XXII - A revolta de Emanuel

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Emanuel do lado de fora da casa tudo ouvia, embaixo da janela da grande sala ouvia tudo e logo percebeu pelas conversas que ouviu, que aquele jovem era o pretendente dela para casar, seu coração entrou em alvoroço, seu sangue fervia. O rapaz quieto e concordato ficara longe do que se apresentava para quem pudesse vê-lo ali, do lado de fora da casa. Ele se rebelou ao que ouviu:

— Não vou aceitar, ela é minha e sempre será. Em sua cabeça Henriette era dele, não tinha razão de ser.

Não pensava, ele correu para plantação de lavanda, corria entre os corredores feitos com tanto cuidado, por onde passava transformava o cheiro de lavanda em ódio, sua amargura, sua dor. Correu muito até que caiu ao chão e chorou, chorou muito. O sol ia se pondo quando ele acordou ali naquele chão, que começava a ficar gelado, uma névoa fria pairava sobre o campo da plantação da família de Henriette. Na casa da moça outro drama iniciava...

—Como ele pode fazer isso comigo, não vê que amor não é marcado para ter, não posso casar com quem não gosto. Pensou em Emanuel, lembrou do quanto ele era carinhoso com ela, mas o amor mesmo estava muito distante de sentir por ele, apenas o respeitava. Um enorme medo veio até ela, como uma sensação de frio, percorreu sua espinha.

No dia seguinte, ela amanheceu contrariada, mas não demonstrou a ninguém, deu as ordens aos empregados da casa e foi direto ao trabalho no galpão para coordenar tudo como sempre fazia. Quando viu Emanuel perto do caminhão que carregava as flores, sentiu vontade de ir até ele para conversar, contar o que estava acontecendo, mas algo dentro dela não deixou. E assim o dia terminou e ela contrariada, sentindo seu coração amargurado.

O casamento de Henriette chegou, na fazenda de plantação de lavanda, exalava festa, mesmo não querendo,não contrariou seu pai, sabia que jamais seria feliz. A cerimônia fora marcada com sangue, o Jovem Emanuel que tudo assistia calado, não aguentou perder quem pensava amar, diante de todos sacou uma pistola e matou o casal, todos alvoroçados tentavam salvar os jovens caídos ao chão, mas era tarde demais. Enquanto isso, Emanuel corria pelo campo de lavanda, para nunca mais ninguém pôr os olhos em cima dele.

Por muito tempo Henriette continuou fazendo tudo aquilo que fazia na fazenda família, longe de acreditar que havia vida após a morte, não conseguia ver os amigos espirituais que lhe acercava querendo ajudar. Quando não teve mais forças para continuar, desfaleceu, seu corpo espiritual estava exausto, recolhida por benfeitores espirituais, ficou algum tempo se recompondo, para depois partir dando continuidade a outra vida.

Depois que Emanuel fugiu da cena do crime, passou alguns dias em desespero e com medo. Vivia entre as árvores.. O seu desajuste psíquico o transformou em paranoico, do crime que havia cometido sentia culpa, trouxe para ele o sofrimento, que revezava entre a culpa por ter tirado a vida da mulher que amava.

Seus dias eram longos e as noites assustadoras. Enquanto caminhava pela mata, com fome, frio, passou a ter alucinações, levando-o a se enforcar em uma das árvores. Emanuel pensou que se acabasse com sua vida, o sofrimento físico e moral que sentia, acabaria, mas ele viu que não. Ele viu seu pescoço ser estrangulado, sentiu o ar lhe faltar, e tudo isso se repetiu várias e várias vezes. Queria fugir dali, mas estava preso ao laço do enforcamento.

A vértebras cervicais não se romperam (pelo uso de uma corda curta), morreu por asfixia causada pelo laço, tanto por obstrução respiratória quanto pela obstrução das veias jugulares e das artérias carótidas, o que acarretou a morte cerebral por falta de oxigênio.

