Gregório

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  Corremos na mata escura por um caminho que eu desconhecia, o caminho era repleto de raízes e pedras que e me fizeram tropeçar algumas vezes, o jovem goblin parecia conhecer cada pedra daquele lugar, sabia exatamente por onde andar, onde se apoiar e quando desviar de algo.

  Corremos sem falar nada por alguns minutos até pararmos em uma clareira. O goblin fez um sinal para que eu me sentasse e se ajoelhou a minha frente.

  — Por que está me ajudando? — Perguntei pousando uma das mãos em seu ombro.

  — Não suportaria ver as coisas que fariam com você , e também, eles despertariam a fúria de seu mestre e isso nos arruinaria.

  — O que farão com você quando voltar?

   — Eu não sei, mas não pretendo voltar... Tenho um amigo que vive longe da vila, talvez possa ficar com ele lá.

  Passamos algumas horas conversando, ele me contou sobre a vila dos goblins, suas leis, suas estratégias de batalha, suas crenças e todas as outras dúvidas que eu tinha. Em troca eu lhe contei sobre Keno, ele tinha curiosidade sobre como vivíamos na caverna, se ele me tratava bem e que tipo de coisas eu aprendia. Eu lhe contei que não era uma escrava mas sim uma aprendiz, contei-lhe também sobre minhas aulas de magia, minhas visões, meu grimório e a forma como ele me ensinava. O jovem goblin ficava fascinado com tudo que eu dizia, ele me observava como se eu fosse algum animal de uma terra desconhecida, como se cada movimento meu fosse uma nova descoberta.

  Depois de um tempo já não haviam mais assuntos para conversarmos, então cada um de nós deitou de baixo de uma árvore para passarmos a noite. A luz da lua nos iluminava de forma que podíamos ver pouco além das árvores que nos cercavam. 


Acordei assustada com sons de passos vindos da floresta, levantei-me em silêncio e caminhei até onde meu companheiro dormia, toquei seu ombro para que acordasse mas seu sono era pesado, dei alguns tapinhas mas mesmo assim ele continuou dormindo. Meu coração acelerava assim como os passos que vinham em nossa direção. Eu já estava tão desesperada que dei um empurrão que o fez rolar para o lado.

  — O que está acontecendo? Volte a dormir! — Disse acordando assustado.

  — Eu ouvi um barulho, podem ser lobos ou os goblins vindo atrás de nós...

  O barulho começou a chegar mais perto, agora já era possível ver a sombra de quem se aproximava. O goblin levantou-se rapidamente e tirou uma faca que escondia debaixo da roupa e ficou em guarda. A somba negra foi ganhando forma com a mesma velocidade em que meu coração acelerava, quando a sombra chegou próxima as árvores pude ver que ela pertencia a um homem, alto e forte...Keno.

  Saí correndo aliviada e o abracei, ele retribuiu ao meu abraço, até que baixou os olhos para mim com uma expressão decepcionada.

  — Você não conseguiu... não é?

  — Não... me perdoe... eu caí e desmaiei, quando acordei estava presa... foi horrível!

  — Ela pode não ter conseguido... — Gritou o goblin do outro lado da clareira — mas eu consegui — Ele levantou  a mão que segurava o amuleto — O senhor não devia esperar tão pouco de sua aprendiz, ela é muito corajosa de ter ido até lá sozinha e ainda enfrentou o nosso rei pelo senhor.

  —Você fez isso? Enfrentou o rei? —Ele parecia desconfiado.

  —Eu só... discuti com ele... e o ameacei,pois queriam me queimar...

    —Está bem... vamos logo com isso... —Ele estendeu a mão para o Goblin pedindo o amuleto,um pouco relutante ele o entregou —Vamos, temos de voltar para casa.

  —Você ficará bem? —Perguntei me abaixando ao lado de meu novo amigo que respondeu com um sinal de cabeça, eu o abracei me despedindo —Eu te devo um grande favor, você sabe onde me encontrar, se precisar é só me procurar na caverna.

  Keno e eu andamos pela floresta por algumas horas até chegar no paredão onde eu desmaiara, Keno em sua forma de demônio me colocou sentada em seus ombros e pediu que eu segurasse em seus chifres enquanto ele nos levava para o outro lado.

  Como ele não me tirou de seus ombros eu aproveitei para descansar da longa viajem, descansei a cabeça sobre a dele e deixei meu peso cair sobre deus ombros, relaxei sentindo seu corpo subir e descer com a respiração pesada ao longo do caminho.

  Quando chegamos à caverna eu já estava quase adormecida, Keno me desceu de seus ombros e me levou até seu quarto , me deixou na cama e se retirou.

  Logo depois o gato entrou no quarto.

  — Você está bem Senhora?

  — Estou sim, obrigada.

  — Desculpe o incômodo... Mas a senhora pensou em um nome para mim?

  — Bem eu...

  — Desculpe, não devia ter te perturbado com isso...

  — Tudo bem, eu não tive muito tempo para pensar... mas o que acha de Gregório? Significa "o vigilante" pensei nisso pois é você quem cuida de mim.

  — Gregório... gostei — Ele sorriu.

  


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