Sutraris

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  Minha liberdade durou pouco, logo Keno ordenou que eu entrasse na carruagem para seguirmos viajem. Passamos longas horas lá dentro, eu não podia ver o caminho pois Keno mantinha as grossas cortinas negras fechadas, ele dizia que era para que ninguém nos visse mas eu sabia que não era verdade, Keno não queria que eu soubesse o caminho pois tinha medo que eu fugisse.

  Depois de muito tempo Keno abriu uma pequena parta da cortina e espiou para fora, consegui ver muito pouco, estávamos em um vilarejo, vi algumas casas mas já estava escuro então não pude enxergar muito mais. A carruagem parou de repente e então pude ouvir risadas e música alta ,o Rapaz-Gato desceu de seu lugar e abriu a porta para nós, Keno saiu da carruagem e o empurrou para o lado e me estendeu a mão para descer da carruagem, eu a peguei e saí, estava frio do lado de fora e minha pouca roupa não ajudava em nada.

  Seguimos a pé por um estreito corredor entre duas casas até chegarmos no lugar de onde vinham as músicas e risadas, era um lugar alto de dois andares, lá de dentro vinha um cheiro forte de velas derretidas e vários tipos de bebidas. A Porta de madeira era um pouco mais alta que Keno, a cima dela havia uma placa  dizendo :" Bordel Sutraris". Keno Bateu na porta e um Tiefling à abriu, ele era bem mais velho, seus chifres eram como os de Keno exceto pela ponta direita quebrada, possuía uma barba comprida e grisalha que ia até o meio do peito, em sua cabeça haviam apenas alguns longos fios brancos, Seus olhos eram negros como os de Keno, sua pele era bronzeada e manchada, seu corpo era esguio e curvado, ele vestia uma túnica roxa  e uma corrente prateada na cintura. Ao bater os olhos em Keno o Velho Tiefling  abriu um sorriso, seus dentes eram amarelados e irregulares.

  — Keno ! Achei que não viria mais! —Disse ele apertando a mão de Keno .

  — É, Nós nos atrasamos um pouco...

  — Nós? — Perguntou olhando por cima do ombro de Keno — Ah! Sua escrava é muito bonita — Ele soltou a mão de Keno e se dirigiu à mim — Nós iremos nos divertir muito esta noite...

  — Ela é minha esposa — Disse Keno segurando o pulso do velho que vinha em direção ao meu decote.

  — Desculpe — Ele baixou a cabeça em sinal de respeito. — Eu não sabia . — Ele fez um sinal para que entrássemos.

  Dentro do bordel era um verdadeiro inferno, demônios de todos os tipos espalhados por todo o salão, alguns bêbados caídos pelos cantos, em cima do lustre central havia um diferente dos outros, era pálido, não possuía chifres ou calda e dormia tranquilamente lá em cima. Andando pelo bordel haviam várias Succubus com roupas ainda menores que as minhas. Em um canto, mais à direita estavam sentados um casal de aparência estranha, a pele dele era inteiramente vermelha e a dela azul, ele possuía dois chifres finos saindo da testa semelhantes aos dela, as presas de cima dele era compridas e curvadas para cima e as dela saíam da parte de baixo da boca e terminavam próximas ao nariz. 

  Keno me guiou até uma mesa vazia perto de uma janela fechada, ele se sentou em um banco de madeira com as pernas abertas, seguindo o que me foi ensinado eu me sentei em uma se suas pernas com as minhas cruzadas. Logo o velho demônio da porta nos trouxe duas canecas de cerveja.

   — Beba — Cochichou Keno em meu ouvido.

  Eu obedeci, já havia provado a cerveja do bar mas esta era diferente, era doce e forte. Logo depois outro Tiefling se sentou ao nosso lado, ele tinha aparência jovem de mais ou menos 18 anos, seus cabelos era curtos e castanhos, seus olhos de demônio eram grandes e redondos, e seus chifres curtos saiam da testa e de projetavam para cima.

  — Não trouxe nenhum aprendiz para batalhar? — Perguntou.

  —  Não, você sabe que eles não duram muito tempo comigo  — Respondeu Keno em tom de brincadeira. — Mas e você? 

