O Bosque

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    Era difícil pegar no sono aquela noite, estava aflita de mais para dormir então desci para a cozinha da taverna, puxei uma das quatro cadeiras de palha em volta da mesa da cozinha.

    Assim que me sentei comecei a chorar, lembrei-me dos bons momentos que passara ali com minha família,  não sabia quando iria revê-los , se estavam bem ou onde estavam. Eu já perdera minha mãe, não podia perde-los também, se eu pelo menos soubesse onde eles estavam...

    Alguém bateu na porta dos fundos, Quem poderia ser aquela hora?  Lembrei d conselho de meu pai " Não abra a porta para ninguém". Bateram novamente , Tomei coragem e fui andando lentamente até lá.

     — Agatha? Está acordada? — Disse a pessoa do lado de fora, a voz me era familiar por isso abri. Era Keno, ele usava calças, botas e um casaco longo e grosso. Saí para fora, estava muito frio — Estava chorando?  O que houve? — Perguntou pousando a mão em meu rosto.

       — Não... não foi nada... O que faz aqui? — perguntei esfregando os braços em uma tentativa de me aquecer.

      — Desculpe... — Ele tirou o casaco e colocou sobre meus ombros — Depois que saí daqui  vi um rapaz saindo , imaginei que fosse seu irmão... Observei por um tempo e vi que não voltou, fiquei preocupado por você estar sozinha e resolvi vir ver como estava... — Ele me olhou nos olhos e baixou a cabeça envergonhado — Me desculpe, eu não devia ter vindo não é?

      — Tudo bem — Disse sorrindo — Obrigada por se preocupar mas... você estava me vigiando?

      — É, mais ou menos, queria ter certeza de que não ficaria sozinha... — Levantei o queixo dele com meu dedo indicador .

      — Por que se importa com isso? 

      — Porque eu me interessei por você, não queria que acontecesse algo ruim com você.

      — Obrigada mas estou bem, só um pouco preocupada. Meu pai saio hoje de manhã dizendo que ia visitar meu tio, quando contei ao meu irmão ele ficou irritado e saiu atrás dele, agora acho que não estão falando a verdade... 

     — Entendo... Se quiser  posso dormir aqui na porta... pra se sentir mais segura.

     — Não, não vou te deixar dormir nesse frio, entre, pode dormir aqui dentro — Alguma coisa dentro de mim dizia que não era uma boa ideia, mas eu me sentiria mais segura assim — Você pode dormir no quarto de Henrique já que ele está fora...

      Subimos as escadas e eu o mostrei o quarto de Henrique, nos sentamos na cama e conversamos por horas, falamos sobre a Vila, nossas famílias, as viagens que meu pai fazia sem explicação varias vezes por ano . Falamos também um pouco sobre a montanha e suas lendas... conversamos por tanto tempo que peguei no sono ali mesmo.


  Acordei sentada na cama com a cabeça apoiada no ombro de Keno, ele já estava acordado olhando para mim.

     — Bom dia — Disse com um sorriso.

     — Me desculpe, eu devia ter dormido aqui e....

     — Calma, não tem problema, eu não me importo...

     —Mas isso é errado, eu não ...

     — Ninguém nunca vai saber disso, e além do mais, não fizemos nada não é?

    — É.

    Descemos as escadas para comer, cada um pegou um pedaço de pão e um copo de chá. Comemos e tomamos em silêncio até surgir um assunto.

   — Então, onde você acha que seu pai e seu irmão podem estar? — Perguntou ele quebrando o silêncio.

   — Eu não faço a menor ideia — As lágrimas já voltavam aos meu olhos só de pensar neles — Eu queria muito saber. Meu irmão se acha muito adulto mas não é, tenho medo de ele fazer alguma besteira... — As primeiras lágrimas rolaram pelo meu rosto, enterrei o rosto nas mãos e comecei a chorar. Keno se levantou e parou ao meu lado.

   — Desculpe, não queria te fazer chorar de novo — Ele colocou meus cabelos para trás das orelhas — Então, para onde vamos hoje?

    — O que você acha... — Levantei o rosto para secar as lágrimas —  De um passeio pelo bosque? 

     Depois de limpar tudo e preparar uma cesta de pães e frutas para o almoço, saímos em direção ao bosque, cruzamos a vila toda. Keno parecia muito interessado em tudo que via, era como se tivesse vivido isolado a vida toda, tudo parecia ser uma grande descoberta. Faltando apenas 3 casas para o fim da vila encontramos Margareth, minha melhor amiga, ela usava um vestido marrom alguns tons mais claro que seus cabelos lisos e castanhos que contrastavam bem com sua pele clara.

     — Ola! Como vai? — perguntou-me com um abraço .

    — Vou bem , e você? 

    — Ótima! Tenho muitas coisas pra te contar...

    — Bem, estamos indo ao bosque, quer vir com a gente?

    Ela encarou Keno por um instante antes de responder.

    — Desculpe, tenho que limpar a casa, fica para a róxima... — ela se retirou sem se despedir.

    Quando chegamos ao bosque, Keno fez uma pausa e se encostou em uma árvore, me aproximei para ver se ele estava bem, foi quando ele me puxou e me envolveu em seus braços, não sabia bem como reagir então apenas me aninhei em seu peito, me sentia segura naquela posição,  como se de alguma forma Keno me protegesse do que estava acontecendo.

     — Quanto tempo pretende ficar na vila? —Perguntei levantando a cabeça para encara-lo.

     — Até aparecer um lugar melhor pra ficar, mas... — Ele olhou  nos meus olhos — No momento não consigo pensar num lugar melhor para estar — Ele baixou a cabeça e me beijou, um beijo suave e lento,logo depois levantou a cabeça e sorrio.

      — Por que fez isso? — Não consegui pensar em nada melhor para quebrar o silêncio.

      — Não gostou? — Ele parecia em pouco desapontado.

      — Não é isso... é só... — Não consegui dizer nada então o beijei de volta.

      Passamos a manhã toda ali, conversando e nos beijando. Eu nunca fora o tipo de menina que sonha com o príncipe encantado mas Keno parecia ser um homem muito bom e por um momento me imaginei ao lado dele.

      caminhamos mais um pouco pelo bosque e então nos sentamos numa clareira para comer , estávamos lado a lado conversando e comendo as maças da cesta.

      — Agatha, se eu te chamasse para a minha próxima viajem... você iria? — A pergunta me pegou de surpresa, eu o conhecia à apenas um dia... mas já sentia algo por ele.

      — Eu não sei, teria que te conhecer melhor... sem contar que eu não poderia ir embora com você assim de repente ...

       — É claro...  mas gostaria muito de te levar para conhecer o lugar de onde eu venho, um dia.


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