XX - Tirando o véu

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Adormecida no inconsciente profundo do ser humano permanecia a culpa, aguardando o momento próprio para assomar e se transformar em conflito devastador. Refugiando-se por muito tempo, recalcada sob a argamassa dos caprichos emocionais, que procuram justificar os atos insanos, esse olvido é sempre transitório, porquanto o fato de não estar consciente não significa encontrar-se superada ou diluída.

Muitas vezes, são compromissos infelizes que defluem da ignorância da razão, a estabelecer normas de conduta incompatíveis com o ético e o correto, sendo, porém, equívocos de interpretação dos direitos do ego, o qual, infelizmente, sempre se atribui méritos que, em realidade, não possui.

Noutras oportunidades, são ações conscientes que, em momentos de delírio ou deslumbramento, superam o bom-tom, transformam-se em referências sem legitimidade, em comportamentos desleais que se repetem com naturalidade absurda e que, não raro, são efeitos de atitudes malsãs praticadas conscientemente.

O certo é que todos os indivíduos, vez que outra, são vítimas da sombra e praticam atos lamentáveis, dos quais se arrependerão posteriormente, após ou durante o amadurecimento psicológico, intranquilizando-se pela impossibilidade de retornar àqueles momentos e evitá-los, por não haver alternativa, exceto a correção, mesmo que tardiamente.

A culpa é um ferrão vigoroso da alma. Todos os indivíduos sentem-na, em razão do impositivo natural da evolução que propõe existência correta, mediante pensamentos saudáveis, comunicações edificantes, escritas ou verbais, bem como atitudes dignas.

Qualquer deslize, passado o tempo próprio, retorna e exige retificação, pela pressão do progresso moral e emocional que se adquire. O que antes pareceria insignificante ou mesmo sem qualquer caráter prejudicial no momento produz, por não estar enquadrado nos padrões do comportamento digno, o inequívoco sentimento de culpa.

Embora os conflitos a que dá lugar, a avaliação inconsciente dos comportamentos passados é uma conquista do processo evolutivo, graças à busca pelo auto iluminação, na qual não existe espaço para escamotear a verdade.

Pode o homem tentar justificar a ação incorreta, o que funciona por algum tempo, até o instante, porém em que desperta para a realidade imortal, na qual se encontra inserido, já então sem ensejo de ocultar os procedimentos doentios.

A mentira, o engodo, a fantasia, a calúnia, a inveja, as informações agradáveis com objetivos de ludibriar o próximo ou conquistar benefícios pessoais, são máscaras, de que se utiliza o ego, que funcionam por algum tempo, tendo, porém, duração efêmera, porque a verdade sobre nada nesse oceano de ficções doentias, dando surgimento à culpa.

O sentimento honesto de culpa gera na criatura o arrependimento da ação nefanda, mediante reflexões, agora saudáveis sobre o que deveria ter sido feito naquele momento, caso possuísse maturidade psicológica, legitimidade pessoal.

A necessidade egótica de querer aparecer, a compulsão obsessiva para tirar vantagens, os hábitos arraigados da sombra em luta contínua contra o self conduzem o indivíduo, sem a vivência da dignidade, a cometer esses lamentáveis comportamentos agressivos, porque desrespeitam a intimidade do seu próximo, a confiança que lhe foi oferecida, a nobreza com que se permitiu expor e deixou-se tombar nas armadilhas infames que lhes foram feitas por aqueles nos quais confiaram.

Os seus danos são imprevisíveis porque podem magoar de tal maneira as suas vítimas, que as armam de desconfiança em relação às demais pessoas, ferreteiam –lhes a sensibilidade, conspiram-lhes a pureza e a ingenuidade dos sentimentos... e se transformam em verdadeira traição.

Nada mais desconfortável do que dedicar confiança a alguém e ser miseravelmente enganado, traído nos seus valores afetivos, que se tornam superados pela ganância, pela forma perversa com que a amizade e a convivência são retribuídas.

Embora a gravidade da culpa, não permita que se te estiola a esperança nem se esfacele o teu lado bom, que desperta agora  para a identificação da responsabilidade que assumiste.

Refazer o caminho, instala na conduta a humildade em relação aos teus erros. Não será necessário que reveles às tuas vítimas o que fizeste com elas, porque, cedo ou tarde, elas tomarão conhecimento. Recupera-te moralmente, modifica a conduta, sendo fiel e amigo, renúncia aos propósitos extravagantes que te amesquinhavam, sofre o natural efeito dos males que, afinal, a ti próprio causaste.

Permanece ao lado daqueles a quem enganaste e corrige lentamente, se possível, as informações equivocadas, e quando não se torne exequível fazê-lo, age corretamente, envolto pelas vibrações do afeto sadio, reabilitando-te até o momento em que te sintas tranquilo, desarmado, feliz em sua companhia.

O amor verdadeiro produz milagres, nunca o duvides!

A arrogância, filha dileta do egoísmo, sempre conspira contra o teu propósito de expiação do mal que fizeste, buscando motivos para que permaneças na anestesia da responsabilidade. O bem que puderes fazer àqueles que te sofreram a injunção penosa, oferece-o de coração aberto e realmente afetuoso.

Com pensamentos, palavras e gestos de bondade feitos de ternura e de arrependimento sincero, diluirás a culpa, retirarás o ferrão da consciência e avançarás realmente feliz no rumo da plenitude.

O estado de consciência de paz exige que toda culpa seja transformada em ação dignificante, porque, da mesma maneira como se equivoca, tem a criatura o dever de percorrer caminho idêntico para a correspondente reabilitação.

Tudo quanto esteja escamoteado na Terra, no Mais Além se apresenta desvelado, e a vítima olhará nos olhos do infrator com amizade e perdão, enquanto este, atormentado, tentará fugir da sua presença, carregando o fardo pesado que o esmaga interiormente.

O espírito inimigo de Clara, era o oponente perigoso para sua recuperação, ele envidraçado no tempo do ódio, a vingança era seu cume. Seu ego ferido no tempo e espaço o fazia perder o senso da justiça. Para ele, o passado vivo fazia a extremidade do presente cruzando a linha do passado.

Tudo para Clara era fora do real, mesmo sofrendo aquele aprisionamento não entendia o porquê de estar passando aquilo, mas para seu oponente que vivia em espírito tudo era claro e vivo. Ele sofria por algo que a vida deixara para trás, ele vivenciava a traição, o tédio dos dias que viveu sozinho, abandonado, em meio a vergonha. Ele queria se vingar de alguém que não lembrava do seu delito.

Ele recordava os momentos que amou aquela que um dia lhe deixou só, ele a castigaria, agora que lhe encontrou. Na mente daquele homem deixar Clara a mercê do seu castigo lhe trazia o gosto amargo da vingança, pois enquanto ele se vingava, dentro dele lhe trazia de novo, e de novos momentos vividos do passado, o veneno de quem quer recompensar o que perdeu, ou o que nunca teve. Nossa mente nos engana com os sentimentos, não somos donos de ninguém, e o amor não é prisão.

Não podemos mudar o passado, mas é possível escrever um novo capítulo para nossa vida diariamente, quando acordamos. Perdoar deve ser encarado como uma escolha para um estado emocional melhor.

Na verdade, o perdão não é para o outro e sim uma bela oportunidade para si mesmo.

Embora muitos consideram a vingança indispensável, o fato é que ela é um grande obstáculo para a felicidade, assim como para a saúde física e mental.

As Reencarnações de ClaraOnde histórias criam vida. Descubra agora