XI - Templo espírita

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Enrico estava todo eufórico, queria contar para Clara que seus pais estavam de volta, ela poderia conhecê-los, havia planejado tudo. No sábado de manhã, Enrico e Clara viajaram até a cidade vizinha, onde encontraram os pais do jovem rapaz, a vista do campo dava um ar de leveza para Clara.

Enrico estava se apaixonando, via em Clara a moça ideal para casar, queria apresentá-la a família, pretendia pedir ela para namorar antes deles irem até à casa dos pais. E ele parou o carro ao lado de uma linda ponte, por onde corria entre as pedras uma água cristalina, agachou e passou a tomá-la nas próprias mãos. Clara copiou o gesto do jovem e foi quando ele a abraçou e a beijou. Clara não resistiu, há muito tempo ela estava gostando dele. Os dois estavam felizes. Ali havia nascido um amor. Ela se sentia protegida por ele. Voltaram ao carro e seguiram para a casa dos pais dele.

Os pais de Enrico haviam ficado muito tempo fora do país por conta da doença do pai do jovem. Eles foram em busca da cura, mas o pai de Enrico sofria, além da doença física, a culpa na alma. Quando os dois jovens entraram pela porta dos pais de Enrico, eles estavam felizes, mas não queriam que os pais ainda soubessem, Clara queria descobrir tudo sobre ela primeiro:

— Enrico, não quero que teus pais saibam sobre nós por enquanto.

— Eu entendo, não vou contar, eles não precisam saber de nada. Por enquanto está bem, estou feliz com você, quero que todos saibam.

— Sim, mas não quero ter problemas, não ando muito bem, imagina eles descobrirem que tenho ficado maluca.

— Você não está maluca, não fale isso.

— Pode ser, mas não estou bem, sabe isso.

— Na segunda-feira vamos te levar no centro espírita, o senhor William falou que eles vão descobrir o que está acontecendo.

— Desculpe te dar problemas, você chegou tão feliz, e acabou nem contando o seu sonho que o fez ficar com medo.

— Ah! Deixa para lá, qualquer hora te conto. Clara, o que pretende fazer com a fazenda de janelas azuis?

— Tenho planos para ela, penso que vai gostar e com você do meu lado, vamos construir algo bom por lá.

— Não vejo a hora de você me contar, e quanto ao escritório de advocacia, já arrumou um local?

— Sim, quero te fazer uma surpresa. E a partir desse dia os dois ficavam sempre juntos. Trabalhavam juntos até que chegou a segunda-feira. Clara ia ao centro espírita de noite, por volta das 19:00 horas. Acordou com uma imensa dor de cabeça que a deixava tonta, sentia náuseas, vista turva. O dia se arrastou, e foi chegada a hora de ir, ela não sabia porque, mas se sentia contrariada, pensava em não ir. Mas os dois. Enrico e o senhor William que conhecia muito dos espíritos sabia ser influência dos espíritos para não deixar Clara ir. Ela estava tão envolvida por uma auto hipnose, tão cristalizada dentro de suas repetições, está de tal forma mergulhada em suas tendências, criando ilusões atrás de ilusões, que seu pensamento e percepção ficavam girando em torno de si mesmo. Dessa forma, ela se fechava em seu mundo psíquico e não entrava em contato e nem enxergava o que está ao seu redor.

As almas presas à Terra são pessoas que, após a morte, não conseguiram desligar-se dos seus corpos físicos e da vida que levavam. Eles permanecem envolvidos pelo magnetismo terrestre, presos ao nível da crosta planetária, e não conseguem se desprender do apego à existência que já se encerrou. Geralmente eles acreditam ainda estar vivos, e não entendem porque as pessoas não falam mais com eles. Essas almas possuem um acesso bem fácil aos encarnados, e podem mesmo se ligar psiquicamente a eles. Com isso, eles atrasam sua entrada nos planos mais sutis e permanecem em estado de perturbação e sofrimento.

Alguns espíritos podem fixar-se em lugares em que eram muito afeiçoados durante a sua vida. Muitos ficam presos a sua própria residência; outros aos lugares onde ocorreu sua transição; outros ainda se unem a outras almas que escolhem um local propício a sua permanência. Esse é o fundamento das chamadas "casas mal assombradas", que reúnem grande número de almas perdidas e presas em locais específicos. Ocorre com certa frequência uma ligação psíquica entre a alma recém-desencarnada e pessoas que compraram o imóvel onde a alma passou a maior parte de sua vida.

