deixado para trás - I

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Harry balança sua perna repetidamente, a ponta do pé direito bate no chão incessantemente e ele tem os cotovelos apoiados no joelhos e olhos fixos na televisão.

Ao seu lado, seus pais comentam sobre o noticiário e Harry apenas aguarda o comercial. Ele tem dito isso a si mesmo na última semana, mas hoje Harry está decidido a parar de adiar.

Para ser franco, Harry é contra essa coisa toda de sair do armário, quer dizer, que diferença faz ele ser ou não heterossexual? Ele não deveria ser empurrado para todo esse teatro. Mas seus pais são tradicionais, estão esperando que ele leve alguma garota ao baile de formatura e coisa desse tipo, então ele está fazendo para... bem, ele não sabe ainda, provavelmente evitar que eles infartem quando Harry levar um garoto ao baile.

O noticiário entra nos comerciares.

— Pai, mãe — começa Harry se levantando —, preciso contar uma coisa. É importante — avisa ele parando em frente à televisão.

— Você entrou na faculdade? Vou chamar a Gemma! Você precisa dar o exemplo — explode sua mãe sumindo para o segundo andar da casa.

Porra. Harry é gay e não entrou na faculdade, ele é a personificação de decepção na visão de seus pais, ele tem certeza. O mais próximo de faculdade que ele chegará é a local. Ele deveria ter feito mais atividades extracurriculares e essas merdas.

— O perdedor fez algo que preste? — Pergunta Gemma entrando na sala enquanto estoura uma bolha de chiclete.

Harry odeia ela.

— Não fale assim com seu irmão — repreende sua mãe enquanto volta a se sentar no sofá com o celular em mãos, provavelmente esperando para registar o momento em que soube que seu filho irá para faculdade, há.

— Mas é verdade... — diz Gemma e ela e sua mãe começam a discutir.

— Pessoal... — chama Harry parado desconfortavelmente no meio da sala —... eu sou gay, é essa a notícia — dispara ele.

— O que você disse? — Pergunta seu pai alisando seu bigode e arregalando os olhos.

— Não é sobre a faculdade, eu apenas... — Harry faz uma pausa — ... pensei que seria interessante comentar que eu sou gay, é isso.

Ninguém diz nada e o pior dos silêncios se instala na sala. Seu pai o encara sem piscar, sua mãe leva a mão a boca e Gemma o olha entediada, como já soubesse, não há como ela saber sobre os caras com quem Harry já esteve, então ela deve apenas prestar mais atenção nele do que ele imaginava. Assustador.

Quando Harry está a ponto de dizer que tudo não passou de uma brincadeira, para que seus país não olhem para ele daquela maneira mais, o noticiário volta.

— Notícia urgente — diz a âncora com a voz séria —, o governo dos Estados Unidos acaba de anunciar que um furacão se aproxima da costa leste do país.

— Até então pensaram tratar-se de uma tempestade muito forte — continua o co-âncora —, mas em menos de trinta e seis horas o furacão chegará a Florida Keys e algumas cidades devem ser evacuadas.

— Puta merda — murmura Harry olhando incrédulo para a televisão quando o nome de sua cidade, Lakeland, aparece na tela.

me, you, the bunker and the stormOnde histórias criam vida. Descubra agora