019 - Rejeição

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- O que rejeitamos nos outros,

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- O que rejeitamos nos outros,

É o que tememos em nós.

               — O que estamos esperando? — Marghareti perguntou pela terceira vez. Ela estava sentada enquanto observava seu filho em pé parado na janela a fumar o quarto cigarro seguido. Podia perceber que estava tenso e exasperado como há muito não o via.

— Já vai saber. — Voltou a olhar para o relógio caro em seu pulso. Seu cenho estava muito franzido e seus olhos duros encarando a porta.

— Mas você está bem? — Perguntou, preocupada. Enxergava com clareza os desenhos de conflito que surgiam no rosto de seu único filho. — É vero que têm muita coisa acontecendo nos últimos tempos. Nunca me falou como se sente com a morte do seu zio.

Nicola não a olhou. Apesar da distância frívola com a qual se tratavam na frente dos demais, Enrico era a única lembrança próxima daquilo que podia chamar de um pai. Era com ele que tinha tido os melhores e escassos momentos na sua infância.

Mamma toda dor passa. Não foi isso que me ensinou a vida inteira? — Rebateu ainda com o cigarro entre os dedos e os olhos presos no jardim onde Libélula tratava seu tigre como um animal de estimação. Nunca vira Valentti tão meigo com uma pessoa, na verdade, a maioria das empregadas da mansão tinham medo por causa de acidentes que tinham acontecido com outras no passado. — Bruxa...

— O quê? — Marghareti puxou a garrafa de vidro e despejou o líquido para um copo que estava em cima da mesa de mogno. Ainda era cedo para começar a beber, mas o ar denso que enchia aquele escritório fazia com que sua garganta secasse por completo.

Niente.

— Eu sei que sempre disse que toda dor passa, pois quando lhe via chegar em casa cheio de machucados e ferido por seu pai, não havia mais nada que pudesse fazer senão cuidar de você. Se eu pensava em pegá-lo e fugir para sempre? É claro, mas era quase impossível. — Marghareti bebeu um gole e fez cara feia, soltando um esgar pela bebida forte.

— Eu sei.

— Mas eu gostaria que ao menos fosse feliz, Nico. Todos esses anos passados não foram fáceis. Queria que tivesse um amor e soubesse o que era sentir por alguém. — Comentou até com certo receio. Sabia que o filho tinha levantado muralhas como uma forma de se proteger de qualquer sentimento. Nunca antes tivera uma paixão, nem mesmo em adolescente.

— E o que a senhora pode me ensinar sobre o amor? Não me diga que teve algum sentimento por Gaspar? — Balbuciou a cuspir sarcasmo.

— Eu... — Ela calou-se quando ouviram três batidas sequenciais na porta e duas alternadas.

Entrare! — Carbonne apagou o cigarro e puxou as persianas com força para baixo como se estas tivessem culpa das janelas mostrarem a visão daquela que o deixava com os pensamentos embrulhados.

Guns N'Cigarettes [DEGUSTAÇÃO]Onde histórias criam vida. Descubra agora