  — Os meus estão ali — Ele apontou para um grupo de seis rapazes, todos de idade próxima a minha, e diferente da maioria naquele salão, eram todos humanos.

  — Ah sim, me parecem fortes, está de parabéns...

  — E esta quem é? — Ele se dirigiu a mim— Não me lembro de tê-la visto  por aqui antes...

  — Ah, me desculpe, esta é  Fernanda , minha esposa — Ele envolveu minha cintura com o braço — Fernanda, esse e Tylli , um velho amigo.

   Antes que um de nós dissesse alguma coisa o "gato" tocou o ombro de Keno, levei um pequeno susto pois não o havia visto entrar.

  —Perdão senhorita, não queria assustá-la. Senhor, há um amigo do senhor pedindo sua presença perto da cozinha.

  — Eu já volto querida — Disse olhando para mim, então voltou o rosto para o criado — Cuide dela até eu voltar.

  Keno passou um bom tempo longe, tentei puxar assunto com o criado mas suas repostas eram curtas e definitivas então deduzi que ele não estava afim de conversa. Os Tieflings que estavam ao nosso redor já estavam completamente bêbados, na mesa a nossa frente dois homens se abraçavam e diziam palavras aleatórias que não faziam sentido algum. As succubus andavam pelo luagar e vez ou outra algum tiefling subia com uma delas para o andar de cima . A festa continuou dessa forma até que Keno voltou, assim que se aproximou o criado saiu do banco ao meu lado e parou perto da porta, Keno se sentou e eu me aninhei em seu colo, estava com frio, sono e a cerveja estava começando a fazer efeito.

  Novamente foram servidas canecas de cerveja para nós dois, bebemos e conversamos um pouco sobre como estava a festa e quanto tempo ainda demoraria para o grande momento em que a lua estaria na posição certa. Keno parecia entediado, ele não estava acostumado a aproveitar a festa com uma "esposa" ao seu lado, parecia se sentir preso e não saber muito bem o que fazer.

  Em meio a toda aquela bagunça, mulheres quase nuas, demônios caindo de bêbados e aprendizes assustados e gargalhadas para todos os lados, Keno parecia outra pessoa, pede ter sido por causa da bebida que já me deixava alterada mas, senti uma vontade enorme de beija-lo e assim o fiz. No começo Keno parecia confuso mas logo retribuiu ao meu beijo, um beijo lento e suave quando nos afastamos ele me encarou com expressão confusa como se não me entendesse.

  — Não gostou? — Perguntei, e ao invés de responder ele puxou minha nuca para outro beijo, dessa vez mais demorado e mais calororso — É, parece que gostou.

  Nós dois começamos a rir, eu já havia bebido tanto que minha roupa e o fato de estar no colo de Keno não me deixavam mais envergonhada. Keno e eu estávamos conversando sobre a posição da lua quando de repente ouvimos um barulho de cadeiras caindo e um demônio xingando outro em uma língua que eu não conhecia. Keno se levantou para parar a briga, eu parei a uma certa  distancia dele, o demônio mais alto empurrou o mais baixo com tanta força que ele voou á cerca de 3 metros de distância e caiu sentado, todos no bordel pararam para olhar a briga, Keno se enfiou entre eles, o demônio ainda em pé era bem mais alto que Keno, o mais baixo se levantou e partiu para cima do outro, Keno o afastou com uma mão , ele virou o rosto bem a tempo de levar um soco na cara dado pelo demônio mais alto e cambaleou até cair para trás . Sem pensar fui ao encontro dele e me abaixei no chão sobre ele, os dois continuaram brigando atrás de nós Keno começou a se levantar, havia sangue escorrendo da base de seu chifre esquerdo, o mais alto veio em nossa direção para acerta-lo novamente, em me debrucei instintivamente sobre ele, o demônio estava mais perto mas quando seu punho ia tocar minhas costas algo o jogou para trás contra a parede. Me levantei e então Keno partiu para cima dele novamente, mas antes que pudesse alcança-lo ouviu-se o Velho Tiefling da porta gritar:

  — Está na hora , irmãos !

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