CHARLOTTE
TRÊS MESES DEPOIS
Bern andava estranho. Um estranho bom, devo admitir. Tem andado gentil, chega mais cedo que eu em casa, sempre com sugestões diferentes para jantarmos, ele só... não toca em mim. Sexo já é algo que não faz parte da nossa rotina. Ele não me toca, e quando eu o toco, ele reage dizendo que está recomeçando, que quer mostrar que me ama sem o sexo, mas... Sexo não faz parte do amor?
Eu resolvi fazer uma surpresa pra ele hoje. Algo me diz que dará certo, considerando que das últimas vezes as minhas surpresas estavam entrando em decadência total. Fui pra casa bem mais cedo, vesti uma lingerie sexy, um sobretudo, meias pretas e um scarpin. Iria pega-lo de jeito no trabalho, como o dia estava frio, as pessoas não estranhariam minha roupa. Sai de casa e quando cheguei no carro lembrei que esqueci as chaves dele e a minha bolsa. Voltei pra buscar. Daí antes de fechar a porta, lembrei de ter deixado as chaves de casa em cima da mesa, voltei em casa novamente. Pareciam ser sinais de que eu não deveria sair de casa, mas, eu queria ir pra ver o meu marido e não desistiria por coisas bobas.
Peguei o carro, fui dirigindo até pegar um congestionamento, nada era capaz de melhorar aquele congestionamento. Eu comecei a ficar nervosa e suar frio. O medo de dar errado me corroendo, até que, por alguma luz divina, o trânsito começou a andar e então eu dirigi numa velocidade maior que o aceitável e cheguei a tempo no escritório dele. Iríamos ter uma noite quente no escritório, pra que cada vez que ele entrasse ali, lembrasse da mulher que ele tinha em casa e nem pensasse em me deixar sozinha por causa de trabalho.
Peguei o elevador sorridente e feliz. Ansiosa. Depois disso, todos os momentos pareciam ser aquelas partes de filme onde tudo fica em câmera lenta. Eu entrando no escritório. Vendo que não havia ninguém lá e comemorei por isso. Meus passos decididos no piso branco. O momento em que por um segundo eu parei na frente da porta e arrumei o cabelo. Chequei se o perfume ainda estava o suficiente. Aí pus minha mão na maçaneta e abri a porta. Imediatamente os gemidos que estavam escondidos pela porta a prova de som, me chamaram atenção. Meu coração bateu como uma bomba-relógio. A porta foi se abrindo devagar, conforme minha coragem de abri-la ia aumentando. E então, eu os vi. Nenhum dos dois me viram. Estavam extasiados. Ela com o corpo na mesa e ele fodendo ela. Eu? Eu fiquei ali vendo a cena. Custava acreditar que era o meu marido ali. Meu coração doía com cada estocada que ele dava. Ele era o homem da minha vida. Ou ainda é. Só pode ser por estar doendo tanto. Eu chorava em silêncio, assistindo aquela cena. Até que um soluço meu escapou e ele abriu os olhos.
- Lotte! - Ele disse surpreso.
- Como você... - Soluço. - Pôde?
- Lotte. - Ele saiu de dentro dela que estava muito surpresa também, procurando fugir, e veio na minha direção.
- Não me toque! - Bati na mão dele que estava muito perto de mim. As lágrimas não cessavam. Eu precisava ir embora dali. - Podem continuar, eu é que não deveria estar aqui.
Saio correndo dali me sentindo muito idiota. Na verdade o troféu de maior idiota do mundo deveria ser meu. Bern corria atrás de mim, eu nem esperei elevador, desci as escadas, cheguei na garagem e já destravei o carro, não queria que ele me alcançasse, ele não podia me alcançar!
- Lotte! - Ele pegou na minha mão que estava abrindo a porta do carro. - Lotte, por favor! - Me puxou pra ele.
- Me larga! - O empurrei. Era como se o toque dele fosse nocivo. - Por favor me deixe! Eu não quero ver você, falar com você, sentir você. Eu quero esquecer você pra sempre! - Entrei no carro e acelerei, deixando ele pra trás. Dentro do carro liguei para os meus fiéis escudeiros, pensei em ligar pra Sam, mas ela era casada e deveria estar curtindo com o marido.
- Monnie. - Disse quando ele atendeu.
- Oi Charlie. O que houve?
- Monnie, ele... Ele me destruiu... Monnie, ele...
- Venha pra cá, Charlie. Estou esperando você.
Fui chorando pra casa deles. Cheguei lá chorando ainda mais. Eles cuidaram de mim, até que finalmente eu pegasse no sono... ás três da manhã.
....
BERNARDO
- Lotte, por favor, me atende!
Desespero.
- Lotte, se a gente não conversar não chegaremos a lugar nenhum! - Minha mão derruba todos os objetos da mesa do escritório.
Esmurro a parede.
Bebo whisk.
E lembro.
Foi tudo em câmera lenta. A sensação que eu tive foi de estar vivendo em câmera lenta. Eu estava tão extasiado. Quanto tempo ela ficou parada vendo aquela cena? Eu não sei. Foi o soluço dela que me chamou atenção. Seu olhar decepcionado. Ela parecia uma menina indefesa. Eu corri atrás dela. Ela sentia repulsa do meu toque.
Era pra ter sido só uma vez. Mas eu não foi nobre. Não resisti. Deixei me levar. Eu mereço tudo isso que estou passando. Mereço. Sou um filho da puta.
Esmurro a parede sem parar.
É a quinquagésima mensagem de voz que deixo em sua caixa postal. Eu a imagino chorando baixinho como sempre faz. Meu coração rasga dentro do peito. Quebro a garrafa de whisky na mão. Não sinto nada. Só uma dor no peito me rasgar.
Ela me deixou.
E agora sei que me deixou de vez.
Minha Lotte.
Sozinho, sem a minha Lotte, por culpa minha.
*****
E aí amores??? Será que esse casal resiste a isso?! Comentem ❤
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O Jogo do Amor
RomanceComo salvar um casamento? Era a pergunta que Charlotte sempre se fazia. Ela e o marido, Bernardo, casaram-se apaixonados, como as coisas podiam estar daquele jeito? Será que ele havia cansado? Ou ela também já estava cansada e não havia se tocado? T...