XXIV - Amar é não julgar(ser juiz)

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A forma de identificação dos verdadeiros ensinamentos de Jesus deve alicerçar-se nos reais sentidos do que seja o amor, a justiça e a bondade divina. Tudo o que contradizer esses princípios necessitarão, de nossa parte, de uma abordagem mais racional. No entanto, tais condições não nos devem desestimular do estudo dos textos evangélicos, mas, sim, nos induzir a uma formação mais profunda em sua temática.

Dessa forma, se ficarmos presos somente às palavras, sem buscar apreender o conteúdo mais profundo de Suas lições; se não meditarmos no que elas têm a ver conosco, dificilmente conseguiremos captar o pleno sentido da mensagem cristã. Tudo nos soará apenas como uma bela filosofia, sem aplicação prática, contudo.

Com isso, surge a necessidade de nos dedicarmos continuamente ao seu estudo, como bússola norteadora de mudanças imprescindíveis em nós, de modo a nos transformar em seres mais conscientes e elevados espiritualmente.

O que deve vigorar, portanto, é a superioridade do Evangelho vivido sobre o Evangelho interpretado. Na prática, é mais fácil ler e julgar, entender os ensinamentos de Jesus, do que exercitá-los e, realmente, assimilá-los no dia a dia, aprimorando nossas qualidades morais. Poucos, verdadeiramente, conhecem o poder transformador do Evangelho; talvez o conheçam na teoria, sem, no entanto, tê-lo provado na prática, pois a prática exige a ação de que a leitura prescinde.

O ego é o obsessor da alma. Ele vive uma realidade que é só dele, sempre pronto a dominar a situação, a se satisfazer utilizando algo externo, a distorcer a verdade para se validar e é claro, acreditando-se o centro do mundo, a determinar como as coisas deveriam ser. Com seus julgamentos e interpretações, o ego tornou-se uma entidade pensante que assumiu o centro de nossa consciência, nos afastando do ser.

"Penso logo existo", diz ele... E ainda completa: "e sou eu quem mando em tudo isso aqui".

Sem perceber, quantas pessoas estamos prendendo com este comportamento?

Quantos registros e julgamentos do nosso passado trazemos em nossa bagagem para este momento?

Por exemplo, se seu chefe se aproxima, você já pensa algo. Nossa mãe nos liga, já pensamos outra coisa. Para um motoqueiro ao nosso lado no semáforo, já pensamos outra coisa. Ouvimos alguma notícia ruim e já estamos lá pensando novamente...

Assim o ego vai apresentando a sua versão da realidade baseada em seus registros, crenças, programações, catalogações etc.

Dessa forma, quando vamos interagir com alguém é o ego que está lá se relacionando e não o ser. O ego usa a mente com toda a sua bagagem para interpretar cada momento de nossa vida e gerar reações baseadas em sua história.

O momento presente é muito simples, não há nada por trás dele, nenhum motivo ou justificativa, nenhum passado ou futuro. Quando aceitamos o momento plenamente, ele se dissolve, não havendo mais a necessidade de revivermos certas situações. Não precisamos carregar tantos pesos, tantos registros, tantas necessidades...

A energia que usamos para sustentar a versão da realidade criada por nosso ego é tanta que chega a nos tirar o prazer de viver. O desgaste físico, mental e emocional é contínuo, não importa se estamos felizes ou tristes, o cansaço causado pela vida mental está sempre lá.

Mas por que então damos tanta atenção para os pontos de vista do nosso ego?

Por que nos confundimos tanto com ele?

Simples, porque ele nos compra com uma promessa de felicidade e de evitar sofrimentos. Claro que enquanto inconscientes do nosso ser acreditamos nesta promessa, sem percebermos que tanto esta felicidade quanto os sofrimentos são gerados por nós mesmos. E estamos há tanto tempo vivendo desta forma que já esquecemos de como é a plenitude do ser.

A felicidade do ego é sempre condicionada e dependente de fatores externos, de algo específico acontecer, de julgamentos e interpretações de acordo com suas expectativas, com o que não o ameaça ou o tira de sua zona de conforto. Assim, passamos o tempo todo presos dentro da mente e perdemos a noção do que é real.

É impossível não ter mente, ou mesmo personalidade. A personalidade foi criada para interagirmos uns com os outros, cada um expressando o aspecto do Criador que representa. Porém, não podemos nos confundir com ela, ou deixar o ego usá-la para mandar em nossas vidas. Sendo parte do que somos, não podemos então rejeitar estes aspectos de nossa expressão. A saída então é a consciência, a compreensão.

Quanto mais julgamentos e considerações nosso ego carrega, menos espaço sobra para o amor. Não estou falando do amor humano, sempre dependente de trocas, condições e preenchimentos, mas do amor universal, a aceitação incondicional de tudo e de todos, assim como de nós mesmos. Amando desta forma e incessantemente, todo julgamento deixa de existir. É preciso, no entanto, treinar esta postura amorosa, exercitar este músculo da aceitação tão atrofiado que está.

Alguém se aproximou de você, não julgue, apenas ame o ser que está ali!

Alguém deu uma opinião contrária à sua, ame o ser que está ali!

Alguém está bravo com você?

Ame! Alguém fez mal ao outro?

Ame também...

Além de inundar a nós mesmos, o outro e o mundo com a energia mais deliciosa que existe, o amor-aceitação nos tira do julgamento e permite que continuemos sempre presentes.

Todas as barreiras e separações que construímos se desintegram na vibração do amor.

As Reencarnações de ClaraOnde histórias criam vida. Descubra agora