O sonho

40 3 0
                                    


 Eu corria por entre as árvores, a besta já estava logo atrás de mim, era escuro demais  para que eu pudesse vê-lo mas podia sentir sua respiração e seus rosnados raivosos sedentos pelo meu sangue. Estava tão escuro que não conseguia ver um palmo à minha frente, corri cegamente  até parar no momento exato em que cairia do precipício. Não era mais possível correr e a besta se aproximava, lá embaixo havia um grande rio, eu não sabia nadar mas era minha unica escolha, fechei os olhos e tirei os pés do chão. Antes que eu caísse senti as garras da grande besta agarrando minha cintura e me puxando de volta. Ele começou a me chacoalhar com raiva, meu corpo todo mole....

    Abri meus olho e vi meu irmão, Henrique, me segurando pelos ombros, olhei em volta, estava novamente em minha cama, tudo não passara de um sonho.

       — Agatha! Acorde!— Ele colocou meus cabelos atrás da orelha — Estava tendo pesadelos de novo...Com o que desta vez?

      —O mesmo de sempre... a floresta, o monstro... —disse com os olhos cheios de lagrimas

     —Está tudo bem, foi só um sonho...

    Concordei com a cabeça, mesmo não acreditando muito naquilo, já era a quinta vez que tinha esse sonho, geralmente acordava ainda na floresta, esta era a primeira vez que chegava tão longe.

    —Eu sei... — Olhei pela janela aberta, ainda não havia amanhecido, Henrique já estava vestido para sair, calças pretas ,camisa beje, cinto e botas de couro — O que veio fazer aqui a essa hora? 

   — Eu vou sair, precisava falar com você antes...

   — Você vai lá de novo não é? — Henrique vinha se encontrando com uma moça já algum tempo, ela era de uma família rica, seu pai não aprovava o relacionamento e já ameaçara Henrique mais de uma vez.

    —Vou, Agatha... — Ele baixou a cabeça — Você sabe que eu à amo...

   —Esse amor ainda vai te matar, desculpe — disse pousando um das mãos no rosto dele —Mas sabe que eu me preocupo com você...

  — Eu vou ficar bem.

  — Promete?

 — Prometo

  —Então... qual desculpa devo dar ao papai desta vez? —perguntei com um sorriso.

  —Diga que eu saí para caçar... com o Willian e Peter, os dois realmente saíram para caçar então não corremos o risco do papai esbarrar com eles.

  —Caçar? Henrique,você sabe que eu acho caçadores o pior tipo de pessoa existente, homens que matam animais só por diversão ... isso é ridículo...

  —Ei, eu não vou caçar de verdade...Também não gosto deles mas foi a unica desculpa que encontrei. —Disse ele já se levantando da cama.

  —Está  bem, te espero para o jantar...

  —Até lá caçula —Ele deu um sorriso e saio do quarto.


  Tentei dormir novamente mas foi  em vão, não conseguia parar de pensar no sonho...Por um momento acreditei que as histórias do velho Jack eram reais, suas lendas absurdas sobre o mal que vivia na montanha.

   Quando o dia amanheceu desci até o bar no andar de baixo, meu pai havia acabado de abri-lo e havia um único cliente, um rapaz alto, um pouco mais velho que eu, pele morena, cabelos,barbe e olhos negros, eu nunca havia visto ele, o que era muito estranho....todos na vila se  conheciam.

    —Filha, preciso ir a cidade —Ele estava apressado — Sirva mais uma cerveja para o rapaz depois feche tudo.... seu tio está muito doente, acabei de receber a carta — disse balançando um envelope— e seu irmão onde está? Bem , isso não importa agora, as coisas já estão presas ao cavalo, parto em poucos minutos....

   —E quando o senhor volta?

    — Não sei dizer... Depende se ele melhorar logo, enquanto eu estiver fora evite sair de casa e não deixe ninguém entrar. — ele me deu um beijo na testa —Adeus filha

     Me dirigi até a cozinha, peguei uma uma caneca e enchi de cerveja, levei até a mesa e entreguei ao rapaz, quando me virei ele segurou meu pulso.

    — Sente-se um pouco....

   —Desculpe, mas eu preciso trabalhar —Tentei me soltar mas ele segurou mais firme.

    —Não, você não precisa, eu ouvi a conversa com seu pai, vai ficar sozinha por alguns dias não é...

    —Isso não é da sua conta — Dei um puxão com o pulso e me soltei.

     —Calma,eu não vou fazer nada, só quero conversar

   — Sobre o que?

    — Meu nome é Kenoriam, mas pode me chamar de Keno. Eu sou um viajante não coneço a vila, será que você poderia me mostrar?

   — Você acha mesmo que eu vou sair sozinha com você? 

   —Bom, eu pago — Ele colocou em cima da mesa 10 moedas de ouro   — se não for o suficiente posso pagar mais...

   Normalmente eu não aceitaria, mas os negócios não estavam indo bem já algum tempo, nossa família havia gastado tudo que tinha quando mamãe adoecera, não existiam médicos na vila, tivemos que leva-la até a cidade, e os médicos cobravam caro, e mesmo assim ela não resistiu. 

  —Está bem, me encontre do lado de fora do bar, não vou demorar muito.

Onde HabitaOnde histórias criam vida. Descubra agora