ONZE

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Eu precisei perder você pra entender que você não tinha obrigação de aceitar minhas migalhas
Fui arrogante e mesquinho
Entre todas as coisas que eu poderia ter feito por nós, eu fiz tudo dar errado.
Eu percebi o quão é insuportável viver sem você
Mas isso não é o suficiente pra te fazer voltar.
E eu preciso te deixar ir.
Como eu posso te deixar ir?

****

Acordar quando se está de ressaca é completamente dificultoso. Por uma semana eu sai da merda, por uma semana eu parei de beber, mas a falta que ela me fazia era tão grande e doída, que só passava com bebida. Meu corpo e alma já não aguentavam mais serem tão maltratados. Então eu resolvi entrar para os Alcoólicos anônimos.

Estava eu, parado em frente ao local da reunião, me perguntando como eu me permiti chegar aquele ponto. Respiro fundo. A vontade de chorar me pega. Penso na minha família distante de mim. Penso quão sozinho estou, tem o John, mas ele tem as coisas dele, não pode permanecer ao meu lado sempre e essa solidão é culpa minha, única e exclusivamente minha. Penso na Lotte e em quanto eu a amo e em quanto eu a decepcionei. Respiro fundo novamente e entro no local da reunião.

Estava cheio. O clima, diferente do que eu achava, era agradável. As pessoas conversam e comiam. Eu fiquei no canto, esperando o momento da reunião começar. Quando começou, apenas sentei-me no semi-circulo que estava formado e fiquei atento ao que acontecia. As pessoas davam seus depoimentos e eu pude perceber quão difícil era para todo mundo.

O clima era calmo e a cada depoimento as pessoas parabenizavam as outras pelos dias que resistiram ao álcool. Vários falaram até que eu tive vontade de falar também. Não era obrigatório eu dar meu relato na primeira reunião. Na verdade, não era obrigatório eu falar dia nenhum, mas a tanto tempo eu não desabafava, que resolvi falar logo no meu primeiro dia.

- Oi, meu nome é Bernardo. - Falei de cabeça baixa.

- Olá, Bernardo! - Falaram em uníssono.

- Eu sempre gostei de beber. E desculpem-me se eu falar rápido demais... Preciso desabafar, ultimamente tem sido difícil. - Dou uma pausa pra respirar.

- Tudo bem, querido. Respire e fale no seu tempo, estamos aqui pra te ajudar. - Falou uma senhora, que parecia ser a líder da reunião.

- Se mantenha calmo, cara. Ninguém irá te julgar. - Um senhor me disse. Eu sorri de canto e continuei.

- Bom... Eu sempre gostei de beber e pra mim isso nunca foi prejudicial, até o dia em que eu perdi minha esposa. Eu a trai. Eu sei que a bebida nunca será desculpa pra isso. E depois que ela me deixou, eu me tornei um miserável; a falta que ela me faz tem sido... Eu não sei por onde recomeçar, estou sozinho aqui, deixei a minha família em outra cidade e vim pra cá com meu primo e sua esposa e a minha esposa. Porém agora eles têm suas prioridades e eu não quero de maneira alguma atrapalhar ninguém. Estou tentando me controlar em relação a bebida, bebendo um copo a menos por dia pra tentar parar de vez, mas é difícil quando se tem a solidão como sua melhor amiga, quando tudo que você tem é uma casa grande e vazia. Eu não vim aqui hoje pra encontrar respostas de como parar com o vício é difícil porém superável. Eu vim atrás de conselhos, eu preciso saber o que fazer com a minha vida, porque eu não sei mais. - Terminei de falar e chorei. Senti que a líder do grupo acarinhava meus ombros.

- Chore, querido! Irá te ajudar! Ponha pra fora. Tragam um copo de água pra ele, por favor. - Alguns segundos depois um copo de água estava em minhas mãos. - Beba e se mantenha calmo, certo? - Ela sorriu docemente pra mim. - Então, alguém tem alguma palavra de apoio para o nosso amigo?

- Tire um tempo pra si, cara. Viaje. Volte pra casa... Primeiro, sinta-se amado para depois restaurar seu amor próprio e quem sabe então, ter a sua amada em sua vida novamente?

Aquele desconhecido, em algumas palavras, me pôs exatamente onde eu precisava estar. Então eu levantei imediatamente, agradeci a todos e sai.

Chegando em casa eu coloquei algumas roupas numa mochila grande, fui ao meu escritório e pedi que a minha secretária segurasse as pontas um pouco mais, por mais um mês e eu voltaria.

- Fique bem, Sr. Coldmann. - Eu sorri de canto e dei as costas.

Peguei a estrada e duas horas depois eu estava em Palm Springs na casa dos meus pais. Estacionei meu carro e fiquei por cinco minutos olhando a porta de casa, sentindo um alívio por estar distante do caos. Toquei a campainha e esperei, momentos depois minha mãe abre a porta e me olha de maneira incrédula.

- Bern? - Os olhos dela estavam cheios de lágrimas e os meus também. - Oh, meu filho! Como eu senti sua falta!

- Que saudades, mamãe. - Eu digo e a abraço chorando.

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