1.Mariane

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O destino era um amigo feio que sempre me detestou, pelo menos sempre pensei assim, aos vinte e um anos ainda esperava o meu duque encantado, e quem diria que o arranjo de um bom casamento que a condessa de Figueiró fez para a filha acabasse em uma constrangedora espera, seu bom partido o filho do Duque de Vila Real ainda não havia voltado da longa temporada de estudos na instituição londrina para lordes, Oxford.

Cinco longos anos de um noivado que a impediu de ter uma vida social comum, frequentar bailes e dançar com rapazes atraentes sempre lhe foi negado, nada disso condizia com a postura da noiva de um futuro duque, há verdade é que nada condizia com a postura de uma futura duquesa, nada de muito ruge, lábios vermelhos, muito menos pó de arroz, seus vestidos mais a faziam parecer um mostruário de riqueza nada atraente.

- Lady Vasconcelos, mantenha o foco na aquarela - me alertou a senhora Isabel, seus olhos cor de jabuticaba fixos em mim, ela era nosso governanta desde que eu havia deixado os cueiros- Não queremos perder a tela.

Me limitei em olhar feio para ela, a senhora Isabel sabia bem o que retirar para castiga caso me comportasse mal, aquela mulher a conhecia mais que sua mãe, mas ela a amava, isso era claro como o dia, aquele rosto enrugado e as feições carrancudas escondiam uma mulher amável que afagava meus cabelos nas noites de chuva forte, ou após ela ouvir um comentário maldoso de alguma dama.

Meu pai havia morrido alguns anos depois de chegarem a colônia chamada Brasil e não foi nada fácil superar essa perda, ele era um homem amável de olhos carinhosos que a consolava, e viver em um lugar novo sem o apoio dele não foi nada fácil, assim como sua mãe não era nada fácil de lidar, ela demorou para se adaptar na colônia e mesmo com todo apoio da família real, a morte do marido foi uma grande perda para ela que não voltou a ser a mulher alegre que eu me lembrava, e quando se tem uma copia melhorada de si mesma dentro de casa, como diziam na cidade, não é mais fácil sair do luto.

O conde de Figueiró deixou dois filhos, uma filha, e uma viúva que se recusava a seguir em frente e que usou a educação dos filhos para esquecer o marido morto, o que tornou sua vida um inferno desde que seus irmãos foram enviados a Oxford, e desde de então ela dedicava suas atenções mim.

Elas compartilhavam o mesmo cabelo escuro o rosto pálido e o formato dos olhos, mas ao contrario da mãe ela era alta e mais curvilínea o que era um problema que a mãe tentava esconder a qualquer custo nos vestidos largos e sem corte.

Ser esquecida num canto escuro do salão era comum há mim, não por falta de convites para dançar, e todos eles eram educadamente recusados pela décima terceira senhora de Alcáçovas, minha mãe.

Após a aula de pintura vinha sua melhor hora do dia, no final da tarde lhe permitiam que vestisse uma roupa mais simples e acompanhada de suas duas criadas podia caminhar até os estábulos e ter uma hora de liberdade enquanto cavalgava com cavalariço da propriedade, esse era um hábito que todos na sua família compartilhavam antes de virem para o Brasil e no primeiro ano seu pai sempre proporcionava que eles cavalgassem no final da tarde, ele dizia que pelo menos isso não lhe seria tirado e com grandes discussões os irmãos e ela conseguiram manter a vontade do pai de pé.

-Lady Vasconcelos- Ele fez uma breve reverência sem nenhum sorriso no belo rosto- Estás atrasada, não lhe permitirei que engabele minutos das minhas aulas, é obrigação de uma dama cumprir com seus horários.

Ele segurava as rédeas da sua égua branca, era um belo animal mas não era sua preferida, Tempestade era bem o que dizia o seu nome, inconstante e arredia mas era um puro sangue e isso que importava para sua mãe que apenas permitiu que ela seguisse montando se fosse o cavalo mais caro disponível para compra, mais sua preferida era Pedrita, uma égua malhada sem uma gota sequer de sangue puro nas veias, era nela que cavalgava quando a mãe estavam fora da cidade.

Não sou sua QueridaOnde histórias criam vida. Descubra agora