Espírito Santo, Deus me fez passar por duas situações que se eu pudesse escolher, eu me enfiaria em um buraco e nunca mais sairia até Jesus vim me buscar.
Ótimo, o Paulo diz que eu sou medroso.
Já disse que Paulo não diz nada com nada?
Aos poucos eu via a melhora em mim. Com a minha decisão de me tornar Obreiro, os dois pastores me acompanhavam, sempre me ajudando em tudo que eu precisava. Mônica também me ajudava, mas percebia o receio que às vezes ela tinha de se aproximar. Não sei se estava estampado em meu rosto que eu a admirava "daquela forma", mas eu procurava de todas as formas não pensar nisso. Ela estava como Obreira, e eu em posição de pedir ajuda.
Então veio um evento do FJU e como era longe acabamos alugando um ônibus.
Eu e Paulo havíamos levado um casal de amigos que nós tínhamos desde o tempo da escola, Fernando e Gabriele namoravam há três anos, eles eram um bom casal, e eu torcia para que eles aceitassem a Deus. Eu já os via lá na frente, usando a sua união em favor das pessoas sofridas.
Paulo sentou com Fernando e conversava animadamente, Mônica começou a puxar assunto com Gabriele e me vi em pé no ônibus procurando um lugar para se sentar, quando a maioria já estava ocupada.
Então meus olhos se encontraram com os de Carla e senti meu estômago se revirar. Ela havia tentado de todas as formas se reconciliar comigo, mas eu a evitava o máximo.
Me virei para ir para frente, nem que eu ficasse em pé ao lado do motorista, eu me recusava a ficar ao lado de Carla.
-Ei, aonde você pensa que vai, mocinho? -O Obreiro Joabe perguntou.
-Eu... Eu ia lá pra frente...
-Não tem lugar lá na frente.
-Eu fico em pé.
-Não pode.
-Mas não tem lugar... -Senti minhas orelhas queimarem.
Meu líder sorriu:
-Tem um ali. -Ele apontou para o lado da Carla.
-Não posso ficar em pé?
-Não.
Me virei e caminhei até me sentar ao lado de Carla. Rapidamente tirei meus fones de ouvido e sem olhar para ela comecei a desenrolar os fios.
-Jota, precisamos conversar. -Ela falou.
Tava demorando, pensei.
-Não precisamos, não. -Respondi.
-É sério, Jota.
-Eu estou falando sério também, não quero falar com você. -Se eu precisasse ser duro para que ela entendesse, eu seria.
-Eu queria me desculpar por ter feito o que fiz. -Ela falou após um tempo.
-Você já pediu desculpa para Deus? -Perguntei finalmente a encarando.
-Como é?
Desviada, a voz de Paulo veio na minha cabeça.
-Sua salvação, Carla. Você não tem medo?
-De ir para o inferno?
-Não, isso é consequência. -Coloquei os dois fones. -Medo de viver sem Jesus.
Ela abriu a boca para responder, mas eu não estava mais a escutando.
Eu não precisava ter medo de Carla, se ela quisesse algo com Deus, ela entenderia que não era simplesmente dado em cima de mim, mas era estar perdendo sua salvação sem nenhum esforço para recupera-lá novamente.
Se eu soubesse quem eu encontraria naquele evento, eu poderia falar naquele momento que Carla era o menor dos meus problemas.
Eu estava em pé, batendo palma com todos os jovens da minha igreja quando alguém tocou o meu ombro.
-João Lucas. -A voz do Pastor William fez minhas pernas tremerem. -Quanto tempo!
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Amor em uma fotografia
SpiritualO quão difícil é olhar para dentro de nós e enxergar as inseguranças? Não seria incrivelmente mais fácil mascarar tudo de uma vez e fingir que elas não te incomodam? Mas e quando se conhece alguém que mesmo sem intenção alguma o faz olhar para dentr...