Quando é este o caso, as almas de luz nem sequer conseguem chegar até ela. Muitas vezes, esse resgate, caso ocorresse, seria uma violação de seu livre arbítrio. Se a alma ainda deseja estar naquele nível, uma alma evoluída não poderia contrariar sua própria vontade, mesmo que ela esteja seguindo um caminho que lhe seja prejudicial. O mesmo ocorre na Terra.

Clara sentia os espíritos que habitavam sua casa, eles estavam agoniados, sentiam medo, ansiedade pela nova situação. Eles pressentiam que algo não estava como devia estar, e não iam querer mudança, estavam confortáveis nas suas casas.

Com os dois impulsionando a vontade de Clara, ela saiu de casa. Quando adentraram a porta do centro espírita, por um momento Clara quase desmaiou, se segurou no batente da porta, os irmãos da casa vieram e a colocaram na sala de trabalhos.

Todo o preparo, horas antes dos trabalhos, dedicavam-se ao companheiro de serviço à prece e à meditação em seu próprio lar. Ligaram as tomadas do pensamento para o Alto. Retiravam-se, em espírito das vulgaridades do terra-a-terra, e oravam buscando a inspiração da Vida maior. Refletiam, cada uma que, em breve tempo, estariam em contato, embora ligeiro, com os irmãos domiciliados no Mundo Espiritual, para aonde irá igualmente, um dia, e antecipe o cultivo da simpatia e do respeito, da compaixão produtiva e da bondade operosa para com todos aqueles que perderam o corpo físico sem a desejada maturação espiritual. Dessa forma, estariam caminhando para a colaboração digna com os benfeitores desencarnados que são os legítimos ministradores do bem.

Hora de sair para a reunião espírita, muitos obstáculos apareceram. Era necessário vencer os percalços que o tempo pode oferecer. Não raro, é a promessa de aguaceiro iminente ou a ventania forte, comparecendo por empecilhos habituais. Chuva ou frio... O integrante da equipe não se prenderá em casa por semelhantes obstáculos. Conservará, sempre à mão, o agasalho preciso e enfrentará quaisquer desafios naturais, consciente das obrigações que lhe competem. Na série de obstáculos que, em muitas ocasiões, parecem inteligentemente determinados a lhe entravarem os passos, repontam os mais imprevistos contratempos à frente do servidor da desobsessão. Uma criança cai, e explode em choro... Desaparece a chave de uma porta... Um recado chega, de improviso, suscitando preocupações... Alguém chama para solicitar um favor... Certo familiar se queixa de dores súbitas... Colapso do sistema de condução... Dificuldades de trânsito... O colaborador do serviço de socorro aos desencarnados sofredores não pode hesitar. Providencie, de imediato, as soluções razoáveis para esses pequeninos problemas e siga ao encontro de obrigações espirituais que o aguardam, lembrando-se de que mesmo as festas de natureza familiar, quais sejam as comemorações de aniversário ou os júbilos por determinados eventos domésticos, não devem ser categorizados à conta de obstrução.

No templo espírita, os instrutores desencarnados conseguem localizar recursos avançado do plano espiritual para o socorro a obsidiados e obsessores, razão porque, tanto quanto nos seja possível, é aí, entre as paredes respeitáveis da nossa escola de fé viva, que nos cabe situar o ministério da desobsessão. Razoável, ainda, observar que os servidores de semelhante realização não podem assumir, sem prejuízo, compromissos para outras atividades medianímicas, antes ou depois do trabalho em que se comprometem a benefício dos sofredores desencarnados.

Os benfeitores espirituais de plantão na obra assistencial, os irmãos desencarnados sofredores, esperam sempre que os integrantes da equipe alcancem o recinto de serviço em posição respeitosa. Nada de vozerio, tumulto, gritos, gargalhadas. Lembrem-se os companheiros encarnados que se aproximam de enfermos reunidos, como num hospital, credores de atenção e carinho. A obra de socorro está prestes a começar.

Necessário inclinar o sentimento ao silêncio e à compaixão, à bondade e à elevação de vistas, de modo  que, o conjunto possa funcionar em harmonia na construção do bem.

As Reencarnações de ClaraOnde histórias criam vida. Descubra agora