O coração dele continuou batendo por cerca de dez minutos. Teve uma "morte suja", pois ocorreu o relaxamento dos esfíncteres e a liberação de fezes, urina e até de sêmen.

A primeira consequência do suicídio, que ele sentiu, foi a terrível constatação, que não estava morto, o suicida não alcançou o seu intento. Não morreu! Não foi deletado da Vida. Continuava a existir, sentir e sofrer, em outra dimensão, experimentando tormentos mil vezes acentuados. Foi uma situação traumática e apavorante.

O perispírito dele, sendo um corpo sutil, que interagia com os seus pensamentos e ações, foi afetado de forma dramática. No Plano Espiritual com um ferimento compatível com a área atingida no corpo físico, com graves lesões no corpo espiritual, produzidas pela corda por ele usada. Ele se sentia como se aquele momento terrível de auto aniquilamento houvesse sido registrado por uma câmera em sua intimidade, a reproduzir sempre a mesma cena trágica... A essa autoagressão termina com a morte, enquanto na vida espiritual ela se reproduz, insistentemente, em sua mente.

Após longo tempo nessa repetição da cena do enforcamento, Emanuel foi visto por um caminhante desencarnado que ficou ali a observar, e lhe perguntou:

— Meu amigo, o que faz aí preso a essa corda. Emanuel o olhava, não o entendia, como faria para sair dali?

— Você pode, acredite, o seu pensamento lhe tirará daí.

— Como? Fico repetindo tudo, me ajude. Aquele espírito que por ali passava era de organização bem composta do mundo espiritual e ajudou o jovem a sair dali com a força do pensamento. Quando se viu livre se filiou ao grupo e aprendeu muito, e quando pode, foi atrás de Henriette, não encontrando, ficou esperando o momento de vingar seu pesadelo, sua dor. E quando a encontrou após longos anos, agora como Clara pode pôr em prática tudo aquilo que aprendeu com a organização criminosa do mundo espiritual.

*****

Os espíritos no mundo espiritual, assim como na terra, se unem conforme seus pensamentos, os bons ficam com os bons, maus e vingativos se juntam para fazer suas vontades. Não mudamos com morte, continuamos iguais, os sentimentos e vontades, intensificados.se julgamos que fomos prejudicados, assim acreditamos, se quisermos vingar, assim o faremos.

Ao desencarnar, a alma guarda consigo todos os aspectos de sua personalidade, o lado positivo e o negativo. Quando a morte vem, a única coisa que se perde é o corpo físico, todavia o temperamento, a base moral e o universo de pensamentos e sentimentos ficam preservados. É aí que as obsessões começam, porque os mesmos defeitos e virtudes que a pessoa tinha quando vivia na matéria, agora ela manifestará no lado extrafísico da vida.

Quando a alma desencarna no processo da morte do corpo físico, é a sua constituição moral e sua personalidade que determinará os horizontes que seguirá. Em outras palavras, "a cada um será dado conforme suas obras".

O que uma pessoa vive na vida material, no que concerne a forma como ela pensa e sente a vida e a sua capacidade de sentir amor, determinará o seu endereço na vida além-túmulo. Como a alma não morre, e ela é a matriz da sua existência, você não se livrará daquela tendência de se magoar, daquela visão pessimista, daquela mania de reclamação, daquela atitude crítica, somente porque "passou para o outro lado".

Se você é uma pessoa legal aqui no lado da matéria, assim será do lado de lá!

Se você é chato, inconveniente e negativo aqui no lado da matéria, assim você estará do lado de lá!

A morte não muda o que as pessoas são na sua essência!

A morte é uma transição necessária que acontece para que as pessoas possam reavaliar seus estágios de evolução e para poderem se reciclar quanto aos seus propósitos e necessidades.

Definitivamente, quanto mais você focar o sentido de uma vida física na busca por evolução espiritual e reforma íntima, mais chances você terá de não se tornar um obsessor no pós-morte!

As Reencarnações de ClaraOnde histórias criam vida. Descubra agora