O Jogo do Amor

DEZESSEIS.

CHARLLOTE

Algumas pessoas vivem para a fortuna
Algumas pessoas vivem apenas para a fama
Algumas pessoas vivem para o poder, yeah
Algumas pessoas vivem apenas para jogar o jogo
Algumas pessoas pensam que as coisas materiais
Definem o que elas são por dentro
Eu já me senti assim antes
Mas a vida era sem graça
Tão cheia de coisas superficiais

Algumas pessoas querem tudo
Mas eu não quero absolutamente nada
Se não for você, amor
Se eu não tiver você, amor
Algumas pessoas querem anéis de diamante
Algumas apenas querem tudo
Mas tudo não significa nada
Se eu não tiver você, yeah

Algumas pessoas procuram por fontes
Que prometam a juventude eterna
Algumas pessoas precisam de três dúzias de flores
E este é o único jeito para provarem seu amor por elas
Me sirva o mundo em um prato de prata
E o quão bom isso seria?
Sem ninguém para compartilhar
Sem ninguém que realmente se importa comigo...

Se eu não tiver você comigo, amor
Então nada nesse mundo inteiro não significa nada
Se eu não tiver você comigo, amor

******

- Lotte, podemos conversar por favor? - Ricardo pergunta, pela quinta vez essa semana. Sinto meu coração doer quando a única resposta que eu tenho para dar a ele neste momento é o "não". Estava cansada de evitar aquele sentimento: Eu sentia a falta do Bernardo, terrivelmente. Meu corpo e alma anseiam por ele. Aquele último adeus dele havia sido muito prejudicial a mim. Bagunçou todo meu sentimento. Na verdade eu já estava meio bagunçada, ele só me fez entender que nossos assuntos estavam mal resolvidos, mas que me deixaria em paz já que era a minha vontade. Mas era a minha vontade? Ou eu estava somente precisando me vingar? - Tudo bem, Lotte. Eu irei tentar falar com você novamente amanhã, espero obter respostas.

- Eu preciso de um tempo. Sabe? Sei que não é nada legal e é até desleal falar essas coisas por telefone, mas eu preciso de um tempo pra mim.

- Muito desleal e me pegou de surpresa, completamente. Mas tudo bem, Lotte. Tome seu tempo. - Ele desliga o telefone e eu fico na cama sentada, me sentindo muito mal por ter feito aquilo. Mas eu não posso fingir. Não posso mais estar com ele enquanto meu coração não para de bater descompassado com saudades de outra pessoa.

Bernardo não merece meu amor. Muito menos meu perdão. A verdade é que ele não merece nada vindo de mim. Mas eu o amo e fizemos alguns votos prometendo estar juntos mesmo quando houvessem dificuldades. Ele abriu mão da felicidade dele pela minha. Se afastou completamente para me deixar livre da sua presença, da sua lembrança. Ele não é o pior ser humano do mundo, e eu sabia reconhecer isso. Não permiti que conversássemos, eu fugi, me permiti sentir a dor, mas não permiti que as coisas fossem para algum lugar. Eu precisava ir até lá e olhar para ele. Precisava sentir o que era necessário sentir e esclarecer minhas dúvidas... Quando me dou conta, estou arrumando as malas e indo em direção à Palm Springs.

Durante a viagem, tentei a todo custo me manter calma, mas era uma tarefa muito difícil. Eu tentava a todo custo respirar fundo e não tremer tanto, mas não dava. Essa foi uma das razões pelas quais eu demorei muito mais de chegar, tive que dirigir devagar, porque eu tremia, minhas mãos suavam e não havia nada que eu pudesse fazer para que aqueles sintomas sumissem. Depois de algum tempo que para mim havia sido uma eternidade, eu estacionei meu carro em frente à casa dos pais de Bern, respirei fundo muitas vezes até que enfim, eu saí do carro e fui direito para casa anexo do Bernardo.

