V - Repulsa

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Enquanto Enrico trazia os sentimentos da lembrança da infância, percorrendo cada canto do casarão. Clara se encontra congelada, sem movimento, na sala. Imagens de uma sala bem mobiliada, móveis do século XIX, pessoas circulando no ambiente, ela se vê, ela sabe ser ela apesar de parecer diferente.

Ela está grávida, sentada num sofá de leitura, encostada num homem jovem, ela percebe que o ama. Os olhares se voltam quando um homem bem-vestido entra na sala, é seu pai. Ao lado dele de braços dados está sua mãe, vestida com um longo vestido de veludo vinho, seus cabelos loiros, presos, penteados com ondulações, fios caídos sobre o ombro, percebia os efeitos das ondas. Ali os olhares de todos se voltaram para ela, sua mãe.

É uma jovem senhora, linda, muitos a invejam. Buchichos... Ela olha para Clara, como que para sentir, aprovação por parte dela, e Clara sente repulsa, como? Ela é sua mãe! É que mais cedo antes dessa cena, Clara viu sua mãe no corredor, beijando seu marido, ela não deixou que a vissem, mas agora ela sentia nojo de sua mãe, como pôde fazer isso, com sua filha e seu pai, coitado, tem uma mulher que o trai. Mas o que mais dava nojo em Clara era seu marido. Ela olhou sua imensa barriga, seus pés inchados, daria luz na próxima semana, sabia que não era a imagem da sedução, mas ele a traiu com sua mãe, jamais o perdoaria.

As imagens, na visão de Clara, a levava agora para o seu quarto, uma imensa cama provincial da Itália, com roupas de primeira linha, em tons de azul-claro, como o céu em dias de sol. Ela estava em trabalho de parto, seu bebê corria risco de vida e a sua vida também.

Clara em espírito, vê seu marido e sua mãe num dos quartos de hóspedes num ato de amor. Ela sente ódio, e volta sua visão para aquela que é ela na cama, suas forças estão acabando, ela sente que está partindo dessa vida, junto do seu filho. Após muito sofrimento com dores imensas, ela morreu nesse parto, seu filho que estava com o cordão umbilical preso ao pescoço partiu para o mundo espiritual. E sua mãe fugiu com seu marido, deixando seu pai amargurado. Dias depois seu pai, não aguentando tamanha dor, se enforca em uma árvore, no alto da colina. A desgraça tomou conta do lugar. Toda cidade falava.

Clara sai do devaneio espiritual sem ar, dores abdominais eram severas, quer correr, sair dali, mas seus pés parecem grudados ao chão. Ela engatinha até a porta de saída, precisa de ar puro. Sentada na soleira da porta, sua vista turva começa a ficar normal, ela relembra cada detalhe do que viu. Uma dor no peito a deixa zonza, ela precisa ir embora dali.

Vários espíritos rodeiam Clara, um em particular tenta asfixiar Clara, outro aperta seu coração. Os espíritos a seguram, não deixando que se vá. Ela tenta falar, mas sua voz não sai, um deles taparam sua boca. Ela sente agonia, percebe que está a um ponto de desmaiar, quando Enrico chega e a vê ali no chão.

Ele a pega no colo e a coloca no cavalo, amarra o cavalo de Clara, atrás do dele, e partem, em direção ao hotel. O galope do cavalo faz barulho na "estradinha" coberta de mato seco. Enrico está preocupado, ela não consegue responder a ele, apesar de estar acordada, ela parece estar enclausurada, presa.

Quando o senhor William avista o cavalo vindo em alta velocidade, em direção ao hotel, ele se levanta rápido da sacada da sala de estar e corre para junto deles.

Clara está com os olhos semi cerrados, e o mentor do Senhor William diz para ele:

— Filho, faz uma prece rápido, ela está fechada no círculo do passado, seja rápido, afastem os espíritos que querem ela. De imediato ele inicia uma prece, enviando luz para aqueles espíritos que mesmo a distância, prendiam Clara.

— "Vinde, Espírito Santo, penetrai as profundezas da alma de clara, com o Vosso amor e o Vosso poder.

Arrancai as raízes mais profundas e ocultas da dor e do pecado que estão enterradas nela.

