Pois quando sou fraco, é que sou forte!

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Eu acho que sou meio controlador.

Sempre quando vou conversar com alguém algum assunto muito sério e que só de pensar meu coração aperta eu já imagino todo um roteiro para aquilo.

Eu imagino as respostas da outra pessoa e assim me sinto preparado para todas as jogadas, sabendo mais ou menos o que elas vão falar, eu saberei como rebater.

Pessoas são previsíveis. E aquelas que eu não conseguia controlar eram as que mais me apavoravam. Pessoas que eu tinha algo para falar e pensava em suas reações, mas que faziam tudo o oposto do que eu havia planejado.

E Mônica era uma dessas.

Coloquei os dois açaís em cima da mesa e a encarei:

-Posso fazer uma pergunta indiscreta? -Mônica colocou um pouco de açaí na boca e deu de ombros. -Você ainda está noiva do Obreiro Jefferson?

Mônica arqueou as sobrancelhas:

-Você é direto.

-Tento não ser.

-Não. Acabou acontecendo algumas coisas, e terminamos. Por isso, esse foi um dos motivos que me fizeram mudar de igreja.

-Entendi, desculpa. -Me obriguei a colocar um pouco de açaí na boca.

-Magina... Desculpa ter achado que você já era Obreiro. -Ela soltou uma risada fraca.

-De boas. Todo mundo pensa nisso.

-Ah, mas pelo menos você está no CPO, né? Então logo, logo você estará de Obreiro!

-Obreira, não estou no CPO.

-Candidato?

-Não.

-Sendo atendido pelo Pastor?

-Não.

-Ah, eu achei...

-Eu não quero ser Obreiro.

Mônica já era branca, mas com a minha afirmação ela estava quase translúcida.

-Mas por quê?

-Não preciso de um título para ajudar as outras pessoas.

-Mas não é só um título, é uma honra!

-Você não entendeu, Obreira!

-Não, você que não entendeu, João!

-Por favor, Obreira! Eu não quero ser Obreiro, eu posso ajudar as pessoas assim!

-Mas esse pensamento só vai te amarrar, João! Você tem que crescer!

-Como eu vou crescer se não tenho nem o Espírito Santo? -Falei com a voz alta já perdendo a paciência.

Eu não queria ter dito aquilo, mas acabou saindo. Não adiantava nada eu almejar ser Obreiro se o primordial eu não tinha.

-Sabe, João. Às vezes é isso que o impede de receber o Espírito Santo, você não se coloca a disposição dEle, você não pergunta o que Ele quer. Talvez você nem precise ser Obreiro, mas o fato de você dizer "Eis me aqui, Senhor!" Já mostra que não importa a posição, não importa o que Ele vai pedir, não importa o título, não importa as mudanças que Ele vai fazer em você. Você só está ali para o que der e vier!

-Eu não sou perfeito, Mônica.

-Eu também não sou, mas Deus escolheu as coisas loucas desse mundo para envergonhar as sábias, escolheu as que nada são, para reduzir as que são. -Mônica se levantou e alisou seu vestido. -Você tem que vencer a si mesmo, João. Essa é a sua e a minha maior luta.

Ela pegou o açaí se despediu de mim e me deixou ali sozinho pensando em tudo que ela havia falado.

Amor em uma fotografiaOnde histórias criam vida. Descubra agora