Toquei a campainha e aguardei. Demorou um tempo e ele não abriu, comecei a me desesperar e então toquei a campainha novamente.

- Estou indo! - Ouvi ele gritar e então, segundos após isso, Bernardo abriu a porta. Seus olhos estavam demonstrando quão surpreso ele estava. Ficamos por alguns minutos apenas nos encarando. - Lotte? O que você faz aqui? - Perguntou.

- Eu não posso entrar?

- Claro! Entre. - Ele diz e abre a passagem para eu entrar.

Fiquei um tempo observando a casa, sentindo falta de quando ainda não éramos casados e ficávamos muito tempo dentro desta casa namorando. Entro na sala e olho pro canto perto do sofá, exatamente onde ele me pediu em casamento. Sinto uma dor em meu peito e então sinto a presença dele atrás de mim.

- E-eu vim porque... eu precisava saber... - Digo e olho para ele, dentro dos olhos verdes mais lindos que eu já vira em toda minha vida. - Precisava saber porque você me traiu... porque fez aquilo comigo, porque se afogou na bebida, porque você... porque você veio embora e não lutou por mim? - A essa altura, eu já estava chorando. Ele não parava de me olhar, parecia querer me abraçar, mas parecia ter medo do que poderia acontecer se fizesse.

- Lotte, há alguns dias atrás eu diria que não saberia responder às suas perguntas. Mas hoje, posso te dizer que te traí porque em algum momento das nossas vidas, eu deixei de ser o seu marido, de agir como tal. Eu fiquei ali só vivendo o que era cômodo e quando brigamos por conta do nosso aniversário de casamento ao qual eu não dei a devida importância, eu bebi, o que não justifica o fato de eu te trair e tive um caso com a minha ex secretária.

- Então... houve mais vezes? - Pergunto já inflamada e levemente arrependida por sentir falta dele.

- Apenas duas vezes Lotte. Em uma delas eu estava bêbado e estressado e na outra eu simplesmente fui covarde. Lotte, o que eu fiz não tem perdão. Fui fraco e sou indigno do seu amor. E quando eu percebi que você estava irredutível eu voltei a beber como antes. Eu bebia pra evitar que o meu peito sangrasse de dor por ter sido tão ruim com você e a quantidade de garrafas que eu bebi, significa a quantidade de vezes que a bebida foi ineficaz. Eu não parava de sangrar. Então eu procurei um grupo de apoio, eles me aconselharam a visitar os meus pais, aí eu retornei a Palm Springs e... me recuperei. Minha mãe me ajudou muito com a abstinência, eu achei que estava pronto, voltei para você, porém eu a vi na boate... você parecia tão feliz Lotte, eu me senti ainda pior, não quis te atrapalhar mais do que eu havia feito em todos esses anos. Eu entendi, Lotte... eu não merecia você. Eu nunca mais havia visto você tão feliz e por te amar demais, eu resolvi te fazer feliz pelo menos uma vez depois de todo esse tempo... E aqui estou eu. - Em nenhum momento seus olhos deixaram os meus. Seus olhos agora estavam cheios de lágrimas e eu estava com o coração aberto, aberto para perdoa-lo, mesmo depois da dor que ele me fez sentir com aquela cena. - Lotte eu adoraria te ter de volta. Adoraria ter a oportunidade de recomeçar e fazer você se sentir amada. Te cortejar todos os dias. Mas eu sei que não mereço, então só quero que seja feliz, eternamente feliz. - Ele abaixou a cabeça e limpou as lágrimas que rolavam em seu rosto.

- Bern... - Eu disse e me aproximei, levantei seu rosto e o fiz olhar pra mim novamente. - Bern, eu te perdôo. Eu te amo e te perdôo.

- Oh, Lotte. - Ele diz e me puxa e começa a acarinhar cada parte do meu rosto. - Eu te amo tanto!

E nós nos beijamos. E pela primeira vez depois de algum tempo, eu sinto meu coração verdadeiramente em paz!