Lavai no precioso Sangue de Jesus e aniquilai definitivamente toda ansiedade que trazem, toda amargura, angústia, sofrimento, desgaste emocional, infelicidade, tristeza, ira, desespero, inveja, ódio e vingança, sentimento de culpa e de auto, acusação, desejo de morte e de fuga de mim mesmo, toda opressão do maligno na sua alma, no seu corpo toda insídia que ele coloca em sua mente.

Ó! Bendito Espírito Santo, queimai com o Vosso fogo abrasador toda treva instalada dentro dela, que a consome e impede de ser feliz. Destruí em Clara todas as consequências dos seus pecados e dos pecados dos seus ancestrais, que se manifestam em suas atitudes, decisões, temperamento, palavras, vícios. Libertai, Senhor, toda a sua descendência da herança de pecado e rebelião às coisas de Deus que ela própria lhe transmitiu. Vinde, Santo Espírito! Vinde, em nome de Jesus! Lavai no Sangue precioso de Jesus, purificai todo o seu ser, quebrai toda a dureza do seu coração, destruí todas as barreiras de ressentimento, mágoa, rancor, egoísmo, maldade, orgulho, soberba, intolerância, preconceitos e incredulidade que existem em Clara". Amém.

Enrico está preocupado, nunca viu nada assim, o que teria acontecido para deixá-la assim?

— Filho, não fique preocupado, isso que Clara teve você não teve culpa, isso a mediunidade dela que está abrindo portas do passado. Disse o mentor do senhor William pela boca dele para o rapaz.

— Não foi minha culpa? Levei ela naquela casa, o que será que houve?

— Sei que palavra nenhuma pode confortar você nesse momento, mas quero que saiba que estarei aqui para o que precisar, a qualquer hora ou qualquer momento. Infelizmente a vida tem o seu caminho e nem sempre acontece exatamente como desejamos. Se vale de algo, sinta que na vida tudo tem seu propósito e é possível que mais na frente entenda tudo isso que aconteceu.

— Entendi, vou rezar.

— Neste momento difícil, busque silenciar o seu coração de todas as inquietações e ansiedades, e humildemente escute a voz do Senhor. Em alguns momentos ela pode não parecer ser muito clara, mas não duvide, confie em Deus. Ele vai aquecer o seu coração e lhe dar o conforto que precisa para entender.

Clara, parecia dormir, seu rosto havia serenado. A levaram para o quarto, deitaram e cobriram ela. A mesma parecia mais calma. O senhor William, olhava aquele rosto, e percebia que o caminho de Clara começava a estreitar com o espiritual.

Às vezes sentimos que não temos força, que não seremos capazes de superar os desafios ou sentimentos até que não, merecemos qualquer gênero de felicidade.

Mas estamos errados!

Todo mundo tem o direito de ficar de bem com a vida. Mas também tem o dever de lutar até alcançar esse estado maravilhoso de paz e alegria. Manter o otimismo na sua mente e batalhar diariamente por um sorriso ou um momento especial. É verdade que às vezes vislumbramos cenários que não se tornam possíveis, e muitas vezes as dificuldades que nos surgem trazem cansaço e parecem tornar nossa batalha cada vez mais difícil. Mas quanto maior for a nossa meta, maior também será a nossa recompensa, e tentar será sempre a garantia de que fizemos tudo por aquilo que queríamos.

Por isso, não desista seja qual for a sua situação. Deixe que seus sonhos comandem os passos que dá e os caminhos que escolhe, e seja feliz por fazer da persistência o seu maior aliado. Deus não coloca no caminho de ninguém um obstáculo maior do que uma pessoa pode ultrapassar. Se a sua cruz lhe parece pesada, respire fundo, retome as forças e siga. Você verá que conseguirá levá-la até onde for preciso e na hora certa se livrará dela.

Deus é misericordioso, e se passamos por dificuldades na vida é para crescermos, para nos tornarmos pessoas mais sábias. Nada é por acaso. Confia a sua vida ao Senhor e segue. Lembre-se ele segura sua mão enquanto você passa pela provação. Vai em paz, resigna-se a vontade dele, busca serenidade e logo você vai entender.

Tudo tem um porquê.

Ânimo e força!

As Reencarnações de ClaraOnde histórias criam vida. Descubra agora