I Like Me Better

Jupiter

-Eu conheço um lugar, fica a uns 20 minutos daqui, pode ser?

Camila apenas assentiu séria e as duas garotas colocaram os capacetes e subiram na moto. Dessa vez a cubana passou as mãos pela cintura da outra por baixo da jaqueta espontaneamente, surpresa em como o gesto pareceu natural, ela permitiu encostar a frente do seu corpo completamente contra as costas da morena enquanto o motor ganhava vida e o vento frio batia impiedosamente contra seus rostos.

Lauren inicialmente ficou assustada com o comportamento da outra, desde que elas se encontraram a cubanaut6 não havia ficado calada durante tanto tempo, mas o silêncio que caiu entre as duas enquanto cruzavam as avenidas movimentadas de Nova Iorque parecia de alguma maneira confortável. Lauren sabia que Camila estava magoada e a mais nova tinha todo direito de estar, mas parecia errado deixa-la se sentir daquele jeito quando seu sorriso era capaz de fornecer energia de sobra para todas as luzes da Times Square e quando seus olhos eram capazes de fazer Lauren querer desviar suas próprias órbitas verdes e simultaneamente adora-los, como se pela primeira vez ela estivesse experimentando o veneno que as pessoas diziam que seu olhar tinha.

Quando a morena teve que parar em um semáforo vermelho na Segunda Avenida, ela deixou que sua mão direita procurasse aquelas que repousavam em seu estômago e apertou gentilmente os dedos da garota, como que para dizer sem palavras que ela estava ali, de alguma maneira ela pode sentir que a cubana havia sorrido com o contato e se permitiu fazer a mesma coisa, antes de voltar a colocar a mão sobre o acelerador.

A viagem demorou quase 20 minutos como Lauren havia previsto, mas no instante em que elas entraram na atmosfera quente e reconfortante do pequeno lugar chamado Dime's feito todo quase de madeira, o trajeto pareceu valer a pena. Ela havia encontrado o espaço em uma de suas buscas por comida com Dinah durante a madrugada, as duas estavam sempre famintas por comida e por conhecer novos lugares depois de saírem do trabalho e não raramente se encontravam dando voltas na cidade na moto de Lauren em busca de espaços que passavam despercebidos pelos turistas e estudantes e assim como todas as noites o lugar estava quase vazio.

-Você tá com fome? -Lauren perguntou depois das duas se sentarem em bancos opostos e da garçonete perguntar o que elas iriam beber, deixando dois cardápios na mesa após Camila aceitar um refrigerante e Lauren um suco de laranja.

-Eu tô sempre com fome. -era a primeira vez que Camila falava desde que havia pedido para a garota leva-la para algum lugar, e a cubana pode ver a outra respirar aliviada.

-Que bom, porque eu também. -Lauren sorriu e depois das duas escolherem o que iriam comer, a garçonete retornou com as bebidas e anotou o pedido, que não deveria demorar muito porque além delas havia apenas um casal e um grupo de adolescentes no restaurante.

A/N Play: Jupiter - Sleeping At Last

-Por que você escolheu história? -Camila perguntou assim que a mulher se afastou.

Lauren respirou fundo, a verdade é que quando as pessoas perguntavam aquilo pra ela, a garota tentava dar uma resposta superficial sobre como um dia quando ela era criança seus pais a haviam levado com seus irmãos no Museu de Miami, mas o real motivo pelo qual escolheu o curso era algo que até aquele dia nunca ela havia compartilhado com ninguém.

-Sabe quando você tem a sensação de que não entende porque age de um determinado jeito? Ou porque a sociedade age de um determinado jeito? -Lauren perguntou de forma quase retórica. -De que não entende porque existem pessoas preconceituosas ou porque o mercado funciona da maneira como ele funciona ou como as pessoas no poder realmente chegaram lá? -Camila assentiu ansiosa sobre onde a garota queria chegar. -Eu passei a minha vida inteira me perguntando essas coisas. Quando eu era pequena eu fazia essas perguntas para os meus pais, mas eles me diziam que eu era nova demais para entender as respostas que na verdade eles também não tinham. Quando eu estava no ensino médio e tentava levantar questões como essas os meninos da minha sala achavam que eu deveria ficar calada para que eu não me machucasse tentando pensar demais. Um dia o meu professor de história me disse que se eu quisesse entender o presente e visualizar um futuro melhor eu deveria olhar para trás e aquilo foi mais do que suficiente para que eu tivesse certeza de que era isso que eu precisava fazer.