Prisioneira

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 Ele me olhava de forma que aqueles olhos vermelhos até pareciam bondosos, suas mãos estavam esticadas para pegar as minhas. Eu as estiquei com receio, as palmas sujas com o sangue seco para cima, pousei as costas das mãos tocando as palmas ele.

— Como se machucou assim? — Disse examinando minhas mãos.

— Eu caí, num paredão de pedra...

— Eu ouvi os guardas falando algo assim... espere — Ele soutou minhas mãos e andou até o fim de sua cela e pegou um balde de água, então derramou sobre minhas mãos , a água fria fez minha pele arder mas limpou boa parte do sangue.O goblin largou a tigela e rasgou duas tiras de sua tanga e as usou para enfaixar minhas mãos.— Isso deve ajudar, evite mexe-las muito.

— Obrigada... Por que está me ajudando?

  — Não gosto de  ver alguém machucado, a menos é claro que tenha sido eu a fazê-lo.

  Puxei as mãos de volt para a minha cela. Eu precisava dar um jeito de sair dali, olhei para todos os lados mas não encontrei nenhuma brecha, exceto pela cela do goblin.

  — A sua cela está... 

  — Destrancada ? Sim está —  Ele caminhou e abiu a porta para confirmar o que estava dizendo.

   — Por que?

  — Eu não sou um prisioneiro... sou um faxineiro, estava limpando este lugar quando você acordou — Disse apontando para um pano e um esfregão encostados do lado de fora — É claro que não fazemos isso com muita frequência mas sabe como é, não queremos que nossos prisioneiros morram de doenças antes de nos divertimos com eles.

  Meu corpo todo estremeceu, Keno havia me alertado que eles eram perigosos, eu realmente precisava sair dali.

  — O que vão fazer comigo?

  — Isso depende, você será útil?

  — Útil? Para que?

  — Bom, você não está sendo acusada de nada, por tanto, ou você vem de um lugar que esteja disposto a pagar por você, ou então você servirá de outra coisa.

  — Que tipo de coisa? — Ele abriu um sorriso malicioso revelando seus dentes pontudos e depois o fechou envergonhado  — Acho que não quero saber, preciso sair daqui...

  — Nosso rei virá logo, você terá que ser muito convincente para que ele à deixe ir, já vi o rei libertar alguns mas isso realmente é difícil.

  — O que eu preciso fazer para que ele me liberte?

  — Oferecer-lhe algo em troca , se for tão bom quanto você ou melhor ele te deixa-rá partir.

   Ele se virou e saiu. Passei algumas horas sentada no chão esperando o tal rei. Não havia nada para fazer naquele lugar, mas por um momento lembrei do meu sonho, meu pai e meu irmão presos em algum lugar, escuro e sem vida, parecido com... a caverna.

  Um bom tempo depois chegou  o rei, acompanhado de dois soldados, os três tinham a pele esverdeada e praticamente a mesma altura do faxineiro. Os guardas usavam tangas semelhantes as do faxineiro mas em melhor estado, e seguravam facas, já o rei estava vestido com uma calça mal costurada e sua barriga saliente se projetava acima dela, em sua cabeça havia uma coroa feita de ouro toda torta como se fosse moldada por uma criança.

  — Então foi você que meus homens encontraram vagando perto de nossa cidade — Disse o rei, sua voz era grossa e agressiva — Ouvi muito sobre você mas confesso que não imaginava que era tão...

  — Senhor, só vim atrás das roupas e do amuleto que nos foram roubados por vocês. Devolva-os e irei embora.

  — Roubados? — Ele refletiu por um instante — Essas roupas são tão importantes para fazer com que uma moça tão jovem e bonita suba a montanha até a cidade dos goblins... Então devem ter grande valor.

  —Tem sim,mas não para mim, eu faço o que vocês quiserem, mas me devolvam as nossas coisas.

  —Senhor —Disse um dos soldados —Olhe os cabelos dela... ela é uma bruxa...

  —Se é uma bruxa então deve queimar!

  — Não acho que isso seria prudente de sua parte —Não sei de onde tirei aquela coragem mas precisava escapar.

   —E por que não?

  — Acha mesmo que Keno iria gostar de saber disso? Que queimaram a e aprendiz dele? 

  —K... Keno? —Os três estremeceram —Se ela serve a Keno não devemos irritá-la chefe...

  —Mas  não podemos deixá-la ir sem nada em troca... O que você sabe fazer ?

  — Desculpe-me, mas não sei se alguma de minhas habilidades  agradaria ao senhor... — Disse da forma mais calma e educada que consegui.

  — Pois bem, se não há acordo... — Ele se virou para sair pela porta.

  — Vocês teriam a minha proteção! — Gritei para que me ouvisse mesmo já tendo cruzado a porta.

  Ele se virou e me encarou,parou por alguns segundo e retornou até perto das barra que me prendiam.

   — Que tipo de proteção? — perguntou com seus olhos cravados em meu rosto.

   — Bem, — recuperei o folego e comecei a falar andando de um lado para o outro na cela — Eu sou mais que uma simples aprendiz, Keno me considera como... algo a mais... 

   —Onde você quer chegar com isso?

   — Se Keno se quer desconfiar que estive numa cela, ele destruirá essa vila toda em um piscar de olhos. — Eu tentava ser o mais amedrontadora possível.

    O rei estremeceu, ficou pensativo por um momento e então respondeu:

    — Keno não fará nada se não souber que está aqui — Disse com cara de deboche.

    —E você acha mesmo que ele não virá atrás de mim? —A raiva me subiu a cabeça, me joguei contra as barras com os braços para fora, as pontas de meus dedos tocaram seu rosto e estranhamente a pele tocada começou a enegrecer. Tirei as mãos dele sem deixar que percebessem meu próprio espanto. — Keno virá logo... e se não me soltarem ele trará consigo a destruição de seu povo.

    — Ela... — O rei estava sem folego e parecia fraco, aquela estranha demonstração de poder afetara nós dois, enquanto o rei perdia forças era como se eu ganhasse ainda mais. — Ela tentou me matar...

    Os guardas levaram-no embora apoiando seus braços nos ombros. Passei horas  sozinha naquele lugar, a noite caía sobre a montanha e eu já não tinha ideia do quê fariam comigo.

  Ouvi um barulho vindo da porta, alguém estava entrando e se aproximando de minha cela, forcei a visão mas não consegui identificar quem era até chegar as barras, onde a luz do luar iluminou o rosto do goblin que havia me ajudado mais cedo.

   — Venha comigo —  Ele tirou uma chave do bolso e abriu com cuidado a tranca da cela —  Ande logo.

   —  Por que está me ajudando?

   —  Não temos tempo... corra!

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