A montanha

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   Depois de uma longa tarde no bosque, Keno e eu voltamos para casa. No caminho algo me chamou muita atenção quando passamos pela praça central onde o velho Jack costumava ficar gritando suas histórias absurdas ou talvez nem tão absurdas assim, mas o fato era que Jack raramente saía dali antes do anoitecer. De fato havia algo de muito estranho acontecendo naquele lugar.

   Logo depois que chegamos alguém bateu na porta, por já estar escurecendo pedi que Keno a abrisse.

    — Pois não?

    — O quê faz aqui? — Perguntou uma voz feminina . Me aproximei pelo corredor e vi Margareth parada do lado de fora, assim que me viu empurrou Keno para o lado e entrou — Agatah, vim ver como você está, soube que Henrique e seu pai viajaram e vim chamá-la para passar um tempo conosco enquanto eles estão fora. — Ela fez uma pausa e encarou Keno que estava parado em frente a porta — Mas vejo que já encontrou um cão de guarda...

    — Obrigada mas...

   — Vamos subir? Preciso falar com você  — Disse  antes que  eu terminasse de  falar.

   Subimos as escadas, entramos no quarto e Margareth fechou a porta atrás de si.

    — Alexandre pediu minha mão! — Disse com um grande sorriso. Margareth estava sendo cortejada por ele já haia um tempo, ele era da cidade grande e trabalhava no palácio , de tempos em tempos ia até a vila para vê-la.

     — O quê?  Isso é ótimo! — Não era novidade para ninguém que eles se amavam e a distância começara a ser um grande problema.

     — Sim !  O único problema é que vou ter que morar na cidade, longe de você e da família.

      —Não pense nisso agora, pense que vai ficar junto com o homem que ama todos os dias — Eu estava feliz por ela mas também fiquei  triste em saber que ela ia embora.

     — É, Mas eu venho  visita-la , eu prometo — Em todos os anos que à conhecia nunca ela havia estado tão feliz. — Mas... — Seu sorriso sumiu — Quem é aquele homem? Lá em baixo... Por que ele está aqui?

     — Ele é meu primo —Menti — Meu pai o chamou pra ficar comigo enquanto meu irmão e ele estão fora.

     — Entendo... mas algo nele me incomoda... Não  sei bem o que é, mas tenho uma sensação ruim perto dele,principalmente sabendo de onde ele vem...

      — Como assim? 

      — Você não o viu chegando ? Ele veio descendo a montanha.

      Mesmo depois de Margareth ir embora aquela frase ficou ecoando em minha cabeça, é claro que ele ter passado pela montanha não fazia dele uma pessoa ruim ou perigosa, mas mesmo assim era estranho pensar em todas as vezes que conversamos sobre aquele lugar e ele nunca me dissera nada.

     No jantar só piorou, Keno preparou uma torta e nos sentamos para comer, eu estava tão perdida nos pensamentos que mal falei com ele.

    — Está tudo bem? — Perguntou ele — Está tão quieta...

    — Por que não me contou que veio da montanha? — Logo depois que falei me arrependi, tive medo que ele achace que eu não confiava nele.

     — Como você soube? 

     — Não é essa a questão... nós conversamos tanto sobre aquele lugar... por que não disse nada?

      — Só não queria estragar seu sonho... você me disse uma vez que queria saber o que tinha lá... achei que seria melhor que você fosse e visse do que eu te dizer que não tem nada além de mato e pedras! — Ele pareceu um pouco irritado.

       — Me desculpe, mas fiquei curiosa...

       — Tudo bem, mas agora já sabe... não tem motivos para temer a montanha nem o que tem lá.

       Terminamos de comer em silêncio, Keno disse que iria dormir na pensão aquela noite pois tinha deixado suas coisas lá, depois de arrumar a cozinha subi para o meu quarto. Novamente  estava sem sono, não parava de pensar em Henrique e meu pai, e agora o sumiço de Jack, nada mais fazia sentido, quanto tempo mais ficaria ali sozinha? Será que eles voltariam bem? E Keno? Me dissera a verdade sobre a montanha?

        Abri a janela e fiquei olhando para fora, quase todas as casas estavam fechadas e com as velas apagadas , o céu estava com poucas nuvens e muitas estrelas, a lua estava cheia e iluminava toda a vila,  minha casa era a mias alta por conta dos dois andares, desta forma podia ver tudo que acontecia. Depois de um tempo observando vi um vulto correndo, era uma pessoa mas usava um capuz preto então não podia ver quem era. A pessoa correu mais um pouco e parou na praça cetral que era à 5 casas de onde eu estava, tirou o capuz e  então pude ver que era Keno, olhou em volta para ter certeza que não estava sendo seguido, colocou-o novamente e voltou a correr.

      Sem pensar muito desci correndo as escadas, abri a porta e fui atrás dele. Corri até a praça, ele já devia estar longe mas de certa forma eu sabia ode ele devia estar. Peguei o caminho mais rápido que encontrei para a cerca que separava a Vila da montanha. A estrada acabava em uma plantação de milho antes da montanha, comecei a correr pela plantação sem pensar, não conseguia ver nada à minha frente, tudo  o que podia ver era a plantação me fechando mas mesmo assim continuei correndo até chegar ao fim do milharal.

          Quando cheguei à cerca vi Keno a diante, a cerca era feita de uma única tábua alta, o espaço em baixo era muito pequeno para passar e como só havia uma tábua era muito difícil escalar. Tomei distancia e corri em direção a cerca, torcendo para não cair de cara do outro lado,  sem parar apoiei a mão esquerda na superfície da tábua , dei impulso com os pé para sair do chão, consegui levar o pé direito para cima da tábua também deixando espaço par a perna esquerda passar por baixo da direita, me soltei e caí em pé do outro lado. Keno já estava bem mais a frente, tive correr muito rápido pela tilha obstruída por galhos, raízes e pedras para alcança-lo, cheguei muito próximo mas então parei, oque quer que Keno estivesse fazendo ali não faria na minha frente, então fui andando atrás dele me escondendo para não ser vista.

      A subida  era difícil, passamos por pedras altas onde era necessário escalar e alguns toncos caídos que tivemos de passar por baixo, sem contar que tropecei diversas vezes em meu vestido que só atrapalhava. cheguei a um paredão de pedra que seria impossível escalar sem o uso de uma corda, Keno também não estava mais lá. Sentei-me no chão e comecei a chorar, oque eu estava fazendo ali? Por que o seguira? Nunca havia sido tão curiosa, por que com Keno e aquela maldita montanha era diferente? Estava tarde e eu não sabia como voltar, não conseguia enxergar o caminho de volta, teria que dormir ali e torcer para que de manhã eu conseguisse voltar.

    Pouco depois vi uma luz vindo de um buraco no paredão, uma espécie de caverna, fui até lá torcendo para ser Keno.

     

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