Amor em uma fotografia

O Paulo chutou e fez GOOOOOOOOOOOOL!

Mesmo eu amando tecnologia, nada superava um bom e velho, PlayStation 2.

Se você está impressionado, realmente você ainda não me conhece direito.

Minha vida sempre havia sido muito corrida, estudos, trabalho e igreja consumiam a maior parte do meu tempo, mas sempre quando havia tempo de sobra, mesmo com o corpo todo quebrado, quando Paulo me chamava para jogar FIFA 2015, eu não resistia.

Mas ainda assim, mesmo quando estávamos "relaxando" conversávamos sobre a igreja, sobre o Força Jovem, sobre o que poderíamos fazer ainda mais para alcançar as pessoas que realmente necessitavam de ajuda.

-Cansei! -Paulo disse jogando o controle e encostando no sofá de vez.

-Você é um mole! -Falei sem tirar os olhos da televisão. -Já até perdi as contas de quantas partidas eu venci.

-Você não sabe contar, por isso. -Paulo disse mexendo no meu celular.

-Você por acaso já viu a sua nota do Enem? -Falei fuzilando com o olhar.
Paulo olhou por cima da tela do celular.

-Depois que o jovem aqui entra em depressão a culpa vai ser de quem?

Comecei a rir e encostei no sofá. Estiquei meu pescoço para ver o que Paulo estava fazendo no meu celular, mas ele virou o celular pra si.

-O que você está fazendo?

-Nada.

Estiquei meu pescoço mais uma vez, mas ele novamente não deixou eu ver.

-O que você está fazendo?

-Nada, ué!

-Então deixa eu ver!

-Não!

-Paulo, o celular é meu!

-E daí?

Revirei os olhos. Se eu pudesse voltar no tempo, avisaria a mim mesmo sobre os perigos de deixar Paulo virar meu amigo.

-Me dá.

-Não!

Respirei fundo e tirei meu celular a força dele.

-Ei! Isso não vale! Só porque você come uma bacia de comida e eu estou tentando ser fitnesssss!

Sorri me sentindo vitorioso, quando senti meu celular vibrar.

Olhei para a tela do meu celular é meu coração deu um trave.

"Mônica Toledo aceitou seu convite de amizade!"

-SEU DESCONVERTIDO! O QUE FOI QUE VOCÊ FEZ? -Gritei.

-Estou lutando pela sua vida sentimental e por um cachorrinho chamado Robson! -Ele falou estufando o peito. -E O PAULO CHUTOU E FEZ GOOOOOOOOOOOOL! QUE JOGADAAAAAAA!

-Qual parte do Ela está noiva você não entendeu?

-Aquela que ela não está noiva de você!

-VOCÊ PRECISA SE CONVERTER, PAULO! PRECISA DE LIBERTAÇÃO, SEU DESVIADO!

-Você está vermelho! -Paulo começou a rir.

Respirei fundo.

-Se eu tiver um cachorro eu vou jogar ele em você pra ver se fareja alguma coisa que se chama VERGONHA NA CARA!

-Ela até que aceitou rápido né? Pode ser um sinal!

Peguei o meu tênis e joguei nele.

-Ai!

-Vou pra igreja. -Falei.

-Agora?

-Pelo menos o Pastor Gustavo é de Deus! Vou ir pra lá, ele não me estressa!

Paulo riu.

-Você é quase um Pastor, João. Vive na igreja, só falta uma gravata.

-Não, Paulo. Pra ser Pastor preciso muito mais que uma gravata, e acho que não serviria para isso. -Falei. Eu não gostava de admitir aquilo, mas entre mim e Paulo não tinha barreiras.

-Você sabe que Deus capacita os escolhidos.

-Mas não é Ele o problema. -Sou eu, pensei.

-João...

-Já conversamos sobre isso, Paulo. Eu não quero ser Pastor, eu vejo a luta deles, isso não é para mim.

-E Obreiro?

Peguei meu tênis e comecei a amarrar meu cadarço.

-Eu já disse, Paulo.

-João, eu faço as aulas de Candidato a Obreiro, e elas são incríveis!

-Eu imagino. -Sussurrei.

-Eu não entendo, João. Pra você não existe tempo ruim, sempre está lá para ir atrás das pessoas, você pensa na dor delas e sempre procura um jeito para ajuda-las, está todo dia na igreja, até os Pastores às vezes confude você o chamando de Obreiro... Sério, cara! Você dá de dez a zero em muitos Obreiros lá...

-Paulo, eu só não quero. Tudo bem? -Falei quando terminei de amarrar o tênis.

-Mas...

-Eu tenho que ir. -Peguei o meu celular e me virei com a garganta quase se fechando.

O dia que haviam pisado no meu sonho de ser Obreiro voltava a tona e eu senti a mesma dor do dia. Eu não tinha raiva da pessoa, mas eu tinha de mim.

Por não ser capaz.