XXI - O vento trazia o perfume

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Depois dos anos em tratamento físico, esta seria sua primeira vez na mesa mediúnica. Clara seria colocada na mesa de trabalhos espirituais. Os amigos encarnados davam passagem para aqueles que estavam precisando de luz e de ajuda. Para Clara era o início de sua recuperação.

Toda vez que Clara sentava à mesa, seu obsessor se afastava, ele não suportava aquelas palavras de bondade, elevadas a Jesus, ele achava tudo hipocrisia. Os trabalhos feitos pela equipe espiritual, trazia o conforto a todos, inclusive aos encarnados. Mesmo a distância, toda área ao redor do centro era mantida com imensa luz.

O obsessor de Clara, não fazia outra coisa além de ficar ao lado dela, não dava trégua. Ele acreditava que se saísse. Clara escaparia, assim como fez quando estava com ele no passado, a confiança que nela depositara no passado ela traiu.

Após o trabalho ele a esperava do lado de fora, deixando Clara agoniada. Devido aos surtos que teve e o tempo que passou na clínica, precisou tomar remédios fortes, que deixavam uma fresta para o inimigo tomar posse dela ligeiramente. Seus nervos pareciam fios descascados, onde a corrente elétrica ficava a vista, qualquer toque vinha o choque. Era exatamente assim que Clara se sentia, ela murmurava palavras, das quais ninguém entendia.

Após várias sessões com o médium da casa espírita, ele era um especialista em terapias de vidas passadas. Ele levava Clara a falar, mas quando ela retornava tudo era bloqueado. Ele sabia ser um caso grave de obsessão. O senhor Rodolfo, pediu que três médiuns fizessem uma corrente de oração, o senhor William, daria passe na jovem que deitada numa maca baixa, experimentava a sensação de uma vida distante...

... Clara tinha doze anos, ela corria pelos campos de lavanda, de longe avistava sua casa no alto do morro. Ela brincava com seu irmão e uma irmã. Os três correndo entre os caminhos na imensa plantação, esqueciam de comer e de voltar para casa. Seu pai homem rude, rico da vila, era respeitado por todos, senhor de muito dinheiro dava o ar de ostentação por onde passava. Sua esposa havia se casado com ele por imposição dos pais. Cuidava dos filhos de seu marido. O tempo passava rápido para todos, as crianças logo iriam estudar no colégio interno de meninos e meninas longe do lar.

A primeira a ir foi Clara que se chamava Henriette, depois seu irmão Hugo, e dois anos depois foi sua irmã Alice. Todo esse período, ficaram distantes um do outro, foram 5 anos sem contato. Quando Clara voltou para casa, ela era sozinha, pois seu irmão e sua irmã não haviam voltado, trabalhava no galpão junto dos empregados separando maços de lavanda para serem vendidos no mercado e nas ruas da província.

Eram dias exaustivos, acordava muito cedo, retornando para casa ao anoitecer. Em meio a tudo isso, fez amizades e entre eles tinha o jovem Emanuel, era sorridente, meigo e atencioso para com ela, o que não demorou muito para eles se apaixonarem. Os dois nas horas vagas sentavam nos montes secos de lavanda para comer e conversar. O namoro logo se estabeleceu, criando laços. Os dois se amavam e planeavam de se casarem. Mas Henriette queria ir morar na cidade, o que divergia da ideia dele que queria continuar ali, ele não tinha ambições, para ele ser empregado do pai dela era tudo que queria, ela o achava limitado.

O tempo passou e os irmãos de Henriette voltaram, e todos começaram a trabalhar juntos. Todos os tratavam como patrões, mas eles não se sentiam patrões. Diferente do pai que fazia separação.

A irmã Alice, teve uma febre que a levou do plano físico, deixando sua mãe chorosa e triste, que acabou levando a senhora para o plano espiritual, após um ano da morte. Com este acontecimento, Henriette é colocada nos serviços internos da casa, ela comandava a casa e os trabalhadores do galpão, não sobrava muito tempo para o namoro.

Um dia seu pai...

—Henriette, prepara um almoço para o domingo, teremos visitas, são 4 pessoas. A moça obedecia piamente o pai. Deu as ordens na cozinha, mandou arrumar a casa. O namoro era cada vez mais espaçado, mas o namorado não esquecia, vinha sempre às escondidas em busca dela. Ela já não o amava mais, a distância da situação fez Henriette ver que não daria certo, seu pai nunca deixaria, e nessa situação atual, ele seu pai precisava dela.

Emanuel sentia que a moça lhe escapava, seu coração apaixonado temia pela derrota. Ele falou com pai dela:

— Senhor Alexander, eu gosto de sua filha, quero casar com ela. O pai da moça o olhou de cima até os pés e disse:

— Você só pode estar louco, nunca vai casar com minha filha e a esqueça, senão vou ser obrigado a te enviar de volta para sua casa. Na época da colheita, ele recolhia quem queria colher as lavandas, e ficavam todos numa casa da fazenda. Se tornavam empregados temporários, mas o rapaz permanecia ali após todo esse trabalho.

— Senhor, eu amo sua filha.

— Não quero saber disso. E saiu andando deixando o rapaz atônito. Ele sentiu raiva daquele homem, desejou que morresse.

— Você vai me pagar, velho porco. E assim o domingo chegou, e as visitas também.

— Boa tarde meu amigo, dizia o visitante para o pai de Henriette. O homem à sua frente era um senhor distinto, usava terno impecável. A senhora que o acompanhava, era bem mais jovem que ele, aparentava ter uns 30 anos, bem vestida.

—Boa tarde, senhora. Ela de imediato levantou os olhos e viu o jovem sentado à sua frente que lia um livro descontraído. O pai de Henriette, percebendo o olhar, chamou o irmão.

—Hugo venha aqui, cumprimente a visita. Hugo se levantou e foi até os visitantes e cumprimentou, seu olhar cruzou da jovem esposa do amigo de seu pai. Junto deles um jovem bem vestido notou os olhares e fingiu não ter visto, era Lincoln.

—Este é meu filho Lincoln, como lhe falei, filho cumprimente o senhor.

—Boa tarde senhor. O pai de Henriette gostou do jovem, viu nele o marido perfeito para sua filha. Atrás dele uma jovem tímida levantou os olhos para Hugo, este nem a notou.

Após as apresentações, sentaram na sala de estar, onde foi servido um refresco. A sala bem arejada, se via a imensa plantação, como se fosse um quadro na parede. Henriette perguntava qual era razão daquela visita. Olhos se olhavam, se analisavam. Cada um envolto no seu íntimo, não sabia da verdade, apenas os dois senhores, mas depois de ficarem extasiados com a beleza da lavanda, trariam à tona o que pretendiam.

Corações batiam descompensados. O vento trazia o perfume, o encanto que seu aroma deixado no ar provoca em nossos corações no momento de sua colheita. Esta é a magia, o efeito que seu AROMA provoca é relevante, atua em nossa consciência nos elevando a um nível muito acima das pequenas coisas do dia a dia. Um descanso para o corpo extenuado, um refresco para a mente preocupada e um afago para a alma que busca por alento. Calor extremo e ventos fortes favoreciam a evaporação do óleo essencial

As Reencarnações de ClaraOnde histórias criam vida. Descubra agora