Trinta & Dois

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P.O.V Flávia (24h depois da saída do hospital).

Rafael me tirou do hospital praticamente às pressas, dizendo que ainda precisava conversar muito comigo. Eu já estava bem, claro, por isso saí.

Luís me abraçou fortemente quando eu saí, Sayuri fez o mesmo, parecia até preocupada com o meu estado. Fiquei pasma de vê-la por lá. Minha irmã, como sempre, quase me carregou de tanta força que colocou nos braços.

Por fim, Rafael fez a gentileza de me levar, deixando Luís irritado, juntamente com Milena e Sayuri.

Um dia após o ocorrido, eu já estava na cama de Rafael. Acordei ao seu lado e estou vendo-o dormir. Ele é simplesmente um sonho, até dormindo. Que ironia..eu chorei um bocado por causa desse sonho.

Senti o seu toque, o seu cheiro e sua respiração por toda a noite que ele me proporcionou. Me senti uma criança, percebi que Rafael sabe cuidar de alguém, de verdade.

Suspiro aliviada por poder acariciar seu rosto. Ele se mexe sob minha mão e abre os olhos, sonolento. Se move debaixo da coberta com estampa de heróis da Marvel e põe sua mão em minha cintura, sem delicadeza. Era o Rafael, né.

"Bom dia, amor." ele disse e voltou a fechar seus lindos e brilhantes olhos azuis.

Me derreti e um sorriso se estampou em meu rosto.

"Bom dia." respondi.

Ele franze o cenho.

"E o amor, cadê?" rapidamente se afasta e arregala os olhos.

Começo a rir.

"Desculpa, ainda não sei se posso ou se devo." falei, sendo o mais sincera possível.

Ele revira os olhos e se retira da cama, resmungando.

"Flávia, te tirei de lá o mais rápido possível, para poder conversar com você...fazer tudo dar certo e você simplesmente..."

"Desculpa, amor." o interrompo. "Desculpa, volta para a cama." dou leves batidinhas no lugar que ele estava na cama.

Ele ficou sério. Com aquela cara de bravo que ele tem, o que o deixa sexy. E, depois, sorriu como uma criança, voltando para os meus braços.

Reparei que ele estava apenas de cueca e eu também não estava tão vestida. Dormimos assim? E...juntos? Nossa, depois de tanto tempo.

"Sobre o que você gostaria de conversar comigo?"

Ele se sobressalta, ficando de joelhos na minha frente, ainda na cama. Ele está realmente lindo assim, da maneira que acordou.

Ele puxou muito ar para seus pulmões, como se estivesse aflito e nervoso.

"Ih...que isso, Rafa?" perguntei, começando a ficar nervosa também.

Ele olhava para a parede atrás de mim, para o teto e até para a janela que estava coberta pela cortina corta-luz azul marinho, menos para meus rosto, menos nos meus olhos.

"Que houve?" perguntei, novamente, tentando discernir qual era o significado daqueles olhares desesperados.

E então, ele finalmente olhou para mim. No fundo dos meus olhos, como se buscasse minha alma para cruzar com a dele. Rafael pôs suas mãos acima das minhas e suspirou levemente.

"Flávia..." uma pausa, mais um suspiro longo. "Eu queria te dizer que toda a nossa amizade foi a minha base para começar a ser feliz, a sair de um buraco que eu estava entrando e nem sei o porquê. Você me fez sair, você me fez sorrir. Me fez lembrar que eu posso ser feliz ao lado de alguém, não importa o que esse alguém é para mim. Me fez perceber que eu não preciso me isolar, que eu não preciso chorar por idiotices de outras pessoas." percebi que, nas poucas palavras de Rafael, sua voz já estava embargando. Não sabia como reagir diante de tal situação. "Eu tenho certeza que jamais senti nada parecido...por uma amiga. Por uma garota. Por uma namorada. Percebi que eu faço, sim, questão de estar com você, de rir com você e de até chorar com você. Eu percebi que eu preciso de você, o tempo todo, todos os dias, eu preciso do seu sorriso e dos seus carinhos." vi uma lágrima descer por sua bochecha e não acreditei. Minhas lágrimas já estavam brotando nos olhos, e eu não sei como, quase desidratei de tanto chorar, esses dias. "Preciso de você, Flávia. E eu não quero mais namorar você, não." me sobressaltei, tirei minhas mãos debaixo das dele e enxuguei o que me restavam de lágrimas.

"Você tá brincando comigo, Rafael!" saí da cama, vendo que ele ainda tinha o que falar, mas eu não queria mais ouvir nada.

Não houveram alterações.

Ao sair do quarto me senti tonta e fraca, acho que era normal, eu não me alimentei direito por mais de uma semana, deve ser normal.

"Flávia, não!" Rafael correu atrás de mim e me segurou, assim que eu ia para o banheiro. Virei-me para ele, o rosto cheio de lágrimas pesadas e espessas. "Eu quero me casar com você. Não quero mais namorar. Eu quero que você seja minha esposa." Solucei e chorei ainda mais, me jogando em seus braços.

"Meu Deus, Rafael, não faz isso comigo..." falei, soluçando e com a voz embargada.

Ele acariciou meus cabelos e fez "Shh", até eu me acalmar por completo.

"Eu amo você, não posso te deixar, nunca mais, nunca mais." ele sussurrou. "E você também não tem esse direito." senti seu sorriso e um pouco mais do seu abraço, forte e aconchegante.

"Eu também te amo." sussurrei.

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